DIA MUNDIAL DA POESIA
Entre os muitos dias disto e daquilo passou-se o da poesia.
Convenhamos que, como os restantes dias disto e daquilo, todos os dias o deveriam ser.
Mas não quero deixar de aproveitar o ensejo para transcrever três poetas que me são caros:
ALBERTO CAEIRO
(O guardador de rebanhos – XLII)
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
O sol é sempre pontual todos os dias.
ALEXANDRE O’NEILL
(Portugal - excerto)
Ó Portugal, se fosses só três silabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol o sul,
o ladino pardal
o manso boi coloquial
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
ANTÓNIO ALEIXO
(Quadras soltas)
Condecoro o Presidente...
E sabem porque razões?...
- Por ter posto a tanta gente
Tantas condecorações!
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!
Prometem ao Zé Povinho
Liberdade, Lar e Pão...
Como se o mundo inteirinho
Não soubesse o que eles são!
E por aqui me fico. Leiam poesia e os dias serão mais doces.
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