quarta-feira, julho 30, 2008

Todos somos cidadãos da Moita

Fotos retiradas de A defesa de Faro, onde chegámos a partir do Zero de conduta

Cá vamos nós, outra vez. Imagine 529 hectares de um Parque Natural, onde nem um tijolo se pode colocar. Imagine que apareciam investidores interessados em pagar 50 milhões de euros por tal coisa, envolvendo três empresas off-shore. Agora, imagine que o presidente da Câmara que superintende ao tal sítio, justificava os 50 milhões investidos, com a hipótese de poder “vir a surgir naquela zona um projecto PIN, que permita ultrapassar as actuais restrições à construção” (Público, 28 de Julho de 2008). Não precisa imaginar mais, porque a história é real, passa-se em pleno parque Natural da Ria Formosa e o presidente é o socialista José Apolinário.

Há pouco mais de um ano, começámos a acompanhar o processo de luta dos cidadãos da Várzea da Moita. Também aí, estavam em causa terrenos da Reserva Ecológica Nacional que, depois de adquiridos por uns tantos “beneméritos”, se tentou alterar de estatuto, passando a urbanos. Nada de novo, a não ser o modo como a população reagiu, encravando a engrenagem e obrigando a que o processo de revisão do seu PDM volte à "estaca zero" (ver actualizações a partir daqui).

Num país onde a fronteira que separa bens públicos de interesses privados, é da grossura do aparo da caneta que passa o cheque, o alerta das populações é a única medida eficaz . É a única forma de deixar claro, para qualquer “investidor”, que há limites para os que vêem o território como uma simples mercadoria.

Por isso, sentimo-nos cidadãos da Moita... ou de Faro, ou de qualquer outro lugar onde se defenda o nosso património colectivo.

segunda-feira, julho 28, 2008

Sinais de crise

(La Boucherie- Eduardo Luiz)


A propósito da Quinta da Fonte e das ideias da Câmara do Porto para o bairro do Aleixo, tem sido interessante acompanhar as reflexões divulgadas pela comunicação social que, salvos raras excepções, revelam a falta de hábito em pensar o espaço em que vivemos.

O fenómeno dos bairros sociais que hoje andam nas bocas do mundo, foi uma consequência do êxodo rural e da excessiva concentração de pessoas nas grandes cidades. Não o êxodo rural dos primórdios da Revolução Industrial, que deu origem a cinturas onde se concentrou a mão-de-obra das fábricas que iam nascendo. Nessa altura, havia uma identificação de classe, geradora de dinâmicas com capacidade para resolver, melhor ou pior, problemas de integração. Exemplos desse fenómeno, podemos encontrá-los na génese do Bairro do Grandela em Lisboa e, também, na expansão entre Benfica e a Amadora.

Os bairros sociais de que hoje falamos (sobretudo, os problemas de que falamos), têm origem mais recente. Entre nós, mesmo muito recente. São de um tempo em que o sector secundário já não tinha capacidade para absorver as levas de imigrantes, provocadas pela total ausência de perspectivas para o mundo rural. São de um tempo em que a especulação imobiliária começou a ditar as suas leis, desertificando o interior das cidades, empurrando grande parte da população para periferias sem identidade, e circunscrevendo a miséria a áreas de menor interesse. O “assistencialismo”, foi o substituto institucional da velha caridade e a resposta possível de um sistema sem capacidade para integrar as suas “franjas sociais”.

A maior parte dos comentários que têm sido feitos a partir dos acontecimentos da Quinta da Fonte, ou da proposta de destruição do Bairro do Aleixo, limita-se a ideias para arrumar os excluídos ou para os manter na linha. Poucos arriscam uma ideia para acabar com eles. Poucos reconhecem que são a expressão visível de um paradigma de crescimento e de um modelo de gestão do território que lhe está associado- ambos a darem sinais claros de terem esgotado o prazo de validade.

sábado, julho 26, 2008

Para guardar em local seco-V

Registam-se declarações de Gil Ferraz, presidente da Associação Empresarial de Lafões (AEL), à Gazeta da Beira de 17 de Julho de 2008. Para consumir mais tarde ou para reproduzir em futuras sementeiras:

Falta (...) uma estratégia para a Região; falta (...) articulação entre os agentes locais; falta (...) ligação aos Centros de Saber; falta (...) articulação entre os agentes económicos.

