Projeto de requalificação da vila de Vouzela
Já passava da uma da manhã, quando o presidente da Câmara de Vouzela deu por encerrado o debate sobre o projeto de requalificação da vila de Vouzela. Quase quatro horas, com uma assistência interessada que não calou dúvidas, críticas e aplausos. Se nenhum outro aspecto positivo tivesse havido, só este já tinha valido a pena. Mas houve. Tentemos dar uma ideia das alterações propostas, alertando, desde já, para o facto de não ter sido discutido nenhum dos temas polémicos que aqui temos abordado, a não ser uma breve referência ao alargamento da avenida João de Melo. Mas, vamos por partes.
Praça da República
Um dos principais objectivos das propostas apresentadas, é o de privilegiar o "estar" e o "passear" por toda a área do que se chama "centro histórico". Nesse sentido, impõem-se sérias limitações ao estacionamento e à circulação automóvel, criando ou alargando zonas pedonais. A Praça da República é uma das visadas.
Em todo o largo fronteiro à "Casa das Ameias", cria-se uma zona de estar, recuperando a noção de praça que, a pouco e pouco, se foi perdendo. Desaparece o famoso caixote do lixo que tão criticado tem sido, substituído por equipamento enterrado no solo e que se irá localizar junto ao muro. O pelourinho (colocado na praça já em pleno século XX) será deslocado mais para a frente, para uma nova configuração do passeio, mais largo, à frente do Café Central.
A nova localização do pelourinho tem por objectivo usá-lo como referência visual, passando para um espaço a criar, mais ou menos, no alinhamento da porta da biblioteca visivel na imagem. Isso só será possível, devido a um novo desenho do passeio à frente do Café Central, muito mais largo, permitindo ampliar a esplanada desse estabelecimento.
Rua Morais Carvalho
Como não podia deixar de ser, esta artéria foi uma das preocupações da proposta apresentada e, também, uma das mais polémicas. São conhecidas as dificuldades de circulação, quer para peões, quer para automóveis, numa rua cuja importância era evidente no seu nome inicial- "direita"- e que só conheceu passeios já com o século XX bem entrado. A solução agora encontrada foi limitá-la a sentido único descendente, alargando os passeios.
Continua a ser possível virar à direita na Rua Barão da Costeira (a seguir à farmácia) e...Rua Morais Carvalho
Como não podia deixar de ser, esta artéria foi uma das preocupações da proposta apresentada e, também, uma das mais polémicas. São conhecidas as dificuldades de circulação, quer para peões, quer para automóveis, numa rua cuja importância era evidente no seu nome inicial- "direita"- e que só conheceu passeios já com o século XX bem entrado. A solução agora encontrada foi limitá-la a sentido único descendente, alargando os passeios.
... passa a ser obrigatório virar à direita na Correia de Oliveira (no sentido "Correios", "Cine-teatro"), não sendo permitido, a automóveis, atravessar a Praça Morais de Carvalho.
Praça Morais de Carvalho
Neste espaço, alarga-se a área exclusivamente dedicada a peões e impõem-se sérias restrições ao estacionamento. A entrada de automóveis passa a ser feita, exclusivamente, do lado da Ribeiro Cardoso (entrada na vila de quem vem pela A25).
Seguidamente, são obrigados a virar à direita, continuando em frente na direção da rua de São Frei Gil, ou à esquerda para a Ayres de Gouveia que vai ligar à avenida João de Melo.
Largos Conde Ferreira e do Convento
A proposta apresentada prevê, também, alterações significativas nos largos Conde Ferreira e do Convento. No primeiro, proibe-se o estacionamento e sublinha-se o desnível existente com a rua Barão da Costeira através da criação de um patamar ajardinado que liga à rua por uma escadaria. Assim sendo, todo o espaço visível na imagem passa a ser exclusivamente para peões.
No largo do Convento é disciplinado o estacionamento e aumenta-se o espaço de circulação retirando o chafariz (para ali deslocado em 1937, depois de ter estado na praça da República) que vai ser colocado mais próximo do largo Conde Ferreira.
Estacionamento
Estacionamento
Claro que tantas restrições ao estacionamento exigem alternativas. Ora, para os responsáveis pelo projecto, a solução está num espaço, privado, que se encontra entre a praça Morais Carvalho e a rua Dr. Gil Cabral. Pelo que foi dito, aí podem ser conseguidos perto de quarenta lugares. Esta localização, entre outras possíveis vantagens, tem a de servir a principal unidade hoteleira da vila. No entanto, este foi um dos temas mais polémicos.
Polémica
Quem já assistiu a debates sobre a regulação do trânsito em "centros históricos", sabe que um dos temas obrigatórios é o das possíveis consequências negativas para o comércio, das restrições à circulação automóvel e ao estacionamento. É um assunto delicado e de difícil abordagem, porque todas as comparações que se tentem, todos os argumentos que se avancem, não são suficientes para projectar certezas quanto a resultados futuros. Como não podia deixar de ser, esse foi um dos assuntos mais discutidos, tendo em conta as limitações previstas para a rua e para a praça Morais de Carvalho.
