quinta-feira, fevereiro 26, 2009

O indiferentismo

Sara Wagner-Raines

“O velho costume de esperar que os outros façam ou que as coisas apareçam feitas, sem canseiras nem arrelias, deixando correr tudo ao Deus-dará, é péssimo, e, contra êle, todo o vouzelense brioso e zeloso deve insurgir-se, trabalhando cada qual o mais que possa, para que alguma coisa mais se faça, de útil e proveitoso.
O indiferentismo é um crime, e, na nossa terra, o inimigo”.
-H. Simões da Silva, Notícias de Vouzela, 1 de Abril de 1936

No debate em torno do nosso texto sobre a “Casa das Ameias”, veio à baila um velho argumento usado por estas bandas, que, de tão velho, quase merece constar na galeria do nosso património colectivo: a falta de dinamismo da nossa iniciativa privada. Recordámo-nos, então, de um longo texto publicado no Notícias de Vouzela de 1 de abril de 1936, da autoria do seu director, H. Simões da Silva. Intitulava-se “O indiferentismo- eis o inimigo!” e é dele que retirámos a citação inicial.

A acusação de “indiferentismo” ou de falta de dinamismo, foi usada contra todos os grupos sociais (mais abertamente em relação a uns do que a outros) e nas mais diversas circunstâncias. Ou porque ninguém se mostrava disponível para tomar conta de uma colectividade, ou porque era necessário um terreno para uma obra pública e os proprietários faziam-se desentendidos, ou porque faltava dinheiro para uma qualquer iniciativa que os “homens de cabedal” do concelho tardavam em apoiar.

Claro que este problema não é um exclusivo nosso e reflecte a excessiva concentração de riqueza e de propriedades, típica de meios onde a terra, normalmente transmitida através de heranças, se mantinha na mesma família durante gerações e gerações. Desse modo, qualquer iniciativa acabava por “tropeçar” na propriedade deste ou daquele que, ou colaborava, ou “matava” todos os sonhos, perante o olhar impotente dos que tinham ideias, mas...nada mais. A História local regista os bons exemplos e o anedotário os restantes.

Com a democracia e a recomposição do tecido económico, acreditou-se que o problema seria ultrapassado. Pura ilusão. Apenas alguns nomes mudaram, na sequência das alterações verificadas no uso da terra, sobretudo durante a fase dourada da construção. A “boa vontade” desejada, manteve-se condicionada, tal como no passado, à relação custo-benefício, com a agravante de não se esperar, a curto prazo, um qualquer surto desenvolvimentista que garanta retornos rápidos dos investimentos feitos.

Perante isto, o que nos resta? Precisamente o mesmo que aos nossos antepassados, embora ajudados (e de que maneira!) pela democracia em que vivemos: a pressão que, hoje, pode ser feita por uma opinião pública forte, informada, reivindicativa. Daí não se perceber muito bem os que criticam quando se exige acção dos poderes públicos e continuam à espera das boas vontades privadas. Na prática, promovem o conformismo, o “indiferentismo” que, tal como no passado, “é um crime, e, na nossa terra, o inimigo”.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

N. S. do Castelo

Posted by Picasa


Este postal tem uma confusão editorial...impresso no verso podemos ler Edição de Dias & Irmão...com um carimbo artesanal foi escrito, por cima, Edição da casa AUGUSTO ROCHA...para além disso é ainda um "Made in France".
A fotografia é muito curiosa, com grande valor adicionado pelas personagens envolvidas...apesar de estarem em pose!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Um dia a casa vem abaixo

Casa das Ameias, na Praça da República. Há quem defenda que o edifício original remonta ao século XV. O complexo testamento deixado pelo seu último proprietário, Dr. Gil Cabral, tem dificultado a definição da propriedade do imóvel.

“O que gostaríamos era que um particular pegasse e construísse uma unidade hoteleira”- Presidente da Câmara de Vouzela, interrogado sobre a possibilidade da Autarquia avançar para a expropriação da Casa das Ameias, Notícias de Vouzela, 12/02/2009.

Nós também “gostaríamos” de tanta coisa. Por exemplo, que se tivesse percebido que uma zona nobre da vila, como é a Praça da República, nunca devia ter chegado ao nível de desleixo a que chegou, graças ao arrastar do processo em torno da Casa das Ameias. Isto, para já não falar de como “gostaríamos” que se tivesse controlado melhor o fracassado projecto de construção da estalagem que, por um qualquer estranho desígnio, começou por destelhar o edifício, retirando-lhe a sua maior protecção. Tanta coisa de que “gostaríamos”.