(...)

A ligação das nossas empresas às Universidades, Politécnicos e Centros Tecnológicos é precisamente um dos vectores fundamentais para a actividade empresarial que são prioritários para a AEL. Este vai ser um dos temas fundamentais que vamos desenvolver neste próximo QREN.

(...)

“em termos empresariais e sociais, os três concelhos funcionam muitas vezes como se fossem um só concelho. (...) No entanto se continuarmos com divisões, com a estratégia da “festa da aldeia” (sem desprestígio para nenhuma festa de aldeia), não vamos a lado nenhum. (...) Do meu ponto de vista, era possível ter, a nível da região, um calendário de eventos de qualidade nacional durante o ano.

(...)

A nossa Região, pela sua beleza natural, localização estratégica e capacidade humana, tem enormes potencialidades. É pena que, por falta de articulação entre os agentes de desenvolvimento local, não se consiga fazer muito mais. Acho que aqueles que na Região assumem lugares de destaque, deveriam trabalhar mais em parceria. (...) Do meu ponto de vista, deveríamos deixar de pensar só concelho a concelho e passarmos a pensar na Região de Lafões.

quarta-feira, julho 23, 2008

O preço das coisas

Linha do Tua. Foto retirada daqui

Nesta avalancha de coisas ditas para consumo rápido, uma das teorias mais irritantes é a que defende a avaliação de todos os fenómenos da vida pela sua rentabilidade económica. É como se de tudo tivesse que pingar dinheiro e este fosse o único valor a servir de padrão. Para esses teóricos, o aumento da esperança média de vida, longe de ser motivo de orgulho, é um problema; a preocupação com a saúde dos cidadãos, tem apenas que ver com o que se gasta no Serviço Nacional de Saúde; as riquezas naturais, por não estarem cotadas na bolsa, não têm valor.

A aplicação prática destes princípios à gestão do território, tem levado ao uso abusivo de tudo, sem noção aparente do seu carácter finito e dos estragos permanentes que podem ser causados por necessidades de conjuntura. Basta que haja uma área de interesse, uma zona favorecida pela “Mãe Natureza” ou pelos ditames da História e zás! Vai de fazer obra e cobrar bilhete para explorar o filão. Na maior parte dos casos, passada a curiosidade inicial, nem zona de interesse, nem receitas. Apenas custos de manutenção ou o abandono.

Só que as contas destes contabilistas de meia tigela, estão viciadas, a partir do momento em que, nas colunas do “deve” e do “haver”, não incluem o valor cultural e/ou ambiental dos espaços. Foz Côa obedeceu a este raciocínio. Não bastou a importância do achado arqueológico, considerado património da humanidade, que podia ter sido o ponto de partida para uma progressiva rentabilização do espaço. Avançou-se logo para um projecto pouco sustentado, mas que contrapunha uma miragem de “pogresso” a outra idêntica que tinha sido vendida pelos defensores da barragem. Hoje, restam despesas e desânimo.

Pelo mesmo caminho querem empurrar, com dimensões diferentes, Paiva, Tua e Sabor. Desta vez ficam-se pelas barragens, mas a fundamentação dos projectos é a mesma. Mais uma vez, ninguém contabilizou os estragos que irão ser provocados, com a agravante de serem irreversíveis. Mais uma vez, agita-se uma ideia de “pogresso” com milhares de empregos e muito negócio, calando o facto de muito poucas barragens terem dado um tostão a ganhar às populações locais após a fase de construção. Mas fica o estrago, nunca contabilizado nesta fórmula para encontrar o preço das coisas.

"Novas barragens rendem ao Estado mais de 600 milhões de euros". Quanto vamos perder?

segunda-feira, julho 21, 2008

Ponte Morais Carvalho

Agora que o calor aperta cada vez mais, basta olhar para esta frescura para nos dar logo vontade de mergulhar naquelas águas. Como vemos, já na década de 20 do séc. XX, os nossos avós por lá se refrescavam. Provavelmente não tinham que se desviar das silvas para chegarem à água...


