domingo, março 30, 2008

Lá estivemos, à espera

Resta a consolação de sabermos que isto ninguém nos tira (para já)

Pois lá estivemos nós, à espera do Sócrates de visita a uma empresa da região. E não lhe oferecemos pasteis. Ia para as energias alternativas e o que nós queríamos era uma política do mesmo tipo: alternativa. Não é que tenhamos grande esperança, diga-se, mas assim como assim, no meio de tanta trapalhada, tanta medida mal pensada, resta-nos tudo tentar para ver se nem tudo se perde.

Como já era de prever, mas nunca foi assumido, a central do INEM não consegue localizar as chamadas. Ou seja: se aquele que liga a pedir socorro não conseguir dar as coordenadas certas (por nervosismo, por não saber, por isto ou por aquilo), bem podemos encomendar a alma ao Criador. Era fácil de prever, toda a gente alertou para o facto, mas, pelos vistos, não constava do manual de instruções dos técnicos do Ministério da Saúde que estruturaram nessas milagrosas ambulâncias o sistema de auxílio a toda uma população.

Enfim, como por aí se diz, se nem uma porcaria de uma “Lei do cigarro” conseguiram fazer sem duplos sentidos, se o aviso de cem mil professores não bastou para que as iluminadas mentes governativas pensassem melhor no que estão a fazer, como é que queríamos que corresse bem a complexa reorganização dos serviços de saúde? Ainda por cima, visando umas modestas dezenas de milhares de cidadãos. Por isso resta-nos esperar. Pelo primeiro-ministro, entenda-se. Fazer-lhe uma marcação cerrada ao melhor estilo do defesa-central dos tempos em que, nas Chãs, as canelas faziam faísca.

E se disserem que somos um bando de comunistas instrumentalizados, ou um bando instrumentalizado pelos comunistas, não acreditem. Apenas também não o somos por quaisquer outros.

quinta-feira, março 27, 2008

É o “pogresso”, senhores

Qual gralha, qual erro ortográfico. É um elaborado conceito com escola feita em muitas autarquias e projectos governamentais. O “pogresso”, desta vez pela boca do Dr. Ruas, líder da Associação Nacional de Municípios e presidente da Câmara Municipal de Viseu. Ou, se quiserem, o betão como condição para o “desenvolvimento imaterial” (a partir daqui)

“Eu acho piada porque o betão tem servido para crítica, mas quando a gente vê reclamar grandes investimentos, toda a gente cai no betão. O betão é a condição indispensável para haver desenvolvimento imaterial. Só há desenvolvimento cultural se se fizer previamente betão, só há desenvolvimento intelectual se houver inicialmente betão”.

terça-feira, março 25, 2008

Em defesa da Reserva Ecológica Nacional-Petição

Já por diversas vezes reflectimos sobre o perigo que representa aumentar o peso das autarquias na gestão da Reserva Ecológica Nacional. Com um financiamento muito dependente da área urbanizada, as autarquias dificilmente resistem à tentação de promover uma maior privatização do território, destruindo este importante instrumento de planeamento. É verdade que a REN deve ser repensada e actualizada, mas é fundamental que continue a ser protegida. Com esse objectivo, está a circular uma petição: “Em defesa da Resrva Ecológica Nacional-REN” (onde chegámos a partir daqui). Vale a pena ler e reflectir. Vale a pena combater a indiferença.

segunda-feira, março 24, 2008

Tempo de folar

Como “em casa de ferreiro espeto de pau”, tivemos que pedir esta foto emprestada

Já o devíamos ter feito há mais tempo. Mas, a verdade é que, para nós, todos os dias são dias de folar. É daquelas coisas que estão sempre acessíveis. Mais do que um símbolo de passagem, entre nós está sempre disponível para os que passam.

O nosso é doce. Ligeiramente, ao princípio. Mais, à medida que entramos na massa e nos aproximamos do centro. Faz sentido dizer que é "o centro da questão", como uma nova vida a gerar-se no interior do ventre materno.

Pois aqui fica o convite para conhecerem o nosso folar. Para o efeito, uma pequena ajuda: é só “clicar” aí em baixo (página em fase experimental).

Onde ficar, o que comer

domingo, março 23, 2008

DIA MUNDIAL DA POESIA


Entre os muitos dias disto e daquilo passou-se o da poesia.
Convenhamos que, como os restantes dias disto e daquilo, todos os dias o deveriam ser.
Mas não quero deixar de aproveitar o ensejo para transcrever três poetas que me são caros:

ALBERTO CAEIRO
(O guardador de rebanhos – XLII)

Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
O sol é sempre pontual todos os dias.

ALEXANDRE O’NEILL
(Portugal - excerto)

Ó Portugal, se fosses só três silabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol o sul,
o ladino pardal
o manso boi coloquial
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

ANTÓNIO ALEIXO
(Quadras soltas)

Condecoro o Presidente...
E sabem porque razões?...
- Por ter posto a tanta gente
Tantas condecorações!


Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!

Prometem ao Zé Povinho
Liberdade, Lar e Pão...
Como se o mundo inteirinho
Não soubesse o que eles são!