Mas, por muito crentes que sejamos, sabemos que ficar a olhar para o céu à espera do milagre, a única coisa que nos garante é... uma dor de pescoço. Neste caso, uma dor de cabeça, enorme, se a casa vem abaixo (hipótese bem provável pelo que nos diz quem destas coisas sabe). Ou será isso mesmo que se pretende, para depois ali se espetar um paralelepípedo de tijolo e cimento, rés-do-chão e 1º andar, direito e esquerdo, com o "douto" argumento de que havia que marcar a fronteira entre a ruína e a “modernidade”?

O complexo testamento do Dr. Gil Cabral (último residente e proprietário da casa) explica alguma coisa sobre a situação a que se chegou, mas não explica tudo. Para além da imagem de um espaço central e da importância histórica do edifício, estão em causa questões de segurança que há muito justificavam intervenção. Ora, é nisto que nós, modestos cidadãos, compreendemos que se gaste dinheiro. E até apoiamos, ao contrário do que sucede com inúteis ampliações de ruas. Se é verdade, como foi noticiado, que os herdeiros estão dispostos a ajudar na resolução do problema, menos se compreende que se continue a adiar .

O título deste texto é pouco original, mas corresponde à mais crua verdade. Vem mesmo abaixo, se continuarmos à espera de um D. Sebastião cheio de notas que ali construa “uma unidade hoteleira” (projecto que nos parece pouco provável, mas disso daremos conta noutra oportunidade). Para já, exige-se a intervenção necessária para que a casa se mantenha de pé e, com ela, a esperança de que conseguiremos fazer mais do que discursos no condicional e esperar por milagres saídos de radiosas manhãs de nevoeiro.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Igreja Matriz há 100 anos

Igreja Matriz de Vouzela
(Notícia Histórica)

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Deve datar, portanto, de 1170 (senão um pouco antes ou um pouco depois) a construção da Igreja Matriz de Vouzela. Era então Mestre da Ordem do Templo em Portugal o insigne D. Gualdim Pais, herói de Escalona e Antióquia, terror dos Mouros da Península, fundador de muito castelos, igrejas, mosteiros...
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Foi por certo em volt
a do templo assim construído na antiga terra de Alafun (chefe árabe vencido e convertido por D. Fernando, o Grande, bisavô materno de D. Aforso Henriques) que começou a formar-se apovoação que depois de transformou na vila de Vouzela. ...
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Cumpre também mencionar outra obra não menos indesejável: a que obstruiu a nave com aqueles inestéticos coros que no século XVIII invadiram quase todas as nossas velhas igrejas. Certo, os "rebocadores, estucadores e caiadores", de quem Herculano falou com tanta amargura há mais de 100 anos, também ali deixaram bem visíveis vestígios da sua acção "embelezadora", visto haverem-se encontrado recobertos de cal os parametros de cantaria, interiores e exteriores, de todo o edifício; ...
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1910's

"Edição da Casa da Montanha - Castela"

Descriminação dos trabalhos de restauro:

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XI - Picagem de todos os rebocos interiores e exteriores, completada com a recomposição geral das paredes.
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A listagem completa dos trabalhos de restauro pode ser vista aqui.

Textos: Boletim n.º 56 de Junho de 1949, da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

E o Porto aqui tão perto



À atenção de professores, alunos, mães, pais, filhos, avós e todos aqueles para quem a Escola tem que ser algo mais do que um armazém de crianças. Os organizadores propõem-se falar de poesia, da importância dos clássicos e de bibliotecas. Não consta que queiram falar de "taxas de sucesso" ou de "modelos de avaliação". Ainda bem. Vai ser no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto (27 e 28 de Fevereiro) e podem ser pedidas informações para deriva@derivaeditores.pt. Se quiserem levar pasteis de Vouzela, os participantes agradecem e faz todo o sentido.

Fundos ao fundo

O desentendimento entre duas associações de desenvolvimento rural, quanto ao território que cada uma pretendia administrar para a implementação de projectos financiados por dinheiros comunitários, pode ter feito ir por água abaixo pelo menos 3,5 milhões de euros.

A Associação de Desenvolvimento Regional de Lafões (ADRL) queria gerir a área dos três concelhos lafonenses (Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela), e avançou sozinha com uma candidatura para o seu território.

O mesmo fez a Associação de Desenvolvimento Dão, Lafões e Alto Paiva (ADDLAP), que integra também aqueles três municípios, mais Viseu e Vila Nova de Paiva.

