quinta-feira, janeiro 07, 2010

Reabilitar é preciso

Há edifícios que marcam épocas da História das localidades; edifícios que são marcas das vontades de movimentos significativos que fizeram história. Não precisam ser obras de arte de reconhecido valor mundial- precisam, apenas, de explicar o que somos e contribuir para o equilíbrio paisagístico que (ainda) temos. É a isso que se chama património edificado e há localidades que têm a sorte de o possuírem em número significativo. É o nosso caso. No entanto, se tem havido algum cuidado com os monumentos nacionais (nalguns casos bem discutível, como sucedeu com o restauro da Igreja Matriz) e os imóveis classificados como de interesse público (Pelourinho e torre de Vilharigues, por exemplo), já o mesmo não se pode dizer de outros edifícios, maioritariamente privados, que, apesar da sua simplicidade (ou por causa dela), são pilares fundamentais da imagem que temos.

Vouzela necessita, urgentemente, de obras de reabilitação e restauro. Não se trata de um gasto, mas sim de um investimento, se entendermos que a harmonia entre o natural e o edificado, é um dos seus principais recursos. Mais ainda, se percebermos que é uma forma de criar emprego e de aumentar o nível de exigência na oferta da construção civil, para que basta encontrar os estímulos adequados.

Serração

Antes e... o que resta

A serração era das mais antigas unidades industriais do concelho, localizada mesmo em frente da estação dos caminhos de ferro, numa altura em que isso marcava o fim da vila para o lado nascente. Mais tarde, o crescimento da malha urbana envolveu-a, valorizando os seus terrenos e tornando-os num negócio mais apetecível do que a continuação da actividade (que já tinha parado há algum tempo). Uma equipa camarária anterior, permitiu a urbanização do espaço-criou-se um problema. Falou-se da vontade de uma grande superfície ali se instalar, falou-se da
construção de um prédio de não sei quantos andares que a Câmara não autorizou- fez bem. Mal esteve (e está) quem demoliu a fachada, quem o permitiu e permite que se mantenha no estado que se vê. Salvo melhor opinião, qualquer projecto devia incluir os elementos mais característicos da unidade industrial que lá existiu. Assim como tudo isso devia estar devidamente classificado. Devia...

Mesmo ao lado da Câmara


Cá está um exemplo do que dissemos na introdução a este tema: este edifício, (composto por duas moradias geminadas) localizado na Rua Sidónio Pais, apesar de não ser um significativo exemplar de uma qualquer corrente arquitectónica, reflecte uma forma de habitar típica das primeiras décadas do século passado, em que a moradia "burguesa" era ladeada por um quintal que convidava à organização de uma pequena horta para consumo doméstico e, na cave, ainda tinha a tradicional "loja". A primeira das duas habitações está desocupada há muito e os sinais de degradação são evidentes. Desconhecemos as causas, mas, apesar de estar mesmo ao lado da Câmara Municipal, parece que ainda ninguém reparou...

Casa das Ameias... sempre


Sobre esta, quase tudo está dito. Há quem afirme que o edifício original remonta ao século XV e, de acordo com os estudos feitos por Lopes da Costa, aqui ficava a rainha D. Amélia durante os períodos de férias em que se deslocava às Termas. Marca, desde há muito, a imagem de uma das zonas mais frequentadas da vila. Para o bem e para o mal. E mal continua, depois de uma avaliação técnica ter concluído ser necessária uma intervenção urgente e de, recentemente, o actual usufrutuário ter destruído as ilusões da Câmara sobre a possibilidade de ser ele a avançar com uma solução para o problema. Pela nossa parte, até fizemos uma sondagem sobre a sua utilização, depois de um leitor ter dado a entender que ninguém sabia o que fazer com o edifício, caso a autarquia local dele tomasse posse. Concluiu-se que ideias não faltam-o que falta é vontade para acabar com desculpas e, de uma vez por todas, resolver o problema.

Os exemplos aqui referidos não são únicos. Infelizmente. Por um qualquer motivo que desconhecemos, tem havido uma falta de preocupação com a sede do concelho, que permitiu que se chegasse ao estado actual. Nalguns casos, acreditamos que os proprietários necessitem de ajuda para recuperar os seus edifícios. Noutros, não. A verdade é que nada se fez em relação a qualquer deles. É pena, porque urge recuperar a imagem da vila. Reabilitar é preciso.

6 comentários:

BE Vouzela disse...

