quarta-feira, janeiro 30, 2013

Foto grafias

Foto de Guilherme Figueiredo, 2012

Nunca faltaram fotógrafos por estas paragens e talvez não seja por acaso. Homem e natureza juntaram-se, durante séculos, criando uma paisagem tão rica de pormenores que nos leva a entender cada momento como único e irrepetível. Por isso, somos tentados a guardá-lo. São ângulos para que se olha mil vezes e mil vezes nos apresentam algo de novo. Guardemo-lo, pois. Mais uma vez.


domingo, janeiro 27, 2013

Ora aí está

A imagem é má, mas fica a intenção. Notícias Magazine de 27 de Janeiro de 2013 e a coisa apresentava-se assim: "Vouzela, Paris, Porto, Lisboa... Não importa onde. As coisas boas acontecem em qualquer lugar (...)". De seguida, o destaque era para o Festival de Imagem de Natureza. Pois claro. Não basta estarmos no mapa. É preciso que ele esteja aberto no sítio certo.

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Um grande evento e uma importante lição

É já este fim-de-semana que se realiza, em Vouzela, o III Cinclus- Festival de Imgem de Natureza (consulte o programa, aqui). Criado pelo "nosso" João Cosme, é um exemplo das iniciativas que podem ajudar a promover a região e a contribuir para se organizar um calendário de atrações equilibradamente distribuído por todo o ano.

Não alimentemos ilusões. Os pasteis de Vouzela são um marco do nosso património gastronómico há muito reconhecido, mas não chegam para garantir um fluxo satisfatório de visitantes com significativo impacto nas algibeiras locais. O salto que é urgente dar, tem que encarar Vouzela, ela mesmo, como o principal "produto", com diversos centros de interesse associados às suas muitas potencialidades e com oferta bem distribuída, de modo a evitar as limitações da sazonalidade. Gastronomia, paisagem, património edificado, atividades tradicionais, podem servir para muito mais do que para animar passeios turísticos em épocas de temperaturas amenas.

Recorrendo a um dos muitos estudos sobre estas coisas, 60% do fluxo turístico mundial está relacionado com viagens e lazer, enquanto as deslocações associadas a questões profissionais, interesses de formação, etc., representam os restantes 40 %. No entanto, os que participam em "congressos, convenções e feiras, realizam uma despesa média três vezes superior à de um turista comum (...)".É este último "nicho" que está quase inexplorado em Vouzela e em que se integra o Festival de Imagem de Natureza.

Pois é. O João Cosme serve-se, legitimamente, da sua qualidade profissional, para convidar gente das mais variadas paragens a percorrer as nossas matas, as margens dos nossos rios, a riqueza das nossas quintas, para apreciarem a nossa biodiversidade. Depois, junta-os num encontro anual que já vai na sua terceira edição. Compram pasteis, provam a vitela, falam com as nossas gentes. Alguns vêm de véspera, muitos regressam. É, de facto, um grande evento, mas, sobretudo, uma enorme lição. Para quem quiser aprender.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Coelhos úteis

Sempre atentos à produção nacional, retirado daqui com a devida vénia. O original foi publicado no Diário de Lisboa de 19 de Janeiro de 1942.

sábado, janeiro 12, 2013

Há quem não vá ter direito a uma única linha na nossa História, mas ocupe demasiado tempo a dar-nos cabo da paciência

"Ando, aqui por Oliveira de Frades, um pouco de cara à banda, porque olho para o meu país e sinto-o, perigosamente, dividido em dois: de um lado, uma concentradíssima faixa litoral, do outro, grande parte do território a definhar, a perder gente, a desertificar-se. Este é o dilema que quero desvendar: porquê? (...)  Se tenho saudade dos Afonsos e dos Sanchos, do Dinis, que começaram a construir uma nação da serra ao mar, com forais, com póvoas marítimas, com feiras, com mecanismos de atracção e fixação de pessoas, recordo também Pombal que pensou em Lisboa e sua reconstrução, depois do devastador terramoto de 1755, mas não esqueceu Vila Real de Santo António e o seu pescado, a Covilhã e a tecelagem, o Douro e Carcavelos e os vinhos, a Marinha Grande e os vidros... Da outra malta que para aí tem andado, na Monarquia e na República, quase nem me lembro a este respeito. Talvez Fontes Pereira de Melo, em parte. Pouco mais. Imputo a essa gente que não tem cuidado a sério do meu país a responsabilidade por este desastre nacional"- In, Um país desalinhado, Frei do Gozo.