Porém, a sobreposição de território foi chumbada pela administração do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), que já avisou as duas associações que têm de entender-se. Sob pena de uma das candidaturas ficar pelo caminho. E ficando, perde-se 3,5 milhões, valor que cada projecto tem direito à cabeça.

(...)

Para continuar a ler (a partir daqui).

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Quando o Zé do Telhado subiu ao Monte Castelo- histórias de uma casa


Quem chega ao largo do chafariz do Monte Castelo e olha em frente, vê uma casa de pedra, meio encoberta pela mata de um verde tão intenso que ali se julga ser a porta que dá acesso ao mundo da lenda. Há quem jure ser aí que, nas manhãs frias de Inverno, quando os escassos raios de sol filtrados pela neblina, reflectem nas gotas de orvalho depositadas na folhagem, se juntam faunos e moiras encantadas, chorando amores perdidos e escarnecendo da cobiça dos homens.

(...) a porta que dá acesso ao mundo da lenda.

Rezam as crónicas que essa casa foi mandada construir por um tal D. Vasco de Almeida que, após se ter refugiado em França na sequência da contenda de Alfarrobeira, decidiu vir para estas paragens a convite de seu primo, D. Duarte de Almeida. Diz-se que durante a viagem viu morrer sua mulher, D. Isabel de Castro, acontecimento que o terá decidido a privar-se do convívio dos homens, refugiando-se no nosso Monte do Castelo onde edificou a capela e, um pouco mais abaixo, a tal residência. Tudo se terá passado entre meados do século XV e princípios do século XVI.

Entrando no terreno mais firme da história recente, sabe-se que o edifício nem sempre teve o tratamento que merecia e o espaço envolvente aconselhava. No entanto, de acordo com aquela espécie de fatalidade que permite aos de fora verem melhor o que está à frente dos nossos olhos, viveu um momento de glória ao ser escolhido para habitação do famoso Zé do Telhado, no filme realizado por Armando do Carmo Miranda. Estava-se nos anos 40 (o filme estreou-se no Coliseu do Porto a 15 de Dezembro de 1945) e o papel principal foi entregue a Virgílio Teixeira.

Por entre quadrilheiros e outros figurantes, vários vouzelenses participaram nas filmagens que aqui recordamos a partir do blogue do cinéfilo Paulo Borges. Esta ligação (clicar aqui) orienta para a cena onde melhor se vê a casa do Castelo, mas muito mais pode ser apreciado a partir da coluna da esquerda e do motor de busca de “Os anos de ouro do cinema Português”.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Capela de S. Frei Gil (D.João V)

Posted by Picasa


Tenho visto muitos postais tirados de ângulos diferentes ou a apanharem toda a rua, a subir...
Este acho-o muito original! É uma edição J.C.A.L.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Enquanto os motores aquecem para as Autárquicas

Começou a dança para as Autárquicas. Surgem nomes, uns mais surpreendentes do que outros, mas surgem. Já o mesmo não se passa com ideias. Infelizmente. Imagem de marca da democracia que vamos tendo, este hábito de falar nas pessoas antes dos projectos, é mau para ambos. Para as pessoas, porque ficam diminuídas pela imagem de privilegiarem o cargo ao acto. Para os projectos, porque em vez de visarem o necessário, podem ser limitados ao que os previamente escolhidos permitem.

Pela nossa parte, apesar do respeito que temos pelas pessoas (todas), o que nos interessa são as ideias. Bem precisamos delas. Já basta de fingir que vamos ser o que nada tem que ver connosco e ignorar o que nos é próprio e nos diferencia. Já basta de fingir que se espera por uma "classe empresarial" cheia de iniciativa e de cabedais, que um dia há-de sair da tradicional "manhã de nevoeiro". Por aqui, só mesmo o nevoeiro e nele nos havemos de perder se os poderes locais não decidirem arregaçar as mangas e assumir o papel que lhes compete na actividade económica.

A este respeito, não podemos desperdiçar a oportunidade para citar parte de uma reportagem do Público (04/02/2009) sobre uma estratégia que está a ser seguida na vila de Óbidos. O concelho tem cerca de 11 mil habitantes e é dirigido pelo PSD- onde é que já vimos isto? De há uns tempos a esta parte, decidiram aderir à rede das "cidades e vilas criativas".