Acredito que existam ideias, acredito que exista vontade mas por alguma razão ou outra, não se vê nada.
Todos sabemos, obviamente, o estado deplorável das contas da câmara municipal. Sabemos que a dívida triplicou em relação ao que tanto criticavam no prof Paulo. (faça-se a justiça que foi dos melhores presidentes que passou em Vouzela)
Quero é ver acções em Vouzela, quero ver a minha vila desenvolvida, não quero perder o comboio em relação ás restantes vilas de Lafões. Vouzela não precisa de bicos de pés como São Pedro do Sul em relação à sua designação de "vila" para "cidade", Vouzela é uma boa zona para viver, uma boa zona para passear, precisa é saber cativar as pessoas.

Se calhar, essa mesma motivação, passaria por começar a investir na vila.
Não deixar fugir, mais uma vez, superfícies que possam gerar dinheiro na vila. Sabemos que não há nenhuma superfície comercial grande porque os lojistas de Vouzela não deixam. Mas pergunto: quem ainda vai fazer as compras mensais ao comércio tradicional? Apenas e só os velhotes que não se podem deslocar. Em que mudaria isso em relação a ter uma maior superfície? Acho que não mudaria nada porque as pessoas continuavam fiéis e continuavam a comprar as poucas coisa e as coisas urgentes, no seu supermercado de sempre. É óbvio que, os comerciantes ganham e bem com a não instalação de uma superfície destas.
Uma vez, num puro exercício de curiosidade, consegui ver um produto a custar mais 2€, sim 2€, em relação a uma superfície comercial maior e instalada em oliveira de Frades. E suponho que o supermercado maior, também ganhe alguma coisa.

Tudo isto, porque a serração tinha sido demolida na promessa, das bocas de muita gente da câmara, de que seria para uma superfície comercial (ouviu-se falar no Pingo Doce) e depois, estranhamente ficou parado. Sabendo-se depois do abaixo-assinado movido pelos comerciantes em Vouzela.

É preciso alargar horizontes, deixar de pensar no umbigo.

PS - Afinal aqui o rapaz do BE não é radical como muitos pensavam.

PS2 - Espero que seja abordado nuns próximos posts, a falta de opções para o pessoal jovem do concelho.

Zé Bonito disse...

BE:
Há quanto tempo!!! Antes de mais, um bom ano.

Numa região como Lafões, as principais localidades têm que saber complementar-se. O facto de não haver grandes superfícies, tendo-as a uma distância de 8 Km., não é, em si mesmo, um problema. Um problema, é querer vender o que vendem as grandes superfícies, sem a sua capacidade financeira. O problema do comércio de Vouzela é este (ou, pelo menos, este é um deles). Não se afirma pela diferença e não tem capacidade financeira para concorrer com os preços praticados pelas grandes superfícies. Já reparou que não encontra, no centro da vila, produtos que assumam a sua origem na região? Já reparou que um turista que procure produtos do artesanato local, não os encontra em Vouzela? Já contou o número de estabelecimentos que se dedicam exactamente à mesma coisa? Por outro lado, certamente já reparou na quantidade de serviços que não existem...

Há não muitos anos, o turismo de Vouzela era em grande parte alimentado... pelas Termas. É esta complementaridade entre os três concelhos, esta capacidade de beneficiar com o que os outros têm e dar o que eles não têm que cada um dos concelhos de Lafões precisa. Como escrevemos no post publicado no dia 1 de Janeiro, "mais do que de competição, precisamos de cooperação".

A falta de alternativas para a juventude, também tem que ver com isto (mas, acredite que não é um problema limitado a Vouzela). Como não tem havido inovação (que nada tem que ver com construção...), o número de actividades rentáveis tem diminuído, a exigência tem diminuído, a oferta de emprego... tem diminuído. Isto dificulta a fixação dos jovens, sobretudo daqueles que estejam dispostos a assumir o risco da mudança. Só para lhe dar um exemplo extremo, repare em como era óptimo ter gente nova, com formação, a revolucionar a agricultura.

No entanto, tudo isto está muito longe de ser uma guerra perdida.Só que, para mudarmos, temos que debater ideias- é para isso que, humildemente, tentamos contribuir.

Quer escrever um post (ou dois, ou três...)sobre estes assuntos?

Um grande abraço

BE Vouzela disse...

Muito obrigado e um óptimo ano para si também.

É verdade tudo o que diz sobre os produtos regionais. De facto, apenas continuam os pastéis e nada mais. Antigamente, como falou e bem, as pessoas das Termas vinham a Vouzela porque havia mais produtos regionais, artesanato, cultura, vinham pela beleza da vila, eram atraídas por algo que não tinham em São Pedro do Sul, tão "betão" e tão pouco natural, em relação à nossa ainda bela vila.