domingo, janeiro 06, 2013

Vouzela, 2013

 (Foto carregada através de telemóvel)

Vouzela, 2013. Do alto do Castelo continua a avistar-se o mundo. Não tarda e a variedade de castanhos que dominam o horizonte vai ser substituída pelas cores do renascer da primavera- começa a faltar o verde vivo das videiras. As mimosas vão florir, assim como os loendros, enquanto as águas dos rios fazem o seu curso, tropeçando aqui e além nos disparates dos homens. Ah, os homens! Há memória de santos e moiras encantadas, há obras de outros tempos que registam o que fomos, há, sobretudo, saudade. Mas temos a desagradável sensação de não haver presente. Pior do que isso, muitos já não acreditam conseguir encontrar os caminhos do futuro, como se, ao contrário da natureza, estivéssemos condenados a um inverno permanente. Não estamos.

O ano que agora se inicia, tanto pode ser o fim de um ciclo, como a sua continuação. Depende de nós. Com eleições autárquicas marcadas para outubro, tanto podemos exigir que os candidatos se vinculem a objetivos precisos e claros, como podemos deixar que tudo continue como dantes, assistindo à tradicional feira de vaidades de desfile de nomes sem ideias e, sobretudo, sem compromissos. Os estudos de opinião que circulam por Vouzela, mostram que há quem se esforce por manter a aldrabice da primeira opção. Cabe aos vouzelenses a última palavra, na certeza de que a inversão da atual caminhada para o abismo, exige muito mais do que voluntarismo e uma lista telefónica recheada de contactos sonantes. Exige estudo que permita identificar a causa das coisas e perceber qual a margem de manobra que nos resta.

Anos 50: o fim de uma época

No anos 50, ainda por aqui se faziam sentir alguns dos efeitos da época do volfrâmio que, por exemplo, justificavam que fossem das freguesias da mineração o maior número de registos de viaturas automóveis do concelho. Mesmo assim, a indústria hoteleira local sentia já inequívocos sinais de crise, confirmada pela subida dos números da emigração. Com uma agricultura em minifúndio e de nula rentabilidade, era muita a mão-de-obra excedentária. Mesmo assim, em 1957 existiam 32 escolas no concelho (7 femininas, 7 masculinas e 18 mistas) e 17 "postos escolares", frequentados por 1668 crianças (890 rapazes e 778 raparigas).
 
Na mesma década, projetava-se a construção de um "santuário" e de um lago artificial no Castelo (1), discutia-se um plano de urbanização que previa um hotel em frente de outro já existente (o Mira Vouga) e um "bairro operário", o que levava o Notícias de Vouzela a chamar a atenção, com alguma ironia, para o facto de não existirem fábricas que o justificassem. Foi, ainda, nos anos 50 que, com o apoio de emigrantes do Brasil, se relançou a Associação de Futebol "Os Vouzelenses" e que outros emigrantes ilustres, os irmãos Pimenta, lançaram a idea da construção do "Prédio das Coletividades" (atual sede dos bombeiros), projeto que foi aproveitado para abrir artérias e novas zonas de expansão da vila. Na verdade, Vouzela agarrava-se desesperadamente ao poder económico dos seus emigrantes, em busca de alternativa a uma época que sentia terminar.
  
Os Planos de Fomento e o fracasso da reforma da agricultura

Neste mesmo período, a política económia nacional foi dominada pelo lançamento dos "Planos de Fomento" (Lei 2058, de 1953). Neles se foi assistindo ao aumento da influência dos que defendiam um maior investimento na industrialização do país, mas, simultaneamente, ao progressivo abandono de qualquer tentativa de reformar a agricultura e, sobretudo, a propriedade rural, projeto constantemente travado pelos grandes agrários. Aliás, a influência e a agressividade deste grupo, talvez justifique alguma da indiferença que os "engenheiros" (como eram popularmente designados os partidários da industrialização) demonstraram pelo problema agrário português (2).