(...)
"O nosso modelo de desenvolvimento assenta na ideia da preservação da qualidade de vida", explica
(o Presidente da Câmara, Telmo Faria) ". As terras muito bonitas têm tendência para carregarem muito nesse aspecto, mostrando as paisagens, o castelo, a lagoa." O problema, diz, é que, "se insistirmos muito nisso, o que pode vir aí é uma avalanche de pressão urbanística".
O cenário (de pesadelo) poderia ser milhares de pessoas vindas de Lisboa, que fica a menos de uma hora de distância, a comprarem casas de fim-de-semana na zona de Óbidos. Construção, construção, construção. Ou seja, a morte da "galinha dos ovos de ouro".
A câmara quis evitar isso. "No nosso modelo, tudo o que acontece tem que preservar a baixa densidade, a qualidade de vida, a imagem de prestígio. A criatividade e inovação passaram a ser as únicas ferramentas possíveis para crescer em qualidade e não em quantidade." Começaram com uma medida muito concreta: "O Plano Director Municipal previa a criação de 39 mil camas em dois mil hectares. Suspendemo-lo e passámos para 20 mil camas em quatro mil hectares. Estamos a falar de cinco/seis habitantes por hectare, e isso não existe na Europa", frisa Telmo Faria.
E também não estamos a falar de muitos hotéis novos. Estas camas são sobretudo em casas de muito alta qualidade. "Para que este turismo residencial vingue é preciso garantir essa baixa densidade." É a fórmula "menos pessoas, mais valor". E, segundo o autarca, virado não apenas para os portugueses, mas para ingleses, alemães, holandeses, "que estão a três horas de distância de avião".
O segundo passo da estratégia da vila é ser uma "economia criativa" - numa rede nacional que inclui também Montemor-o-Novo, Montemor-o-Velho, Portalegre e Guimarães -, atraindo indústrias criativas e os chamados "talentos".
Telmo Faria aponta à sua volta para as casinhas baixas e brancas. "Regressamos à Idade Média, quando muitas destas casas eram casas-ateliers." A ideia é que voltem a ser, só que hoje sustentáveis do ponto de vista ambiental, com baixas emissões de carbono, redes wireless que permitam às pessoas, a partir de Óbidos, trabalhar com outras em qualquer ponto do mundo.
(...)

Para ler o texto integral pode carregar aqui e escrever "Óbidos" na "Pesquisa nos últimos sete dias". Vale a pena.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Os filhos, esse problema...

Doisneau

Albino Almeida é presidente de uma confederação de associações de pais (Confap). É, até, a personagem a que a comunicação social costuma recorrer, sempre que precisa da opinião “dos pais”. E como suposto “presidente dos pais”, Albino Almeida opina a propósito de tudo que envolva “filhos”. É um susto ouvi-lo.

Agora divulgou que tem negociado, com o Ministério da Educação, a brilhante ideia de enfiar na escola as crianças do 1º ciclo, entre as 7h30 e as 19h (Público). O secretário de Estado, Valter Lemos, ainda tentou dizer que não é bem assim, mas o presidente Albino, orgulhoso da sua obra, esclareceu que o assunto já anda há um ano a ser negociado e que o Ministério da Educação deu “luz verde” para avançar com o alargamento de horário. Ora, um pai nunca mente.

O raciocínio de Albino Almeida, está de acordo com uma tendência que tem feito escola entre nós: sempre que há um problema, mais fácil do que resolvê-lo é forçar as pessoas a adaptarem-se a ele. Neste caso há vários problemas, desde a violência de alguns horários de trabalho, até a formas de negligência grave de alguns progenitores. Pelo meio, podemos incluir o preço da vida em subúrbios que afecta grande número das famílias portuguesas. O senhor Albino está-se nas tintas. Em vez de usar a força dos associados que dirige para pressionar mudanças e conseguir melhor qualidade de vida para pais e filhos, trata de ajudar a que tudo fique na mesma. Mas sem filhos.

Pelos vistos, não passa pela cabeça do senhor Albino que um dos problemas das nossas crianças seja viverem excessivamente fechadas, “orientadas”, sem espaços que possam recriar. Não passa pela cabeça da ilustre personagem as consequências que daí podem resultar na sua formação- provavelmente, não é psicólogo, nem pedagogo. Como também não deve ser historiador, não está muito disponível para usar a memória e recordar o bem que fez à sua geração ter espaço livre para usufruir. Não. Ele é presidente “dos pais” e, como tal, só lhe compete afastar os seus problemas. Ou seja, os filhos.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Igreja Matriz

Na sequência do postal anteriormente apresentado pelo Luís Filipe, fica aqui um raro postal da Igreja Matriz, onde são bem visíveis as palmeiras que já ornamentaram o seu jardim.

1920's

Edição de Dias & Irmão
(Made in France)

2007