quarta-feira, setembro 28, 2011

Projeto de requalificação da vila de Vouzela

Já passava da uma da manhã, quando o presidente da Câmara de Vouzela deu por encerrado o debate sobre o projeto de requalificação da vila de Vouzela. Quase quatro horas, com uma assistência interessada que não calou dúvidas, críticas e aplausos. Se nenhum outro aspecto positivo tivesse havido, só este já tinha valido a pena. Mas houve. Tentemos dar uma ideia das alterações propostas, alertando, desde já, para o facto de não ter sido discutido nenhum dos temas polémicos que aqui temos abordado, a não ser uma breve referência ao alargamento da avenida João de Melo. Mas, vamos por partes.

Praça da República

Um dos principais objectivos das propostas apresentadas, é o de privilegiar o "estar" e o "passear" por toda a área do que se chama "centro histórico". Nesse sentido, impõem-se sérias limitações ao estacionamento e à circulação automóvel, criando ou alargando zonas pedonais. A Praça da República é uma das visadas.

Em todo o largo fronteiro à "Casa das Ameias", cria-se uma zona de estar, recuperando a noção de praça que, a pouco e pouco, se foi perdendo. Desaparece o famoso caixote do lixo que tão criticado tem sido, substituído por equipamento enterrado no solo e que se irá localizar junto ao muro. O pelourinho (colocado na praça já em pleno século XX) será deslocado mais para a frente, para uma nova configuração do passeio, mais largo, à frente do Café Central.

A nova localização do pelourinho tem por objectivo usá-lo como referência visual, passando para um espaço a criar, mais ou menos, no alinhamento da porta da biblioteca visivel na imagem. Isso só será possível, devido a um novo desenho do passeio à frente do Café Central, muito mais largo, permitindo ampliar a esplanada desse estabelecimento.

Rua Morais Carvalho

Como não podia deixar de ser, esta artéria foi uma das preocupações da proposta apresentada e, também, uma das mais polémicas. São conhecidas as dificuldades de circulação, quer para peões, quer para automóveis, numa rua cuja importância era evidente no seu nome inicial- "direita"- e que só conheceu passeios já com o século XX bem entrado. A solução agora encontrada foi limitá-la a sentido único descendente, alargando os passeios.

Continua a ser possível virar à direita na Rua Barão da Costeira (a seguir à farmácia) e...

... passa a ser obrigatório virar à direita na Correia de Oliveira (no sentido "Correios", "Cine-teatro"), não sendo permitido, a automóveis, atravessar a Praça Morais de Carvalho.

Praça Morais de Carvalho

Neste espaço, alarga-se a área exclusivamente dedicada a peões e impõem-se sérias restrições ao estacionamento. A entrada de automóveis passa a ser feita, exclusivamente, do lado da Ribeiro Cardoso (entrada na vila de quem vem pela A25).

Seguidamente, são obrigados a virar à direita, continuando em frente na direção da rua de São Frei Gil, ou à esquerda para a Ayres de Gouveia que vai ligar à avenida João de Melo.

Largos Conde Ferreira e do Convento

A proposta apresentada prevê, também, alterações significativas nos largos Conde Ferreira e do Convento. No primeiro, proibe-se o estacionamento e sublinha-se o desnível existente com a rua Barão da Costeira através da criação de um patamar ajardinado que liga à rua por uma escadaria. Assim sendo, todo o espaço visível na imagem passa a ser exclusivamente para peões.

Imagem pedida emprestada ao Postal de Vouzela

No largo do Convento é disciplinado o estacionamento e aumenta-se o espaço de circulação retirando o chafariz (para ali deslocado em 1937, depois de ter estado na praça da República) que vai ser colocado mais próximo do largo Conde Ferreira.

Estacionamento

Claro que tantas restrições ao estacionamento exigem alternativas. Ora, para os responsáveis pelo projecto, a solução está num espaço, privado, que se encontra entre a praça Morais Carvalho e a rua Dr. Gil Cabral. Pelo que foi dito, aí podem ser conseguidos perto de quarenta lugares. Esta localização, entre outras possíveis vantagens, tem a de servir a principal unidade hoteleira da vila. No entanto, este foi um dos temas mais polémicos.

Polémica

Quem já assistiu a debates sobre a regulação do trânsito em "centros históricos", sabe que um dos temas obrigatórios é o das possíveis consequências negativas para o comércio, das restrições à circulação automóvel e ao estacionamento. É um assunto delicado e de difícil abordagem, porque todas as comparações que se tentem, todos os argumentos que se avancem, não são suficientes para projectar certezas quanto a resultados futuros. Como não podia deixar de ser, esse foi um dos assuntos mais discutidos, tendo em conta as limitações previstas para a rua e para a praça Morais de Carvalho.