O capítulo seguinte desta história, é conhecido: entre 1960 e 1970, mais de um milhão de portugueses foi obrigado a emigrar. No mesmo período, Vouzela perdeu mais de 2 mil habitantes, iniciando aí um processo de despovoamento que vem até aos nossos dias. Se olharmos para os dados  estatísticos de São Pedro do Sul ou de Oliveira de Frades, vemos que eles nos contam a mesma história. Entre 1960 e 2011, os três concelhos perderam 13120 habitantes, sendo Oliveira de Frades o que, apesar de tudo, registou menor oscilação (5,4%), descendo de 10858 habitantes em 1960, para 10261 em 2011.

A "origem" dos nossos males 
  
Claro que muita água correu desde então, muita "orientação estratégica" e, sobretudo, muitos "fundos". Mas em todo este processo não só nunca se resolveu o problema da agricultura e da propriedade do solo, como antes se procuraram aproveitar as suas fragilidades. E é aqui  que, talvez, devamos procurar a "origem" dos nossos males. O processo crítico vivido por Vouzela, não foi diferente do que viveram terras com as mesmas características, enredadas no drama de ausência de alternativas a uma agricultura de pouco valor acrescentado, incapazes de desenvolver ou atrair atividades económicas que, de forma consistente, empregassem os excedentes do setor agrícola em crise e fixassem população. A opção selvagem pela construção, também está relacionada com este fenómeno (embora não tenha nele a sua única justificação), pela facilidade de integração de uma mão-de-obra pouco qualificada.

Dos três concelhos de Lafões, aquele em que foi mais visível este uso da construção civil como compensação ao abandono da agricultura, foi Oliveira de Frades. Daí resultou também ser nesse concelho que, mais cedo,  se perceberam as consequências de  não se conseguir compatibilizar a opção industrial com a preservação dos aspetos mais significativos do seu património cultural. A verdade é que, apesar de tudo, Oliveira de Frades não beneficiou da crise dos vizinhos e não conseguiu evitar a quebra populacional, nem um índice de envelhecimento superior à média nacional.

Vivemos, pois, a parte final de uma história de erros estruturais cometidos e sentidos em todo o país e que, no fundamental, foi contada com o mesmo enredo em todas as regiões do interior. Ao longo dos tempos, foram acrescentados outros erros que agravaram a situação e retiraram coerência ao território (3), mas a parte mais triste, manteve-se: abandonaram-se atividades em vez de se estudarem melhores práticas; ignoraram-se recursos, em vez de os rentabilizar; preferiu-se o exibicionismo do jogo de influências à ação coletiva. Um pouco na linha dos disparates cometidos noutras épocas históricas, permitimos que nos impusessem a atitude daqueles afortunados herdeiros que, tendo recebido rico património, se limitaram a delapidá-lo, contentando-se em abandonar, sucessivamente, os salões onde o telhado começava a meter água, em vez de aprenderem a mudar as telhas.

O que vai estar em causa nas próximas eleições para as autarquias locais, é saber quem tem o engenho necessário para começar a "mudar as telhas", independentemente de ser "loiro" ou "moreno". Importa, pois, por á prova a arte do "operário", antes de lhe garantir emprego. 

Do alto do Castelo continua a avistar-se o mundo, umas vezes em límpidos e amplos horizontes, outras encoberto por uma neblina que só aos poucos deixa adivinhar o verdadeiro contorno das coisas. Talvez seja esse o problema. No alto do Castelo, tanto nos podemos sentir acima das núvens, como ter noção da imensidão da queda.
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(1)- Notícias de Vouzela de 16 de Janeiro de 1957.
(2)- Numa altura em que alguns defendem que há reformas que exigem a "suspensão da democracia", é importante saber que a do emparcelamento e reemparcelamento da propriedade rural, nem a ditadura conseguiu concretizar. Sobretudo, é importante perceber porquê.
(3)- Sem qualquer espécie de "bairrismo", a "promoção" de São Pedro do Sul a cidade, foi uma medida que se limitou a "fazer festas" nalguns egos de maior influência, mas que revela uma enorme ignorância sobre o significado histórico de cidade, numa região em que existem duas bem consolidadas (Aveiro e Viseu), separadas por algumas dezenas de quilómetros e com boas vias de comunicação.