Junho 2008

Foto: Carlos Pereira


1985

Edição da Câmara Municipal de Vouzela
Postal nº. 4
Gráfica Ideal - Águeda



1960's

Colecção Passaporte "LOTY"


1920's

Edição de Dias & Rocha - Vouzela


Edição de Dias & Irmão
(Com carimbo sobreposto "Edição da casa AUGUSTO ROCHA")


1910's

UNION POSTALE UNIVERSELLE
Edição da Casa da Montanha - "Castela"

sexta-feira, julho 18, 2008

População da Moita venceu a especulação imobiliária

Na sequência do processo de luta contra a revisão do PDM de que temos dado conta, a população da Moita viu recompensados os seus esforços. De acordo com o “um por todos, todos por um”, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) emitiu parecer desfavorável à proposta em análise, que favorecia a especulação imobiliária.

Este processo da Moita tem provado que a mobilização das populações é o melhor antídoto contra os jogos de interesses. Todos ganhámos com o seu exemplo.

quinta-feira, julho 17, 2008

Estava-se mesmo a ver...

Vítor Constâncio falou e disse: é preciso discutir a opção nuclear: Não fosse curta a memória dos homens e de consumo rápido as notícias dos “media” e todos se recordariam de que Durão Barroso já tinha dito o mesmo. Há mais de um ano.

Perante o aumento do preço do petróleo e o agravamento da crise ambiental, exigiam-se medidas mais decididas que combatessem o desperdício, reduzissem o consumo e estimulassem opções alternativas. Ora, entre nós, para além das eólicas de reduzido efeito imediato e de um regulamento para edifícios novos (em vigor desde o início deste mês) de cuja aplicação prática já muitos duvidam, nada se fez. E devia, já que é consensualmente reconhecida a ineficiência energética da maioria das nossas unidades industriais e da nossa construção, não se investe em alternativas ao transporte individual rodoviário e é chocante saber que usamos menos a energia solar do que países como a Áustria ou a Alemanha- se há “pecado” de que o “bloco central” não pode ser acusado, é o de enervar interesses instalados.

Por isso, não causam admiração as declarações de Durão e Constâncio. Estão de acordo com o que defendem enquanto paradigma de crescimento, e contam com o apoio dos que bem sabem que até a morte pode ser uma oportunidade de negócio. Assim a tenham (a oportunidade). Mas... isso depende de nós.

segunda-feira, julho 14, 2008

Os transportes da Educação e a educação pelos transportes

“Há já muita desresponsabilização dos pais na área da educação e esta seria mais uma”- resposta do presidente da Câmara Municipal de Vouzela à sugestão da vereadora eleita pelo PS, Ângela Carvalhas, para que os transportes dos alunos da Escola Secundária passassem a ser gratuitos (Notícias de Vouzela, 10/07/2008).

Por acaso até estamos de acordo no que à "desresponsabilização" diz respeito. Mas, mais do que constatar (e lamentar) o fenómeno, interessa compreendê-lo e actuar nas suas causas. O problema é que, se calhar, o Dr. Telmo Antunes também lamenta a “desresponsabilização” de muitos que se endividaram excessivamente, nomeadamente na aquisição de automóvel. Ou dos que abusam do transporte individual, ou, ainda, dos que desorganizam o espaço público com uma utilização egoísta das respectivas viaturas. E se formos às causas, lá vamos parar ao tal problema da educação (da falta dela) que se recebe ao longo da vida, nomeadamente nos exemplos que os poderes públicos dão com as prioridades que definem. Ora, o estímulo ao uso de transportes colectivos é, em Vouzela e em qualquer lado, uma medida que fará mais pela Educação deste país, do que qualquer plano de reforço das competências a Matemática: subtrai prejuízos, soma responsabilidade individual, multiplica consciência cívica e divide benefícios.

Cidadãos da Várzea da Moita: um exemplo de luta contra a revisão do PDM

O processo é o do costume e já aqui falámos nele: terrenos da Reserva Ecológica e da Reserva Agrícola que são comprados por tuta e meia e a que, depois, os novos proprietários tentam alterar o estatuto, de modo a multiplicarem, por muito, o seu valor. A novidade está no modo como os cidadãos da Várzea da Moita se mobilizaram para enfrentar o problema, organizando iniciativas, denunciando e, sobretudo, conseguindo abordá-lo ultrapassando as fronteiras locais, lançando o debate em torno de um dos mais importantes problemas do nosso ordenamento do território: a "Lei dos solos".

