quarta-feira, julho 23, 2008

O preço das coisas

Linha do Tua. Foto retirada daqui

Nesta avalancha de coisas ditas para consumo rápido, uma das teorias mais irritantes é a que defende a avaliação de todos os fenómenos da vida pela sua rentabilidade económica. É como se de tudo tivesse que pingar dinheiro e este fosse o único valor a servir de padrão. Para esses teóricos, o aumento da esperança média de vida, longe de ser motivo de orgulho, é um problema; a preocupação com a saúde dos cidadãos, tem apenas que ver com o que se gasta no Serviço Nacional de Saúde; as riquezas naturais, por não estarem cotadas na bolsa, não têm valor.

A aplicação prática destes princípios à gestão do território, tem levado ao uso abusivo de tudo, sem noção aparente do seu carácter finito e dos estragos permanentes que podem ser causados por necessidades de conjuntura. Basta que haja uma área de interesse, uma zona favorecida pela “Mãe Natureza” ou pelos ditames da História e zás! Vai de fazer obra e cobrar bilhete para explorar o filão. Na maior parte dos casos, passada a curiosidade inicial, nem zona de interesse, nem receitas. Apenas custos de manutenção ou o abandono.

Só que as contas destes contabilistas de meia tigela, estão viciadas, a partir do momento em que, nas colunas do “deve” e do “haver”, não incluem o valor cultural e/ou ambiental dos espaços. Foz Côa obedeceu a este raciocínio. Não bastou a importância do achado arqueológico, considerado património da humanidade, que podia ter sido o ponto de partida para uma progressiva rentabilização do espaço. Avançou-se logo para um projecto pouco sustentado, mas que contrapunha uma miragem de “pogresso” a outra idêntica que tinha sido vendida pelos defensores da barragem. Hoje, restam despesas e desânimo.

Pelo mesmo caminho querem empurrar, com dimensões diferentes, Paiva, Tua e Sabor. Desta vez ficam-se pelas barragens, mas a fundamentação dos projectos é a mesma. Mais uma vez, ninguém contabilizou os estragos que irão ser provocados, com a agravante de serem irreversíveis. Mais uma vez, agita-se uma ideia de “pogresso” com milhares de empregos e muito negócio, calando o facto de muito poucas barragens terem dado um tostão a ganhar às populações locais após a fase de construção. Mas fica o estrago, nunca contabilizado nesta fórmula para encontrar o preço das coisas.

"Novas barragens rendem ao Estado mais de 600 milhões de euros". Quanto vamos perder?

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