E por aqui me fico. Leiam poesia e os dias serão mais doces.

sábado, março 22, 2008

PECADOS MORTAIS

Dos sete pecados antigos, acredito que os que em Vouzela eram mais praticados seriam a inveja (se a loja do António está a dar, vai de abrir outra ao lado e depois outra ainda; ou se o vizinho comprou um tractor de 50 cavalos há que comprar um de 80 , ou se a amiga tem uma "volta" de ouro a outra vai querer duas), a gula (quem é que resiste a uma boa vitelinha grelhada, a um cabritinho da serra assado no forno, a um bacalhau à lagareiro já para não falar do folar, do leite creme e dos inconfundíveis pasteis) e a avareza (que só conheço em elevado grau em meia dúzia de pessoas, mas que se confunde com precaução ou medo de arriscar, na grande maioria).

Na verdade os restantes quatro nunca tiveram grande expressão, possivelmente por questões genéticas (ira e preguiça) , económicas (vaidade) e populacionais (a luxuria em terras pequenas é sempre um risco).

Mas de repente as iluminadas cabeças do Vaticano lembraram-se que Vouzela existe e vai de arranjar alguns novos pecados que podem perfeitamente adaptar-se

Ora vejamos:

Poluição ambiental: será agora que irão deixar de ser lançados ao Vouga e ao Zela os restos dos abates de alguns agricultores, ou os entulhos deixados na bermas das estradas, e o excesso de adubos que atingem os lençois freáticos, ou que finalmente a ETAR conjunta da CMV e da CMSPS irá funcionar em condições?

Manipulação genética: não acredito que venha a constituir perigo a curto prazo, mas com o aumento do preço dos cereais devido ao biodiesel, não se pode garantir que a médio prazo não venha a acontecer, isto se ainda houver agricultores. Mas que era bem feito manipular um dos muitos cães vadios que por aí há e transformá-lo numa vitela de Lafões lá isso era.

Acumulação excessiva de riqueza: sobre este só podíamos falar da pessoa que todos sabem quem é pelo que não o farei.

Infringir pobreza: aqui está um problema que não é só de Vouzela, é nacional e cada vez tem mais peso na nossa sociedade. Talvez não fosse má ideia encomendar um estudo sobre a pobreza no nosso concelho e por certo que os resultados iriam deixar muita gente preocupada. Talvez ajudasse a reformular a política local com vista a melhorar as condições de vida dessa franja da população.

Tráfico e consumo de droga: embora sem as proporções dos grandes centros, já é preocupante o que se passa em Vouzela, até porque são conhecidos os consumidores (e nada é feito para a sua recuperação) e os vendedores (e nada é feito para a sua detenção).

Experiências moralmente debatíveis: este é dos tais que dá para tudo. Será que se estão a referir a certas posições do Kamasutra que deveriam ser debatidas pelos intervenientes antes de, ou se deverá ser previamente debatido com o parceiro do lado o arremesso de uma garrafa ao guarda-redes da equipa adversária. Experiências moralmente debatíveis são a avaliação dos professores, e outras medidas que a titulo “experimental” os governos fazem sem debater, ou que as Câmaras implementam sem ouvir previamente as populações. Dizem-me que tem a ver com a pedofilia. Mas então não seria mais lógico pura e simplesmente dizer que a pedofilia é pecado, ou o texto foi redigido por alguém da diocese de Boston?

Violação dos direitos humanos: este também terá mais importância nacional do que regional embora se possa considerar uma violação dos direitos humanos, por exemplo, trazer os carrinhos para o centro da vila quando podiam muito bem andar a pé, e a GNR andar a passar multas por estacionamento indevido; mas se não houvesse carros no centro da vila a quem é que a GNR passava multas, violando os seus direitos? Graves violações sem dúvida.

Por tudo o que foi dito os vouzelenses deverão estar atentes, porque Ele só está à espera que feche o Centro de Saúde para acertar as contas convosco, a menos que, como a religião prevê, antes de se finarem confessem os vossos pecados.

Só uma dica:

Ouvi na SIC -Noticias que nesta altura da Páscoa a tradição de Viseu é o Pão de Azeite. Acontece que, por imposição da ASAE, não pode ser utilizada aguardente caseira, mas apenas daquelas que ninguém sabe como são feitas mas têm rótulo. Às vezes bem parece que algumas das intervenções da ASAE têm a ver, exactamente, com excesso de consumo dessas bebidas rotuladas...

quinta-feira, março 20, 2008

Algumas reflexões a ver passar os comboios

Foto tirada daqui

(...) pagava para ver as pontes de pedra renovadas, as linhas de aço reconstruídas cheirando a madeira tratada, as estações com jardins floridos e os seus depósitos de água elevados brilhando num cinzento prata; pagava para ver a floresta em volta, a água correndo nos rios e ribeiros, homens cortando lenha para a lareira de casa, pessoas à espera do comboio e putos correndo em alegre gritaria no cais da espera; pagava, para pôr a cabeça ao vento, fechar os olhos e fazer " a viagem"- caiu-nos na caixa do correio, assinado por Lizardo, logo que anunciámos: Ele aí vem!

