quinta-feira, novembro 25, 2010

E se acabassem com o nosso concelho?

Doisneau

E se acabassem os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e São Pedro do Sul? Não se trata de um mero cenário hipotético, mas antes de um risco real que alguns disparates cometidos pelo poder local podem facilitar e que, no contexto actual, será sempre contrário aos interesses dos cidadãos.

O assunto é falado. É transversal aos dois maiores partidos políticos, apesar de algumas individualidades defenderem posição contrária. Portugal tem 18 distritos, 308 concelhos, 4260 freguesias e 2 regiões autónomas. Num contexto de crise económica em que a população vê ainda mais ameaçados os seus já magros rendimentos, é fácil fazer passar qualquer ideia que se apresente com a justificação da poupança. O facto de muitos autarcas terem alimentado a suspeita de protegerem interesses duvidosos, só agrava o problema.

No entanto, é preciso reconhecer que a divisão administrativa do país mudou muito ao longo dos tempos e que raramente obedeceu a critérios claros de gestão de recursos comuns e/ou complementares. Basta olhar para a reforma administrativa de Mouzinho da Silveira (inspirada no modelo francês e preocupada com o reforço do aparelho central do Estado) e avançar até aos nossos dias, para o percebermos. Só na região de Lafões, entre 1832 e 1900, quase não houve ano algum em que não surgissem alterações.

Então qual é o problema de uma eventual reforma que extinga/funda freguesias e até concelhos? O actual modelo do poder local! Quando o Dr. Ruas o apelida de "poder de proximidade", reconhece-se o sentido de humor, mas sabemos que pouco ou nada tem que ver com a realidade. Com poderes excessivamente concentrados nos executivos e com um controlo democrático limitado a assembleias sem capacidade efectiva para o fazerem, as nossas autarquias locais são as menos democráticas de todas as estruturas de poder existentes em Portugal. E não é pelo facto de nos podermos cruzar com o presidente da Câmara no café, que o sentimos mais "próximo"...

Por isso mesmo, dizemos que, no actual contexto e sem alterarmos primeiro o modelo do poder local, uma reforma destas só vai reforçar o afastamento em relação aos cidadãos, reduzindo, ainda mais, a sua capacidade de intervenção. Mas, cuidado! Se nos recordarmos do que andou a ser combinado entre PS e PSD para alterar a Lei Eleitoral para as Autarquias Locais, depressa concluimos que isto não é assunto para se deixar ao critério de "aparelhos". O que está em jogo é demasiado importante. Para nós e para "eles".

5 comentários:

MR disse...

...só falta tirar isso...

Fausto Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fausto Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fausto Carvalho disse...

O concelho não vai acabar.Não é nenhuma verdade profética, trata-se de uma opinião. O que seria útil, a nível local, era potenciar a intermunicipalidade no sentido de ganhos colectivos. Os concelhos pequenos, fora das centralidades, só podem subsistir com parcerias que, objectivamente, em Lafões são letra de discurso político mas de prática quase que inexistente. Fala-se muito,às vezes bem, mas realiza-se colectivamente muito pouco. O peso político de uma Região em uníssono, junto do poder central, seria mais efectivo do que hoje um concelho, como o de Vouzela, consegue isoladamente. Este caminho, difícil, urge construir...

Zé Bonito disse...

Fausto:

O concelho já "acabou", diminuiu e aumentou várias vezes ao longo dos tempos. O facto de não haver tradição de acção conjunta entre Oliveira, Vouzela e São Pedro,só agrava o problema: fragiliza-nos (como ficou provado no processo dos serviços de Saúde, na reorganização da rede escolar e na sussurrada reforma dos tribunais)e, pior do que isso, põe-nos à mercê das influências que, pontualmente, cada um vai conseguindo junto do poder central. O que se exigia, era muito mais do que "parcerias": era o assumir a região de Lafõs como património comum, com recursos comuns que deviam ser cuidados pelos três concelhos (o Vouga, por exemplo); era entender a região como um conjunto complementar e acabar com as "guerrinhas saloias" da inveja; era perceber que o planeamento dos serviços tem que ser pensado para o conjunto dos cerca de 40 mil habitantes da região e não cada um por si. Basta ler os jornais locais, para perceber que nada disto é assim e que os responsáveis autárquicos não fazem a mais pequena ideia de como trilhar este caminho. Nem querem!

Diz o Fausto que se fala muito, mas que se realiza pouco. Não fazemos uma avaliação tão favorável. O debate local é praticamente inexistente ou, quando muito, limita-se a reacções perante factos consumados. Podemos começar a fazer esse balanço pelo programa dos partidos que são de uma "pobreza franciscana" e não vinculam sobre coisa alguma. Ora, antes de agir, importa reflectir, discutir. É aquela anedota comparativa entre Portugal e os países do Norte da Europa: nestes, demora-se um ano a planear e um mês a concretizar; aqui, demora-se um mês a pensar e um ano a fazer (e às vezes dois ou três; e às vezes até se deseja a destruição do que se fez...).
Por isso, há que falar. Muito!

Abraço