A solução proposta para o estacionamento, para além das dificuldades que pode encontrar no caso de haver oposição por parte do proprietário do terreno, pareceu excessivamente concentrada e insuficiente para satisfazer os habituais circuitos de quem usa o comércio da vila. Nesse sentido, foi sugerido que se tentasse encontrar nova oferta mais próxima da avenida João de Melo.
Um outro assunto várias vezes referido pela assistência, foi o do desvio do trânsito para as ruas do Bairro da Senra, situação que, na opinião de alguns, vai criar problemas por se tratar de uma zona onde já não é fácil circular.
Ao contrário do que os responsáveis pelo projeto pareciam esperar, não houve grandes críticas à mudança do pelourinho e do chafariz do largo do Convento, possivelmente por ser do conhecimento da maioria dos assistentes que já não há qualquer rigor histórico na sua localização atual.
Dúvidas
Para além de todas as que já referimos e, claro está, as relacionadas com o financiamento da obra, outra dúvida foi manifestada: a do momento escolhido para a apresentação deste projecto. Como o executivo camarário está a dois anos do final do mandato e o seu presidente não se pode voltar a candidatar, houve quem criticasse que não se tivesse avançado para este trabalho mais cedo, e alertasse para o risco de poder ser mais um condenado a não sair do papel.
Pela nossa parte, avançamos outras dúvidas. Será que o arranjo proposto para o largo do Convento ainda está a pensar na concretização do alargamento da João de Melo? Aliás, o próprio presidente da Câmara, mesmo não querendo abrir novas frentes de debate, referiu que esse projeto apenas tinha sido adiado. Mas a assistência também não perdeu a oportunidade para manifestar o seu desagrado...
Outra dúvida: por que motivo houve uma tão reduzida presença de eleitos locais neste debate?
Comentário final
Pelo que vimos e ouvimos, pareceu-nos estar perante uma boa base de trabalho que o diálogo com a população pode melhorar. A proposta de criação de uma bolsa de estacionamento mais próxima da avenida João de Melo parece-nos ser de considerar, na medida em que responde às necessidades de um dos mais movimentados centros de oferta de serviços da vila. Por outro lado, convém não facilitar nos pormenores da concretização do projecto (excesso de materiais, mobiliário urbano, etc.). Há, muitas vezes, uma tentação para "deixar assinatura", para "decorar", que se traduz num "excesso de intervenção" (expressão feliz que ouvimos da boca de um arquiteto, sobre as obras na envolvente da Igreja Matriz). Ora, a harmonia (ainda) existente em Vouzela entre todos os elementos que compõem a sua paisagem, deve ser o primeiro dos elementos disciplinadores de qualquer projeto de intervenção e o primeiro dos bens a preservar. Queremos que se recupere e, se possível, melhore o que temos. Não queremos ter outra coisa qualquer.
____________________________
PS: O relato que aqui deixamos, não é uma descrição exaustiva do que se passou na sessão do Auditório Municipal, do passado dia 22. Outros temas houve que mereceram a atenção dos presentes (maior oferta de parques infantis, por exemplo). A nossa preocupação foi, apenas, dar uma ideia do que mais pode mudar na vila de Vouzela, com a concretização deste projecto.
Polémica
Quem já assistiu a debates sobre a regulação do trânsito em "centros históricos", sabe que um dos temas obrigatórios é o das possíveis consequências negativas para o comércio, das restrições à circulação automóvel e ao estacionamento. É um assunto delicado e de difícil abordagem, porque todas as comparações que se tentem, todos os argumentos que se avancem, não são suficientes para projectar certezas quanto a resultados futuros. Como não podia deixar de ser, esse foi um dos assuntos mais discutidos, tendo em conta as limitações previstas para a rua e para a praça Morais de Carvalho.
A solução proposta para o estacionamento, para além das dificuldades que pode encontrar no caso de haver oposição por parte do proprietário do terreno, pareceu excessivamente concentrada e insuficiente para satisfazer os habituais circuitos de quem usa o comércio da vila. Nesse sentido, foi sugerido que se tentasse encontrar nova oferta mais próxima da avenida João de Melo.
Um outro assunto várias vezes referido pela assistência, foi o do desvio do trânsito para as ruas do Bairro da Senra, situação que, na opinião de alguns, vai criar problemas por se tratar de uma zona onde já não é fácil circular.
Ao contrário do que os responsáveis pelo projeto pareciam esperar, não houve grandes críticas à mudança do pelourinho e do chafariz do largo do Convento, possivelmente por ser do conhecimento da maioria dos assistentes que já não há qualquer rigor histórico na sua localização atual.
Dúvidas
Para além de todas as que já referimos e, claro está, as relacionadas com o financiamento da obra, outra dúvida foi manifestada: a do momento escolhido para a apresentação deste projecto. Como o executivo camarário está a dois anos do final do mandato e o seu presidente não se pode voltar a candidatar, houve quem criticasse que não se tivesse avançado para este trabalho mais cedo, e alertasse para o risco de poder ser mais um condenado a não sair do papel.