A ligação entre Aveiro e Salamanca através de comboio foi a melhor notícia que recebemos desde há muito. Apesar de estar longe do cenário desenhado no “mail” que transcrevemos, pode representar um importante elemento estruturante do ordenamento desta região e um estímulo. Ou não. Tudo depende do modo como decidirmos participar neste debate e de como projectarmos o futuro.

Não sabemos qual o trajecto previsto. No entanto, as características do terreno não devem deixar grandes alternativas ao máximo aproveitamento do vale, evitando os custos da construção nas serras circundantes. Também não é aceitável que um comboio que terá como principal objectivo o transporte de mercadorias e que se prevê circular a velocidades superiores a duzentos quilómetros por hora, reedite as velhas paragens em cada sede de concelho. Ora, tudo isto constitui um enorme desafio para a região que só pode ser vencido. Caso contrário, arriscamo-nos a ficar com os prejuízos da obra (impacto ambiental), sem nada beneficiar com ela.

Lafões está, neste momento, totalmente dependente do transporte rodoviário. Mais precisamente, do transporte rodoviário individual, já que o colectivo está longe de oferecer qualidade e quantidade que nos faça pensar duas vezes antes de decidirmos usar o automóvel. O problema é que a evolução do preço do petróleo e o agravamento da situação ambiental, vão penalizar, a curto prazo, esse meio de transporte, o que se irá reflectir quer nos bolsos dos locais, quer nos daqueles que nos visitam.

Para que o comboio seja uma alternativa a tudo isto, é necessário que os preços praticados no transporte de passageiros sejam convidativos. É também necessário que sejam organizadas ligações de qualidade, entre a paragem mais próxima (provavelmente Viseu) e a região. Para isso, é preciso entrar desde já no debate e fazê-lo com espírito de equipa: os três concelhos de Lafões representam mais de quarenta mil cidadãos interessados no aproveitamento possível do comboio; representam, ainda, uma imensa região, riquíssima quanto a património natural e edificado, que muito pode beneficiar com o melhoramento. É essa a sua força, é essa a sua responsabilidade.

Não sabemos se a partir da nova linha será possível recuperar e aproveitar alguns troços da antiga para fins turísticos (bem gostaríamos que assim fosse). Mas temos a certeza de que um correcto aproveitamento do comboio será um enorme contributo para a defesa da “floresta, da água e dos homens” desta região e de todo o País, pondo a nu a irresponsabilidade dos que até agora o combateram ou ignoraram. Tal como os “putos correndo em alegre gritaria”, ele é o futuro. E nós queremos embarcar nessa "viagem".

segunda-feira, março 17, 2008

ESCREVER PARA O PASTEL DE VOUZELA

Ao aceitar, ou fazer-me convidado, para escrever no Pastel de Vouzela, confesso que não sabia que tinha obrigatoriamente de escrever sobre Vouzela.


Na verdade o que eu gostava era de falar da manifestação dos Professores e da cara de engeitadinha da senhora ministra. Mas não. É sobre Vouzela e mais nada. Acreditem que mesmo para quem quasi ali nasceu, andou na escolaa que agora é junta de freguesia, apanhou míscaros no caminho para a Foz onde ia tomar uma bela banhoca no rio Vouga e na volta apanhava uvas dos quintais limítrofes do caminho, não é fácil falar de Vouzela.

O que eu queria mesmo era dizer mal do Ministro da Agricultura e Pescas e da sua incompreensível posição sobre as cotas disto e daquilo, sempre subserviente a Bruxelas. Mas não. O tema é Vouzela. Vouzela é a melhor terra do mundo: calma, limpa e acolhedora que sabe manter e preservar os seus costumes (será que sabe?). Mas não consigo passar sem me rir da cara do Ministro da Economia e das suas bombásticas e cada vez menos credíveis declarações publicas, tratando-nos como atrasados mentais quando se refere ao aumento das exportações que face à crise mundial, toda a gente percebe que vão diminuir, ou que é mentira que a alectriciade em Espanha seja 30% mais barata que em Portugal. Pára Zé! O que interessa é Vouzela. Vouzela é o café da Dona Carlota, a vitela do Matos, a Fonte da Nogueira, o São Frei Gil, o Gamardo e as festas do Castelo. Mas o que é isto comparado com o Ministro das Finanças que diz que talvez já possa reduzir os impostos e no dia seguinte vem o outro e diz que quem fala em reduzir impostos é irresponsável? Então há ministros irresponsáveis no Governo? Calma, que o que interessa é Vouzela.

Vouzela é o centro de uma das regiões que se fosse espanhola seria um grandioso centro de atracção turística. Infelizmente para a população desta região e felizmente para os forasteiros(excepção feita ao facto de não terem onde dormir), Vouzela é assim há cinquenta anos, e é bom viver lá. Perdoem-me mas viver lembra-me construção e não posso deixar de pensar no Ministro das Obras Publicas. "Jamais, jamais", disse ele. Ontem era a Ota, hoje é Alcochete. Ontem eram as scuts sem portagens hoje passam a pagar, ontem isto, hoje aquilo e amanhã outra coisa completamente diferente.