Agora, a luta das gentes da Moita percorreu mais uma etapa, enviando uma carta ao primeiro-ministro José Sócrates, onde se denuncia a situação. Recorde-se que o nosso primeiro-ministro é precisamente o mesmo que, enquanto esteve à frente da pasta do Ambiente, soube denunciar as perversões dos Planos Directores Municipais (PDM). O problema é que, desde que chefia o governo, permitiu a adopção de regras para aprovação dos PDM que se arriscam a agravar o problema. Quanto à "Lei dos solos", apesar do seu secretário de Estado do Ordenamento do Território ter prometido que 2008 ía ser o ano do início da sua revisão, até agora nada se viu.

De qualquer modo, é de acompanhar este processo da Moita. Independentemente do resultado final, a reacção dos seus habitantes constitui uma lição que importa reter.

sexta-feira, julho 11, 2008

O carro eléctrico

"(...) tinha a vantagem de ser transporte colectivo, sector que, inexplicavelmente, o governo continua a ignorar".

Nos finais dos anos 70, soube-se que a estação espacial Skylab ia cair na Terra, sendo imprevisível o local. Tratava-se de uma estrutura enorme de não sei quantas toneladas, o que causou alguma apreensão. Consta que, nessa altura, aproveitando o nervosismo dominante, houve uns patuscos que decidiram vender...capacetes anti- Skylab. Parece que fizeram algum negócio.

A leva anunciadora do nosso governo, fez-nos recordar este episódio. Confrontados com o desespero de uma população que passa dificuldades, agravadas pelo brutal aumento do preço do petróleo, eis que o governo tira da cartola uma série de projectos e de promessas, para dar a entender que tem a situação controlada. Capacetes anti-Skylab.

Um dos projectos, foi o do carro eléctrico. Cerimónia pública virada para as câmaras, José Sócrates anunciou o protocolo assinado com a Renault-Nissan . Estes constroem a viatura e o governo compromete-se a criar condições para o carregamento e mudança das baterias do automóvel e garantir benefícios fiscais. Imposto automóvel limitado a 30%, disse José Sócrates e aqui começaram as dúvidas. Porquê 30%, se a lei actual isenta por completo “veículos não motorizados, bem como os veículos exclusivamente eléctricos ou movidos a energias renováveis não combustíveis”?

Depois, para quem, como nós, nem a bateria do portátil consegue ter em condições, essa história da autonomia de 200 quilómetros, mais equipamento especial para mudar bateria que leva, no mínimo, 26 minutos a carregar, fez uma enorme confusão. Não será que se estão a construir aeroportos para a Passarola de Bartolomeu de Gusmão? É que, projectos de viaturas movidas através de energias mais ou menos alternativas, é coisa que não falta. Um desses projectos, até está a ser desenvolvido com o apoio da Câmara Municipal do Porto. Não serve? O governo não sabia? Pode garantir que o protocolo agora assinado é a melhor solução? Tudo parece meio precipitado, sem grande critério, só para mostrar que se faz alguma coisa.

Por tudo isto e até prova em contrário, o único carro eléctrico que nos convence é precisamente aquele com que uns tantos iluminados quiseram acabar, já depois de se conhecerem os efeitos do primeiro choque petrolífero. Além do mais, tinha a vantagem de ser transporte colectivo, sector que, inexplicavelmente, o governo continua a ignorar.

quarta-feira, julho 09, 2008

Um mau serviço

Lemos no Notícias de Vouzela (03/07/2008), relato das críticas feitas pelo presidente da Federação Distrital de Viseu do Partido Socialista (e deputado), José Junqueiro, à gestão da Câmara de Vouzela. Encerramento dos serviços de saúde, captação de investimentos, obra feita e endividamento da autarquia, foram os quatro alvos do dirigente socialista. Apesar de todas as cautelas que nos deve merecer qualquer selecção de citações feita por terceiros, arriscamo-nos a dizer que, às portas de eleições autárquicas, José Junqueiro prestou um mau serviço à construção de uma alternativa local.