Pela nossa parte, avançamos outras dúvidas. Será que o arranjo proposto para o largo do Convento ainda está a pensar na concretização do alargamento da João de Melo? Aliás, o próprio presidente da Câmara, mesmo não querendo abrir novas frentes de debate, referiu que esse projeto apenas tinha sido adiado. Mas a assistência também não perdeu a oportunidade para manifestar o seu desagrado...
Outra dúvida: por que motivo houve uma tão reduzida presença de eleitos locais neste debate?
Comentário final
Pelo que vimos e ouvimos, pareceu-nos estar perante uma boa base de trabalho que o diálogo com a população pode melhorar. A proposta de criação de uma bolsa de estacionamento mais próxima da avenida João de Melo parece-nos ser de considerar, na medida em que responde às necessidades de um dos mais movimentados centros de oferta de serviços da vila. Por outro lado, convém não facilitar nos pormenores da concretização do projecto (excesso de materiais, mobiliário urbano, etc.). Há, muitas vezes, uma tentação para "deixar assinatura", para "decorar", que se traduz num "excesso de intervenção" (expressão feliz que ouvimos da boca de um arquiteto, sobre as obras na envolvente da Igreja Matriz). Ora, a harmonia (ainda) existente em Vouzela entre todos os elementos que compõem a sua paisagem, deve ser o primeiro dos elementos disciplinadores de qualquer projeto de intervenção e o primeiro dos bens a preservar. Queremos que se recupere e, se possível, melhore o que temos. Não queremos ter outra coisa qualquer.
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PS: O relato que aqui deixamos, não é uma descrição exaustiva do que se passou na sessão do Auditório Municipal, do passado dia 22. Outros temas houve que mereceram a atenção dos presentes (maior oferta de parques infantis, por exemplo). A nossa preocupação foi, apenas, dar uma ideia do que mais pode mudar na vila de Vouzela, com a concretização deste projecto.
12 comentários:
Excelente explanação. Não assisti à reunião mas foi como se o tivesse feito, depois da sua leitura. Parabéns ao autor!
Assim, de momento, surge-me como local apropriado para um parque de estacionamento,um terreno que foi do Padre Jacinto, entre os Bombeiros e a Igreja Matriz, criando-se uma boa cortina arbórea do lado da Igreja.
Augusto Rodrigues
De facto, mesmo quem não tenha assistido à reunião através deste texto fica a perceber todo o projecto. Também aplaudo o autor!
No entanto, como estive presente na reunião, fiquei a entender que a Rua Barão da Costeira passaria a ser exclusivamente pedonalizada, apenas permitindo a sua utilização para cargas e descargas. O acesso seria limitado por dissuasores de trânsito retracteis (mas o sr. arq.º apenas referiu os que existiriam na parte de cima desta mesma rua, esperando que a plateia percebesse as restantes implicações!). Sendo o largo Conde Ferreira um espaço eminentemente pedonal - pequena praça, esta rua - Barão da Costeira, viria no seguimento dessa área dando às pessoas mais um espaço de livre circulação (pedonal).
Isto foi a minha percepção. Posso estar enganado, mas espero sinceramente que não!!
Pedro:
Agora deixou-me na dúvida, até porque não tive acesso ao projecto, para além do que foi dito e apresentado na sessão. Mas, se a sua ideia se confirmar, então a rua que vem entroncar na Correia de Oliveira (a do restaurante "Forno do Rei") também passa a pedonal.
Muito bom texto.
Supondo que se fazem as consultas que se devem fazer, que se chega a consensos e se acertam todos os pormenores, qual seria o prazo expectável para se iniciarem as obras?
CP:
Pelo que foi dito pelo presidente da Câmara, dois anos. Para além de todo o processo de financiamento, é preciso esperar pelos pareceres do IGESPAR. Depois, obras faseadas.
Excelente descrição da reunião de apresentação do projeto reabilitação da vila. Também entendi, tal como o Pedro, que o trânsito seria suprimido ma rua Barão da Costeira. Tal facto, assim depreendi, ocorrerá devido ao alargamento de passeios na rua Morais de Carvalho que impedirá ângulo de viragem automóvel para a Barão.
Obrigado pela explanação, que é bastante elucidativa. Reconheço que não é fácil resolver o problema do trânsito na vila e penso que se torna necessária uma intervenção de fundo. Mas, pessoalmente, tenho as maiores dúvidas quanto ao desvio obrigatório do trânsito na Praça Morais Carvalho para a Aires Gouveia (Rua do Rego). É que, a maior intensidade de trânsito é mesmo nesse sentido e estar naquela Praça a ver passar constantemente automóveis ...
Espero e desejo que os governantes do concelho e da vila saibam manter a vila o mais próximo possível da sua história e estética original, bem como, a alterar, que seja para a tornar mais funcional, não para a descaracterizar.
Tiago Marques Ferreira
Totalmente de acordo, Tiago.
Abraço
Tiago, tens toda a razão e o díficil é mesmo isso: alterar sem descaracterizar, respeitando a história e a estética original. Espero, sinceramente, que impere o bom senso e se resista à tentação de querer deixar uma "marca" de gestão.
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