Ah! Voltemos a Vouzela. Vouzela é a Vila que tem tudo para ser aquilo que não é porque os vouzelenses não querem que seja; francamente já não sei se estão certos ou errados, porque para fazer burrada está aí o Governo. Pronto lá estou eu de novo a falar do que não devo, mas não resisto a lembrar a trapalhada da reforma da saúde, que irá afectar Vouzela (boa, isto é sobre Vouzela) e do ridículo da proposta sobre a experiência piloto da venda de unidoses de medicamentos que já está em prática há dezenas de anos em dezenas de países, mas que à cautela vamos ensaiar numa farmácia hospitalar que ainda não existe e que, claro, nada tem a ver com o lobby das farmacêuticas. A propósito: Vouzela também são as figuras incontornáveis do Sr. Figueiredo, Dr. Telmo e do Dr. Simões (que merecia bem mais do que a rotunda a que deram o seu nome) e já agora do Dr. Arsénio que faz jus ao nome.

Mas amargo mesmo é o nosso primeiro. Ele grita, ele gesticula, ele faz o que quer e sobra-lhe tempo e esquecido da velha teoria do "oasis" vai apregoando que a enorme crise mundial que já começou e que dia a dia se agrava, não nos irá afectar porque ele tomou as medidas certas e como tal seremos um farol no meio do oceano revolto e o povão vai aguentando. Quem o viu e quem o vê. E aquela reunião do PS em que só se fala das coisas boas? E a proposta de lei sobre os "percings" e as tatuagens? Isto é que é democracia! Se fosse o Chavez chamavam-lhe nomes. E o outro que quer cobrar as quotas em dinheiro vivo? Vai ser fartar vilanagem. E o dos submarinos e das fotocópias? E o do Casino/Parque Mayer. Não há dúvida: deixem-me viver em Vouzela, se possível sem rádio, televisão e jornais, e serei um homem feliz.
____________
Nota: O problema das instalações hoteleiras de Vouzela teve, recentemente, uma evolução muito positiva (ver aqui). Isto prova que há iniciativa, há vontade, falta um projecto e uma estratégia.

O debate já começou

Resta saber quem vai participar...

A cidade de Viseu continua à espera do TGV ( até 350 km/h), ou “linha de velocidade elevada”( até 250 km/h), alternativa, que o governo apresentou no início de 2007, como a mais viável, para o troço Aveiro , Viseu , Salamanca. De uma maneira ou de outra, voltar a ter comboio, depois de destruídos os ramais do Dão e Vouga, é uma vontade que une todas as forças políticas, autarcas e associações empresariais (ver aqui, onde chegámos a partir daqui).

quarta-feira, março 12, 2008

Ele vai mesmo voltar

Pois vai. O comboio vai voltar. Resta saber como, o que podemos beneficiar com isso e até que ponto teremos capacidade para influenciar essas decisões. Como grande obra estruturante, com inevitáveis impactos no ordenamento do território, seria importante que contasse com uma grande mobilização da opinião pública. No entanto, até agora, não consta que os nossos autarcas tenham o assunto na sua lista de prioridades. Pois aqui vai mais um modesto contributo, uma simples tentativa, para alterar esse estado das coisas.

O texto que se segue, foi publicado no Viseu, Senhora da Beira, no passado dia 11 de Março (que, por sua vez, o foi buscar aqui). Já é de final de Dezembro de 2007, da autoria do Professor António Brotas que o publicou na Gazeta da Beira. Fala nas opções para o TGV e perspectiva uma ligação Aveiro-Vilar Formoso sem ser para comboios de alta velocidade. A este respeito alerta para o facto dos autarcas de Viseu ainda não se terem apercebido das “potencialidades imensas que esta linha trará à região” e defende o início urgente desse debate, em que a imprensa regional “pode ter um papel importantíssimo”. Os sublinhados são nossos.