A solução proposta para o estacionamento, para além das dificuldades que pode encontrar no caso de haver oposição por parte do proprietário do terreno, pareceu excessivamente concentrada e insuficiente para satisfazer os habituais circuitos de quem usa o comércio da vila. Nesse sentido, foi sugerido que se tentasse encontrar nova oferta mais próxima da avenida João de Melo.

Um outro assunto várias vezes referido pela assistência, foi o do desvio do trânsito para as ruas do Bairro da Senra, situação que, na opinião de alguns, vai criar problemas por se tratar de uma zona onde já não é fácil circular.

Ao contrário do que os responsáveis pelo projeto pareciam esperar, não houve grandes críticas à mudança do pelourinho e do chafariz do largo do Convento, possivelmente por ser do conhecimento da maioria dos assistentes que já não há qualquer rigor histórico na sua localização atual.

Dúvidas

Para além de todas as que já referimos e, claro está, as relacionadas com o financiamento da obra, outra dúvida foi manifestada: a do momento escolhido para a apresentação deste projecto. Como o executivo camarário está a dois anos do final do mandato e o seu presidente não se pode voltar a candidatar, houve quem criticasse que não se tivesse avançado para este trabalho mais cedo, e alertasse para o risco de poder ser mais um condenado a não sair do papel.

Pela nossa parte, avançamos outras dúvidas. Será que o arranjo proposto para o largo do Convento ainda está a pensar na concretização do alargamento da João de Melo? Aliás, o próprio presidente da Câmara, mesmo não querendo abrir novas frentes de debate, referiu que esse projeto apenas tinha sido adiado. Mas a assistência também não perdeu a oportunidade para manifestar o seu desagrado...

Outra dúvida: por que motivo houve uma tão reduzida presença de eleitos locais neste debate?

Comentário final

Pelo que vimos e ouvimos, pareceu-nos estar perante uma boa base de trabalho que o diálogo com a população pode melhorar. A proposta de criação de uma bolsa de estacionamento mais próxima da avenida João de Melo parece-nos ser de considerar, na medida em que responde às necessidades de um dos mais movimentados centros de oferta de serviços da vila. Por outro lado, convém não facilitar nos pormenores da concretização do projecto (excesso de materiais, mobiliário urbano, etc.). Há, muitas vezes, uma tentação para "deixar assinatura", para "decorar", que se traduz num "excesso de intervenção" (expressão feliz que ouvimos da boca de um arquiteto, sobre as obras na envolvente da Igreja Matriz). Ora, a harmonia (ainda) existente em Vouzela entre todos os elementos que compõem a sua paisagem, deve ser o primeiro dos elementos disciplinadores de qualquer projeto de intervenção e o primeiro dos bens a preservar. Queremos que se recupere e, se possível, melhore o que temos. Não queremos ter outra coisa qualquer.
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PS: O relato que aqui deixamos, não é uma descrição exaustiva do que se passou na sessão do Auditório Municipal, do passado dia 22. Outros temas houve que mereceram a atenção dos presentes (maior oferta de parques infantis, por exemplo). A nossa preocupação foi, apenas, dar uma ideia do que mais pode mudar na vila de Vouzela, com a concretização deste projecto.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Estação de Oliveira de Frades


Estação do caminho de ferro... há umas décadas...

em sequência do excelente trabalho do CP há duas semanas....
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quinta-feira, setembro 22, 2011

É importante participar!


É já amanhã que vai ser apresentado o projecto de requalificação urbana da vila de Vouzela (pelas 21.30 horas no auditório Municipal). Consciente de que os únicos agentes da mudança são os cidadãos, a Câmara Municipal apelou a uma ampla participação. Fez bem. Pelo que nos diz respeito, lá estaremos.

Ao longo dos anos, este foi um dos assuntos a que o "Pastel de Vouzela" deu maior atenção. Apesar de continuarmos a ser reconhecidos como os que melhor preservaram o equilíbrio entre o natural e o edificado, não só não podemos esconder muitas feridas desnecessárias, como nunca rentabilizamos eficazmente essa imagem que todos os estudos mostram ser o "produto" com maior procura, a par dos pasteis. Mais: não esquecemos que, em tempo de "vacas gordas", muito disparate esteve projectado, numa ânsia de obra nova que, a concretizar-se, nos teria transformado noutra coisa qualquer, igual a tantas outras que por esse país fora são, hoje, a imagem do desperdício e do desleixo. Águas passadas? Assim esperamos.