Saúde

“(...) não há desculpa, nem perdão para o presidente da Câmara que se deixou ultrapassar pelo presidente da Câmara de São Pedro do Sul”- com estas palavras, pretendeu-se criticar uma eventual perda de protagonismo do concelho de Vouzela, traduzida na instalação do Serviço de Urgência Básica em São Pedro do Sul.

Talvez valha a pena recordar que José Junqueiro defendeu, até à última (justiça lhe seja feita), a estratégia do então ministro Correia de Campos. Desde os horários de funcionamento dos serviços de saúde, até às maravilhas das tais fabulosas ambulâncias, a tudo o senhor recorreu para dar cobertura às orientações ministeriais. Entretanto, após um triste desempenho no programa Prós & Contras, Correia de Campos inverteu o sentido das coisas e deu aval à abertura do serviço em São Pedro- ganhou direito a medalha e deve ter deixado Junqueiro com amargos de boca.

Ora, quando lemos as palavras usadas na crítica à tal suposta perda de protagonismo de Vouzela, só podemos tirar uma conclusão: entrámos no mundo do tacticismo e das influências, que nada tem que ver com valores e princípios. O que José Junqueiro nos veio dizer, foi que a tal reforma da Saúde que ele tanto defendeu, esteve mais dependente de jogadas de bastidores, do que de orientações rigorosamente fundamentadas. Não é que isso nos surpreenda, mas não fica mal um certo pudor...

O “bairrismo” como filosofia de desenvolvimento

Depois, foi como se tivéssemos feito uma viagem ao passado, ao tempo em que, nas Chãs, as canelas faiscavam sempre que se encontrava a malta de Vouzela com a dos concelhos vizinhos. Por duas vezes, o líder distrital socialista usou argumentos do mais básico bairrismo: a propósito da suposta maior influência do presidente da Câmara de São Pedro e quando deu a entender estarmos a perder a oportunidade de ver instaladas em Vouzela, empresas que acabam em Oliveira de Frades e São Pedro (?).

Entendamo-nos: esta visão das coisas, nega todos os princípios que devem presidir ao ordenamento do território e só é justificável por uma total ausência de ideias sobre o assunto , ou por se privilegiar uma gestão orientada para a colecta de impostos. Numa região com cerca de 40 mil habitantes, baixos recursos e boas vias de comunicação, o que faz sentido é apostar numa gestão integrada, conseguindo que os três concelhos se complementem, mais do que concorram. Aliás, este foi o argumento avançado para justificar a reforma dos serviços de saúde, justiça, etc. Esta foi, também, a justificação para impor limites (não totalmente conseguidos, diga-se) à autonomia de decisão de “obra” por parte das autarquias, nomeadamente nas candidaturas a fundos comunitários.

Mais do que andar a abrir “parques industriais”, à espera do milagre de um surto migratório de empresas e pessoas, a região de Lafões necessita ver o que pode e deve valorizar e/ou construir em cada um dos concelhos, de modo a edificar uma rede de serviços que satisfaçam, com qualidade, as necessidades dos que aqui vivem e daqueles que nos procuram. Oliveira de Frades está a conseguir atrair importantes empresas? Óptimo! Curiosamente, a sua população residente não aumenta. Se calhar, porque muitos dos que lá trabalham, residem em Vouzela, São Pedro e, até, noutros locais mais afastados. As Termas estão a dar-se bem com a aposta no “turismo de massas”? Óptimo! Haja quem desenvolva outras vertentes turísticas.

É este princípio de complementaridade que nos parece dever presidir à gestão do território, de modo a evitar a dispersão (e o desperdício!) de recursos, conseguir aumentar a oferta e garantir níveis aceitáveis de qualidade de vida. Só assim conseguiremos a força, o hábito e os meios necessários para tratar do património comum (recursos hídricos, paisagem, etc.) e conseguir poder reivindicativo. O resto, são truques para conseguir cobrar impostos.