Texto do Prof. António Brotas

Resposta ao Conselheiro Mário Magalhães Araújo Ribeiro.
Na página 29 da Gazeta da Beira de 13 de Dezembro o Ex mo. Senhor Juiz Conselheiro Mário Magalhães Araújo Ribeiro dirigiu-me algumas perguntas sobre os comboios TGV e apresentou uma sugestão relacionada com a linha de Lisboa para o Porto. Sem a pretensão de encerrar o assunto, e desejando pelo contrário que outros o continuem, respondo com agrado às questões postas, cruciais para o país e muito em particular para a Beira Alta.
1- O problema central (e actual) dos nossos Caminhos de Ferro não é o da urgência em termos comboios de alta velocidade TGV (ou CGV) nem mesmo o da saturação de algumas linhas, mas sim o da mudança da bitola a que somos obrigados por a Espanha a estar fazer aceleradamente.
2- As duas redes de bitola ibérica e europeia (“standard”) com materiais circulantes diferentes terão de coexistir no nosso país durante talvez duas ou três décadas. No futuro, daqui a trinta ou quarenta anos, só teremos comboios de bitola europeia mas, de momento, temos de criar a segunda rede mantendo a primeira em funcionamento. (A solução dos comboios que podem mudar o afastamento das rodas em estações com intercambiadores, só possível para comboios de passageiros e não de mercadorias, é uma solução a por de lado, a só usar, eventualmente, em casos muito particulares).
3-As linhas de bitola europeia do Pinhal Novo e do Poceirão (na Península de Setúbal) até Badajoz, e de Aveiro a Vilar Formoso (esta com estações perto de Viseu e da Guarda) são, manifestamente, as nossas grandes prioridades, não tanto por causa do problema dos passageiros, mas, sobretudo, por causa das mercadorias.
4-A linha para Badajoz é fundamental para o trânsito das mercadorias de todo o Sul do país, em particular da península de Setúbal, para a Europa. Tudo leva a crer que a sua construção venha a ser decidida na Cimeira Ibérica de 2007 (adiada para Janeiro ou Fevereiro de 2008). Esta linha que deve deve servir para os futuros comboios TGV de Lisboa a Madrid, deve ser projectada com características semelhantes às da linha de Badajoz a Madrid, ou seja, para permitir o trânsito de comboios de alta velocidade o que, dada a natureza plana do Alentejo, nem sequer a encarece muito.
5-A linha de Aveiro a Vilar Formoso de bitola europeia é igualmente fundamental para o trânsito das mercadorias de todo o Norte para a Europa, e para o escoamento pelo porto de Aveiro dos produtos da Castela espanhola. Infelizmente, poucos se têm batido por ela e assistimos ao pedido verdadeiramente descabido da construção de um ramal de Alcafache a Viseu, término de uma linha bitola ibérica de Lisboa a Viseu, que nenhum governo com um mínimo de competência e bom senso aceitará construir.
6-Dado o acidentado da região, a linha de Aveiro a Vilar Formoso não será destinada a comboios TGV, mas sim a comboios com uma velocidade máxima , talvez, de 220 km/h. Os autarcas de Viseu, aparentemente, ainda não se aperceberam das potencialidades imensas que esta linha trará à região. As suas preocupações, neste momento, deviam ser a de lutar para a sua construção ser decidida o mais brevemente possível, eventualmente, na Cimeira Ibérica 2009 e, simultaneamente, começar a pensar se a linha deve passar a Norte ou a Sul de Viseu. São questões em que o a Imprensa regional pode ter um papel importantíssimo.
7-Na linha de Vilar Formoso a Salamanca, os espanhóis optaram pela solução de rectificar as curvas e de alargar a plataforma para duas vias, uma para comboios de bitola europeia e outra para comboios de bitola ibérica, que circularão nos dois sentidos. Os estudos estão feitos há mais de dois anos. Daqui a umas décadas, quando a linha de bitola ibérica passar a europeia, ficarão com a linha dupla de bitola europeia. No nosso território, dado o acidentado do terreno, não podemos proceder do mesmo modo. Temos de manter a linha da Beira Alta em funcionamento tal como está durante mais uma décadas e construir de raiz, com um traçado conveniente, uma linha de Aveiro a Vilar Formoso com uma plataforma para duas vias, podendo no início construir só uma , mas ficando com espaço para a segunda. É uma obra que tem custos mas não extraordinários. É ridículo um país não ser capaz de fazer uma linha de caminho de ferro de 200 km fundamental para o seu futuro, sobretudo numa altura em que tem créditos internacionais para o ajudar.
9-A linha de Lisboa ao Porto não é uma prioridade. A solução sugerida pelo Conselheiro Magalhães Ribeiro não é indicada porque manteria a solução ibérica, porque o pior que há em Caminhos de Ferro é modernizar uma linha em funcionamento, e porque os problemas difíceis são perto de Lisboa e do Porto, exactamente onde é mais complicado e caro duplicar a linha. Não vou aqui falar dos problemas perto de Lisboa, que têm de ser conjugados com o problema da travessia ferroviária do Tejo que, a meu ver, não é também uma obra prioritária , pelo menos prioritária em relação à linha de Aveiro a Vilar Formoso.
10-Mas, no que diz respeito ao Norte, o que tenho sugerido é que se comece a estudar e construa imediatamente a seguir à linha de Vilar Formoso a Aveiro um troço de bitola europeia de Aveiro ao Porto, integrável na futura linha TGV de Lisboa ao Porto, a construir bastante mais tarde. Este troço pode ter uma importância imensa para o tráfego ferroviário do Norte: liga o Norte à rede europeia de Caminhos de Ferro; pode servir para muitos comboios diários de acesso ao Porto vindos das zonas a Sul; fará com que as pessoas se reabituem a viajar de comboio do Porto para Viseu e para a Guarda. Temos de ter presente que as linhas de bitola europeia são importantes para as nossas ligações ao exterior mas serão, também, e para isso devem ser pensadas, as linhas do futuro tráfego ferroviário interior.
Nota adicional: Se um dia voltasse a dar aulas, gostaria de me encarregar de uma cadeira de Transportes no Instituto Politécnico de Viseu. No primeiro dia, dividia os estudantes em dois grupos e dizia-lhes: “Vamos tirar à sorte. Um grupo vai estudar a passagem da futura linha de bitola europeia a Norte de Viseu e outro a Sul . São vocês que têm de procurar e reunir toda a informação. Têm de dominar as técnicas de informação geográfica, de visitar o terreno, de buscar informações técnicas, históricas e económicas, de fazer entrevistas. Devem estudar soluções encontradas noutros países e debruçar-se sobre o problema de como é que as sociedades tomam decisões neste tipo de problemas. Devem debruçar-se sobre os custos , o impacto ambiental e discutir a influência sobre o desenvolvimento. Devem habituar-se a apresentar soluções (mesmo que ingénuas) a defende-las e a critica-las (as vossas e a dos outros). Devem ousar fazer programas de computador (no início rudimentares) de apoio ao traçado de vias ferroviárias na vizinhança de cidades. No final do semestre, devem ter dois dossiers para enviar ao Ministério e aos políticos e ás forças vivas da região. Eu limitar-me-ei a dar-vos sugestões, a fazer críticas e dar-vos algum auxílio quando solicitado. Farei como os antigos assistentes de Desenho do Técnico, que passeavam entre os estudantes quando eles desenhavam.(17 de Dezembro de 2007)
António Brotas, Professor Jubilado do ISTPS
Envio este texto à Gazeta da Beira, de São Pedro do Sul e a vários outros jornais. Terei gosto se sobretudo na Beira e no Centro despertar interesse para os assuntos referidos.
_________________
Outros textos sobre o assunto (aqui e aqui) da autoria do Prof. António Brotas.