Hoje em dia não é bem assim. Ainda param no café central, porque ficam em passagem e compram uns pastéis porque passam para ir para a a A25. Já não vão a Vouzela passear, não vão propositadamente lá fazer nada.

Mas, obviamente, tudo isto está interligado. A falta de interesse dos jovens, a saída à procura de mais oportunidades, faz com que as 'artes' não tenham continuidade e isso acaba por morrer aos poucos.

Obviamente que me custa ver as coisas a desaparecerem aos poucos, fruto dos tempos... mas como eu saí, muitos saem. Não sei o dia de amanhã, e voltaria hoje mesmo para lá, caso conseguisse emprego na minha área, lá perto.

A parte que falei dos jovens tem mais a ver com a parte cultural porque o resto já é 'chover no molhado'. A região de Lafões morreu em termos culturais. Não há teatro, não há cinema, não há concertos, não há nada. Porque não aproveita Vouzela e chama os jovens dos concelhos à volta? Se houver um espectáculo de bandas, de teatro, de outra coisa qualquer, há pessoas de fora da vila a ir lá consumir, a fazer despesa nos cafés, nos bares, fazem amizades, começam a frequentar a vila... Penso que não é preciso ser um génio para se perceber isso.

A ACRV morreu, restam "Os Vouzelenses" que ainda se mantêm graças ao belo trabalho, faça-se justiça, da gente jovem que se interessou pela associação e que não querem que morra também.
Mas onde estão actividades para retirar os mais pequenos dos quartos, das playstations e das televisões?
É verdade que o futebol ainda movimenta muitos miúdos do CONCELHO e esta é uma coisa importante pois não abrange apenas a vila em si.

Mas interessa fazer algo mais.

Quando há festas das crianças da Ludoteca ou dos jardins infantis no cine-teatro, a vila ganha côr, ganha movimento, vêem-se pessoas nos cafés, carros em movimento, estacionamentos do bairro da senra cheios... Se calhar é preciso puxar mais as pessoas. Tomar o pulso a população e dar-lhes o que gostam. Acaba por ser um papel importante, retirar as pessoas de casa, fazê-las esquecer um bocadinho a sua vida rotinada, a crise mundial, os problemas em casa... Penso que é hora das associações existentes, começarem a fazer algo por isso. É hora da câmara, através do pelouro da Cultura, começar a fazer algo por isso.

Eu sei que o que vou dizer, vai ser criticado a seguir mas assumo o risco: tenho noção que fazer eventos para os jovens, não dá votos porque já pensam mais com a razão do que com o ""coração"" e que, por isso, mais vale fazer actividades para os idosos.

ATENÇÃO: eu concordo com actividades para os idosos, para retirá-los da solidão. Também tenho avós que aproveitam e passeiam. É verdade sim senhor.

Mas olhem um bocadinho para a população de uma faixa etária mais jovem. Aproveitem as suas qualidades, apostem neles. Há muita gente com ideias, com vontade de fazer mais e, se calhar não faz, porque tem medo de fazer propostas ou porque lhe faltam meios ou mesmo porque não sabem onde chegar.


Sobre eu fazer posts, agradeço a atenção mas prefiro continuar na backline e a comentar quando devo e sobre assuntos que acho pertinentes. De resto, venho cá todos os dias.
Adoro Vouzela e tenho bastante curiosidade sobre os temas, as fotos, a história que passa neste belo blog.

BTW, tenho um flyer fresquinho para digitalizar sobre a comemoração dos 80 anos dos Vouzelenses, caso queiram usar num próximo post sobre o tema ;)

Abraço e continuem sempre

MR disse...

quando é que chegam à rua de são frei gil???? uma zona nobre num estado lamentável....

CP disse...

Tratar do património, para quem tem o poder, corresponde a tratar da própria casa. Ninguém gosta de ver a sua casa em mau estado.

Carlos Cunha disse...

gostei desta chamada de atenção. Para quem como eu tem uma ligação afectiva com Vouzela terá que, naturalmente, sentir-se incomodado com o estado de algumas coisas. (Re)visitei Vouzela há algumas semanas atrás e reparei precisamente em alguns dos pontos aqui chamados à boca de cena. Mas ainda existe tanto e tão bonito em Vouzela. A começar pelas suas gentes (simpáticas e hospitaleiras), pelos recantos, pelos sinais identitários que ainda permanecem.