A “obra”

O Partido Socialista e o Partido Social Democrata dividem, em igual número de mandatos, a gestão do município, desde que, nos anos 90, se acentuou a recessão demográfica do concelho. Para o bem e para o mal, são eles os reponsáveis. Mas dizer, como fez José Junqueiro, que “as principais obras têm assinatura de uma autarquia do Partido Socialista”, é esquecer uma série delas que mais valia não terem sido feitas...

Fazem ou fizeram parte do PS e do PSD, muitos dos homens que idealizaram algumas das melhores obras que houve em Vouzela nos últimos anos. Mas também é nesses dois partidos que encontramos os responsáveis pelo desnorte que tomou conta do ordenamento do nosso território, com “zonas de expansão” de duvidosa qualidade e nenhum gosto e construções com impactos profundamente negativos.

Vamos, até, mais longe: se o estrago da responsabilidade de qualquer um deles não é, hoje, maior, foi porque faltou tempo ou dinheiro. Não nos esquecemos de uma famosa variante Sul que esteve agendada no último executivo do PS, que teria hipotecado o futuro a necessidades de conjuntura, representando a machadada final naquela que é a principal riqueza desta vila e que poucos (muito poucos) souberam valorizar: a harmonia da paisagem. Também não esquecemos o que era dito pelo actual presidente da Câmara sobre o prolongamento da Avenida João de Melo ou sobre a necessidade de aumentar a construção no centro da vila (entrevista concedida ao Notícias de Vouzela em12 de Março de 2004). A uns só faltou tempo e a outros o dinheiro (por enquanto...). As ideias quanto à gestão do território, são as mesmas.

Quem não deve, não teme

Finalmente, o problema do endividamento da autarquia. Sobre o assunto, já aqui escrevemos: “As ‘contas’ do actual executivo camarário e os níveis de endividamento a que recorreu, têm sido alvo de permanente polémica e pode-se até dizer que atingem as fronteiras do mistério. De facto, não se vê obra (e isto é um elogio) que justifique tal situação. Ora, como ‘quem não deve, não teme’, não se percebe o que está a travar um pedido de inspecção ao assunto- salvaguardava-se a imagem dos inocentes e esclareciam-se, de vez, os vouzelenses”.

Na altura, isso indignou o presidente da Câmara de Vouzela que interpretou a nossa opinião como uma suspeita. Como se vê, fez mal. O assunto pouco ou mal esclarecido, continua a alimentar polémicas e, sobretudo, dúvidas.

No entanto, o principal partido da oposição, deve fazer muito mais. “Não há desculpa para que a Câmara esteja tão endividada”, afirmou José Junqueiro. Se não há desculpa, é porque sabe como foi crescendo a dívida. Nós, simples cidadãos, também gostávamos de saber. E o Partido Socialista, podia fazer o favor de explicar.

Com eleições à porta e num contexto de crise generalizada, gostávamos de sentir que os candidatos à autarquia tinham alguma ideia sobre o que fazer. De preferência, que tinham aprendido com erros do passado. José Junqueiro veio, pelo contrário, dar a entender que tudo vai continuar no domínio das influências, da ausência de qualquer perspectiva de ordenamento do território, do "espectáculo"... embora com rigor nas contas. Esperávamos mais, até porque, nas últimas eleições, o PS local apresentou um programa que parecia resultar de uma avaliação do passado, privilegiando a organização e recusando o caminho fácil da "obra para encher o olho"- num concelho que ainda não resolveu problemas básicos, como os do saneamento, é isso que queremos ouvir. Mas, depois das declarações do dirigente socialista, ficamos na dúvida sobre o caminho que querem seguir. De facto, prestou um mau serviço.

segunda-feira, julho 07, 2008

Festa em Vouzella

Semanário Charivari
27 de Agosto de 1892


N'este pallido reflexo do dia 14 d'este mez, na pittoresca villa de Vouzella, manifesta o Charivari o seu respeito á nobre dama, cujo retrato exorna hoje a primeira pagina d'este semanario, senhora por egual opulenta de riquezas e virtudes, que generosamente prodigalisa a bem dos humildes e desgraçados. E ao ex.mo sr. João António Gonçalves de Figueiredo, prestante cidadão que promoveu a sympathica festa da inauguração da biblioteca escolar e da distribuição dos premios ás alumnas distinctas, deveu o brilhantismo d'esta festa. o Charivari agradece á obsequiosa amabilidade d'este cavalheiro a honra com que o distinguiu, fazendo-o participante de toda a memoravel solemnidade.