segunda-feira, março 10, 2008

Morremos à espera que nasça o “homem novo”

A propósito do diagnóstico de necessidades de qualificação na região de Lafões

Foto: Guilherme Figueiredo

“70% das empresas desvalorizam a certificação escolar dos seus trabalhadores, valorizando as competências profissionais”.

Esta foi uma das conclusões do “Diagnóstico de Necessidades de Qualificação de Recursos Humanos”, estudo que visou identificar as carências de qualificação na região de Lafões. Também se ficou a saber que apenas 30% das empresas contactadas, admitiram a possibilidade de virem a organizar um plano de formação profissional.

Claro que a região de Lafões é excessivamente pequena para que se possam generalizar as conclusões ao todo nacional (embora estejamos convencidos de que os resultados não devem andar longe destes). No entanto, este trabalho põe a nu alguns dos erros das políticas educativas que temos tido e mostra como é perigoso, a nível local, ficarmos à espera que a iniciativa privada tome a dianteira de um processo de mudança.

Adaptar a realidade aos desejos

Não é a primeira vez que, na História de Portugal, se alimenta a ilusão de alterar as limitações da sociedade e da economia, através da educação. Assim como quem tenta adaptar a realidade aos seus desejos, procurando criar um “homem novo”, culto, letrado, para servir de alicerce às mudanças desejadas. Tentámos isso, pelo menos, desde os tempos do Marquês de Pombal, altura em que já se reclamava pela “modernização da máquina administrativa”, tentando pôr cobro à “falta de elasticidade das organizações dependentes do Estado” que permitia “que à sua sombra se desenvolvessem escandalosamente fraudes de toda a espécie, abusos e especulações de toda a ordem” (1). Pois é. Como se vê é grande a nossa experiência nestas coisas, mas o modo como se respondeu teve sempre o mesmo resultado: o fracasso.

O aumento das habilitações académicas, da escolarização da população, não chega, por si só, para alterar seja o que for. Quando muito serve para melhorar o ambiente nos centros de emprego e em alguns locais de trabalho. Isso é evidente nos números de desempregados com licenciatura que têm sido divulgados e nas ocupações que, em desespero de causa, acabam por aceitar.

Para que o aumento das habilitações académicas se traduza em mudanças significativas na economia, é necessário que elas respondam a necessidades sentidas por esta última. Ou seja, devem ser a economia e a sociedade a fazerem exigências à escola e não o contrário. Se assim não for, não há qualquer garantia de que esse aumento de conhecimentos entre no mundo empresarial, correndo-se até o risco de, por ser ignorado, tornar incompreensível o aumento de escolarização exigido pelo Estado. É isto que os números do abandono escolar em Portugal mostram.

Claro que homens como os que administram empresas como a YDREAMS e outras de elevado valor acrescentado, têm consciência da relação existente entre a chamada cultura geral dos profissionais e a sua criatividade. Mas, infelizmente, estamos a falar de excepções e não da regra aplicável ao todo ou, sequer, à maioria do nosso tecido empresarial. Foi isso mesmo que concluiu o estudo feito na região de Lafões.

Assim sendo, esperar que uma iniciativa privada, maioritariamente insensível à importância da educação, contribua para alterar o actual estado das coisas, é quase como acreditar no Pai Natal. A experiência tem mostrado que mais depressa encerram as empresas.