Porque o nosso objectivo sempre foi dinamizar o debate e despertar o contraditório, aqui deixamos algumas modestas propostas que, sobre o assunto, fomos fazendo:

. Sobre o alargamento da Avenida João de Melo (aqui).
. Sobre a "Casa das Ameias" (aqui, aqui, aqui, aqui).
. Sobre a imagem da vila (aqui).
. Sobre a proteção das construções em pedra (aqui, aqui).
. Sobre o mito da necessidade de construção nova (aqui).
. Sobre "política de mobilidade" (aqui)

Simples ideias a custo zero, de quem deseja que a ferida que do Castelo se vê no Monte Cavalo, sirva de exemplo sobre o que não mais se pode fazer.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Rua Serpa Pinto - S. P. Sul


Vale a pena comparar com a imagem da Rua Serpa Pinto publicada em 25 Abril deste ano...
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segunda-feira, setembro 12, 2011

Linha do Vouga - Exploração rodoviária

A linha do Vale do Vouga era composta por 176 km. De Espinho a Viseu eram 141 km. Os outros 35 pertenciam ao ramal que ligava (e ainda liga) Sernada do Vouga a Aveiro.

A Linha do Vale do Vouga fazia ligações com outras companhias ferroviárias a operar em Portugal:
- em Aveiro e Espinho com a CP (Caminhos de Ferro Portugueses). Concessionária das linhas do estado, era a maior empresa ferroviária da metrópole.
- em Viseu com a CN (Caminhos de Ferro da Companhia Nacional). Esta linha que ligava Viseu a Santa Comba Dão era na realidade da CP mas estava arrendada à CN.

A Linha do Vale do Vouga (VV) era propriedade da Companhia Portuguesa para a Construção e Exploração de Caminhos de Ferro (CPCECF). De modo a ligar a Linha do Vale do Vouga à Linha do Douro (Caminhos de Ferro do Minho e Douro) foi concessionada à CPCECF uma ligação rodoviária entre S. Pedro do Sul e a Régua, passando por Lamego.

"Entre S. Pedro do Sul (V.V.) e Régua (M.D.) esta empresa explora tambem a viação automovel, tendo adquirido auto cars de 60 cavalos de força, trabalhando a gaz pobre produzido por carvão de madeira. A lotação de cada auto car é de 34 passageiros, podendo transportar bagagens e pequenos volumes e atingir a velocidade de 50 km. por hora". 
(in Manual Prático Profissional de Caminhos de Ferro).

 (Imagem de um auto car publicada no livro atrás referido)

 Era assim possível viajar da Régua para Viseu com transporte combinado de "auto car" e combóio através da concessionária da Linha do Vale do Vouga.

Foi no dia 12 de Setembro de 1932, faz precisamente hoje 79 anos que alguém viajou da Régua para Vizeu pela quantia de 18 escudos e 80 centavos utilizando o raríssimo bilhete que a seguir apresentamos.



A este assunto dos auto cars voltaremos brevemente com um pequeno artigo sobre a sua relação com as primeiras automotoras do mundo, que foram construídas em Portugal pelo pessoal da nossa Linha do Vouga, onde foram utilizadas.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Quinta do Paço de Moçâmedes

Suponho que do fim dos anos 1960.


quinta-feira, setembro 01, 2011

Reflectir sobre a região de Lafões no Facebook

Rio Vouga: um rico património comum a que todos viraram costas. Foto de José Campos.

Lafões é uma unidade geográfica e antropológica, com um património comum que interesses mais do que discutíveis foram dividindo, até se perder qualquer memória de cooperação. Perdeu-se muito e talvez o Vouga, esse importantíssimo recurso de todos e a quem todos viraram costas, seja a bandeira mais gritante de uma história triste.

Agora, não há dinheiro. Vendem-se as "pratas da família", põe-se mais água na sopa e... "descobre-se" o que há muito todos sabíamos: o poder local criou um monstro administrativo dificil de justificar e impossível de sustentar. Como habitualmente sucede, os mesmos que provocaram o problema, apressam-se a dar mostras de conhecerem a solução e eis que surge a ideia de fundir concelhos e freguesias. O assunto começou a ser falado em tempos anteriores à "troika" (ver também aqui) mas, claro está, ganhou outra dimensão quando por ela foi... "sugerido". O problema é que o remédio pode acabar com o doente se mais não for do que um amontoar de metros quadrados e de aparelhos. De facto, se o poder local nunca foi um efectivo poder de proximidade, o aumento da sua área de intervenção pode agravar o problema.

Para debater estes e outros assuntos, sempre com a região de Lafões no horizonte, foi criado um espaço de reflexão no Facebook . Vale a pena participar e tentar influenciar o curso dos acontecimentos. Lá em baixo, o Vouga aguarda pela memória dos homens...