Pormenores das ilustrações da publicação

Sala da Biblioteca cuja inauguração foi o motivo da festa.



Pormenor do banquete. Repare-se como se sentavam as pessoas. Homens de um lado, mulheres do outro. Seria um costume da época? Os assuntos de conversa não se cruzavam?



"Caza da Escola" (Escola Conde de Ferreira).



Os desenhos foram mais ou menos feitos "à escala" pretendendo dar uma ideia da realidade de cada um dos temas abordados. Excepção feita a este, que representa uma curiosa ilustração do monte e capela da Senhora do Castelo.



A "
nobre dama ... senhora por egual opulenta de riquezas e virtudes" a que se refere o texto inicial era a D. Victória Adelaide de Seixas Loureiro e Barros.




Posteriormente, em
7 de Setembro de 1895 o Charivari publicaria o retrato do Sr. João António de Figueiredo.

domingo, julho 06, 2008

Mercado livre: uma óptima solução… para os outros

Nos Estados Unidos é frequente encontrarem-se produtos alimentares que, na sua composição, apresentam uma estranha percentagem de “corn syrup”. Do ketchup à Coca-Cola, nada escapa ao charope de milho, facto que, afinal, tem uma explicação bem simples: o produto beneficia de protecção.

Agora, ficámos a saber as consequências da produção de biocombustíveis, nomeadamente do etanol produzido a partir do milho, no preço de alimentos. De acordo com um relatório do Banco Mundial, 75% é o valor. O relatório era secreto, para não estragar, ainda mais, a imagem do presidente americano e da subsidiada indústria de etanol a partir do milho. Sim, porque essa coisa do “mercado livre” e da "livre concorrência", é uma óptima solução… para os outros.

sexta-feira, julho 04, 2008

Poupar energia

Van Gogh

Os funcionários municipais (city employees) de Birmingham (no estado de Alabama, Estados Unidos), vão ter os seus horários de trabalho semanais concentrados em quatro dias. A medida tem por objectivo responder ao aumento do preço dos combustíveis, e recupera ideias já adoptadas aquando da crise do petróleo dos anos 70. Contudo, calcula-se que as suas consequências vão muito além, permitindo uma significativa redução nas emissões poluentes, uma diminuição do congestionamento do tráfego, etc.

De acordo com os responsáveis locais, os trabalhadores receberam bem a proposta. Na prática, vão trabalhar dez horas diárias durante os quatro dias (mais 2 do que o horário normal), havendo uma rotatividade que garanta o funcionamento dos diversos serviços durante cinco dias por semana.

Outros serviços e outras localidades estão a estudar a adopção dos 4 dias semanais de trabalho (não confundir com o que foi recentemente aprovado em Portugal).

quarta-feira, julho 02, 2008

As emendas do feitiço e o feiticeiro dos sonetos

Grzegorz Szumowsky- Polónia

A propósito da suspensão, por ordem judicial, do blogue povoaonline, Vital Moreira chama a atenção para o facto da blogosfera não gozar de “imunidade penal, nem a integridade moral das pessoas sofrer aí de qualquer ‘capitis deminutio’” (a partir daqui). Não podíamos estar mais de acordo. Só que há emendas piores do que o soneto e feitiços que se viram contra o feiticeiro.

Impedir o acesso a um blogue, equivale a proibir a publicação de um jornal, pelo facto de alguns dos seus artigos serem considerados insultuosos- se assim fosse, já nenhum jornal era publicado... Depois, como se pode ler no relatório que integra a decisão judicial, as supostas ofensas são, na realidade, denúncias que, salvo melhor opinião, justificavam investigações cuidadas aos 15 anos que o presidente da Câmara da Póvoa do Varzim já leva à frente do município. Ora, o que estava diluído nos diversos “posts” e limitado aos leitores do povoaonline, tem agora um resumo de luxo na decisão do tribunal, bem divulgado por essa blogosfera. Além do mais, como Vital Moreira bem sabe do tempo em que distribuía propaganda clandestina, quando uma é destruída, logo outra aparece.