A nossa realidade...

Concentremo-nos nos números, cruzando-os com os divulgados pelo Director do Centro de Emprego de São Pedro do Sul (em entrevista concedida ao Notícias de Vouzela, publicada em 21 de Fevereiro último). 60% da população de Oliveira de Frades, Vouzela e São Pedro do Sul, limita as suas habilitações académicas ao 1º Ciclo. É precisamente este grupo o mais afectado pelo desemprego que, em Vouzela, no final de 2007, se traduzia em 344 inscritos no Centro de Emprego (61,3% do sexo feminino). Os dados disponíveis para Vouzela mostram ainda que o sector do comércio e dos serviços é o que mais contribui para o número de desempregados que, por sua vez, se distribuem maioritariamente pelos grupos etários dos 35-54 anos (47,6%) e superior aos 55 anos (26,4%). O sector primário não parece ter presença significativa. Quanto às empresas, 78% ignora qual a oferta formativa existente na região, ou considera-a desajustada. E se 70% dá mais importância às competências profissionais dos seus trabalhadores do que às suas habilitações académicas, a verdade é que apenas 30% admite vir a ter um plano de formação profissional. Os sectores em que a oferta de emprego é mais difícil de satisfazer, são os da metalurgia e metalomecânica, da construção civil, hotelaria e operadores de máquinas.

...que não se encaixa nos nossos desejos

Embora com todas as cautelas (por estarmos a usar informações com origens diferentes, relativas a cenários diferentes), parece-nos ser possível concluir estarmos perante uma grande maioria de desempregados pouco ou nada qualificada, a entrar numa faixa etária crítica do ponto de vista da formação/reconversão profissional e muitíssimo crítica do ponto de vista do aumento das suas habilitações académicas. O facto de mais de 60% ser constituída por mulheres e tendo em conta as características da nossa sociedade, permite antever alguns desajustamentos face à oferta de emprego existente, quer pelas áreas técnicas em questão, quer pelos horários de trabalho pretendidos.

Para responder a isto, temos uma maioria de empresas que privilegiam as competências específicas (profissionais) dos seus trabalhadores, às gerais (escolares), mas que não pensa tomar a iniciativa de promover a necessária formação. Seria interessante saber quais as expectativas destas empresas quanto à evolução qualitativa da oferta dos seus serviços e quantas admitem, a médio prazo, terem que alterar os seus procedimentos técnicos e, até, a sua área de intervenção.

Neste contexto, faz todo o sentido criar um Centro de Qualificações intermunicipal, tal como foi anunciado, de modo a ajudar os cidadãos e as empresas. Mas também faz, perder ilusões na capacidade da iniciativa privada, por si só, conseguir alterar a situação em que nos encontramos.

Os poderes públicos, nomeadamente os locais, têm que aumentar a sua intervenção, avaliando os recursos disponíveis (reais e não os desejáveis), identificando áreas de potencial interesse e, através da discriminação positiva, contribuir para a criação de serviços que não existem e para a evolução qualitativa dos restantes. Não faz qualquer sentido dizer que “o que falha é uma iniciativa privada forte” (ver nos comentários a este post) e depois limitarmo-nos, tal como na peça de Beckett, à espera de um Godot que nunca mais chega.

Se assim não for, acabaremos por morrer (enquanto comunidade) muito antes do tal “homem novo” ver a luz do dia.
___________________
(1)- História do Ensino em Portugal, Rómulo de Carvalho, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1986

quinta-feira, março 06, 2008

Guerra de audiências

Na agenda televisiva para hoje é só escolher: Benfica-Getafe na SIC pelas 20h30, Bolton-Sporting na TV1 pelas 20h00 e Grande Entrevista com a ministra da Educação na RTP1 pelas 21h00. Piscar de olho de Maria de Lurdes Rodrigues a Pinto da Costa (depois de ter recebido o apoio de Valentim Loureiro), ou falta de confiança da RTP no interesse do serviço? Cá para mim, está encontrada a nova equipa técnica do Futebol Clube do Porto.

Está bem, podem dizer que isto foge dos temas do Pastel de Vouzela, mas não podemos ser insensíveis às grandes questões nacionais. Que futuro terá Portugal na Europa ou, melhor dizendo, nas provas da UEFA?

As ervas daninhas ocupam o espaço da indiferença

Crise económica não rima com planeamento, reflexão, ordenamento. Há quem se aproveite disso. Nem sempre os grandes anúncios suportam as melhores causas.

Eucaliptos, esses nossos conhecidos


Quem semeia ventos...


Pinhosão

Estudo sobre o aproveitamento hidroeléctrico do Pinhosão (consultar aqui).

Quando não se sabe o que fazer...

Resposta do grupo parlamentar à denúncia dos abusos da ASAE:

O PS respondeu com a referência à criação de um grupo de trabalho, no âmbito da Comissão Parlamentar de Economia, para elaborar uma lista de produtos tradicionais portugueses que possam ter uma excepção aos regulamentos comunitários.

segunda-feira, março 03, 2008

Para além das aparências

Magritte

É uma daquelas ideias que se aceitam sem pensar, à custa de muito ter sido repetida: aumentar a oferta de habitação não só ajuda a fixar população como a atrai. Ainda recentemente, num comentário ao estudo sobre a qualidade de vida nos diversos concelhos do país, o Notícias de Vouzela (28/02/2008) adiantava como uma das causas da melhor posição de Oliveira de Frades face aos restantes da região de Lafões, "a área disponível para construção". Parece simples e incontestável. Não é.

Usando como referência os números fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (podem ser consultados a partir daqui) e ainda os disponíveis na Wikipedia, o concelho de Oliveira de Frades não só é o menos populoso, como há muito não regista aumento significativo da população. O máximo que se pode dizer é que não a perde. Quanto ao resto, padece dos mesmos males dos outros concelhos, nomeadamente um índice de envelhecimento superior à média nacional.

Analisando os três concelhos conjuntamente, percebe-se não haver capacidade de atracção em qualquer deles, com a agravante de São Pedro do Sul e de Vouzela terem sofrido uma sangria a partir da década de 80 de que nunca mais conseguiram recuperar. Ora, basta recorrermos à memória para concluirmos que, no mesmo período, a construção não parou de aumentar nos três concelhos (sobretudo em Oliveira e São Pedro).

Mas, quando tentamos ver para além das aparências e nos confrontamos com a “verdade dos números”, não só é fácil perceber a inconsistência do argumento, como se torna evidente a existência de um outro problema preocupante. Se aumentou a construção e a população estagnou ou até diminuiu, isso quer dizer que por cada habitação nova ocupada, uma outra ficou ao abandono, foi demolida ou alterou a sua função. Foi precisamente este fenómeno que deu origem a uma urbanização do território em “mancha de óleo”, provocando uma ocupação excessiva, quando a tendência até era para que a esmagadora maioria da população se concentrasse numa área cada vez mais restrita (litoral). Pior: as novas construções provocaram, muitas vezes, a total descaracterização das localidades.

A relação directa entre criação de oferta ao nível da habitação e a capacidade para fixar e até atrair população, foi o grande dogma dos anos dourados da "monocultura do tijolo". Independentemente dos interesses envolvidos, foi uma ideia grata ao poder autárquico que baseou nela a sua ideia de progresso, conseguindo ir calando a crítica com a criação de emprego e o enriquecimento fácil. Hoje conhecemos o outro lado da história. A brincadeira só foi possível à custa da exploração intensiva do mercado interno, deixando quilómetros de obra inútil (seria interessante conhecer números reais quanto a edifícios/apartamentos desabitados na nossa região), um território completamente desorganizado e a população endividada. Terminado o tempo das aparências, importa compreender que desenvolvimento e qualidade de vida exigem muito mais do que grandes consumos de cimento.

domingo, março 02, 2008

Alterações na embalagem-III

Foto: Margarida Maia

O problema de fotografar os pastéis é que, no momento em que tudo está pronto e o artista se prepara para o disparo… já não há pasteis. Comeram-se e apenas resta a caixa. E de tanta caixa observarmos, decidimos usá-la. Dos modelos existentes (dois), optámos por este. Do conjunto da embalagem, seleccionámos as letras. E o resultado aí está, da autoria da Filipa, a partir de uma foto da Margarida. Ponto final (ou talvez não...).

sábado, março 01, 2008

Quem te avisa…

Sobre as cheias:

“(…)vão repetir-se, porque se tem aumentado a impermeabilização devido ao excesso de construção e continua a fazer-se más obras que impedem a circulação da água. E não se diga que a culpa é da intensidade das chuvas, nem é das alterações climáticas”.

Sobre a Reserva Ecológica e a Reserva Agrícola Nacional (REN e RAN):

“São poucas as pessoas que entendem o seu alcance, a importância que tem, para a comunidade, a preservação do território e da paisagem. O conceito de desenvolvimento aparece erradamente associado à produção de dinheiro a curto prazo, o que não é compatível com a boa gestão dos recursos naturais nem com a necessidade da sua renovação permanente”.

Sobre a agricultura e o incentivo à exploração intensiva dos olivais:

“Só não é sinónimo (de subdesenvolvimento) quando aparece por aí a agricultura intensiva, como a que veio, há uns anos, para Odemira [na Herdade do Brejão, do empresário Thierry Roussel, que produziu morangos em regime intensivo e entrou em falência, deixando os campos contaminado].

(…)

Aquilo é apenas negócio e falta de conhecimento de quem aprova estes projectos. Aquela olivicultura dura 10 anos, é uma espécie de eucaliptal de azeitona. Depois os empresários, que são sobretudo de Espanha e que trazem de lá os trabalhadores, vendem aquilo quando até as produções estão no auge. Mas depois caem abruptamente. Fazem como os alemães fizeram com os laranjais em Angola. Não podemos cair num jogo desses.”

A reflexão lúcida do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, numa entrevista dirigida por Pedro Almeida Vieira e publicada na revista Notícias Sábado. A partir daqui.