Para além das aparências
É uma daquelas ideias que se aceitam sem pensar, à custa de muito ter sido repetida: aumentar a oferta de habitação não só ajuda a fixar população como a atrai. Ainda recentemente, num comentário ao estudo sobre a qualidade de vida nos diversos concelhos do país, o Notícias de Vouzela (28/02/2008) adiantava como uma das causas da melhor posição de Oliveira de Frades face aos restantes da região de Lafões, "a área disponível para construção". Parece simples e incontestável. Não é.
Usando como referência os números fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (podem ser consultados a partir daqui) e ainda os disponíveis na Wikipedia, o concelho de Oliveira de Frades não só é o menos populoso, como há muito não regista aumento significativo da população. O máximo que se pode dizer é que não a perde. Quanto ao resto, padece dos mesmos males dos outros concelhos, nomeadamente um índice de envelhecimento superior à média nacional.
Analisando os três concelhos conjuntamente, percebe-se não haver capacidade de atracção em qualquer deles, com a agravante de São Pedro do Sul e de Vouzela terem sofrido uma sangria a partir da década de 80 de que nunca mais conseguiram recuperar. Ora, basta recorrermos à memória para concluirmos que, no mesmo período, a construção não parou de aumentar nos três concelhos (sobretudo em Oliveira e São Pedro).
Mas, quando tentamos ver para além das aparências e nos confrontamos com a “verdade dos números”, não só é fácil perceber a inconsistência do argumento, como se torna evidente a existência de um outro problema preocupante. Se aumentou a construção e a população estagnou ou até diminuiu, isso quer dizer que por cada habitação nova ocupada, uma outra ficou ao abandono, foi demolida ou alterou a sua função. Foi precisamente este fenómeno que deu origem a uma urbanização do território em “mancha de óleo”, provocando uma ocupação excessiva, quando a tendência até era para que a esmagadora maioria da população se concentrasse numa área cada vez mais restrita (litoral). Pior: as novas construções provocaram, muitas vezes, a total descaracterização das localidades.
A relação directa entre criação de oferta ao nível da habitação e a capacidade para fixar e até atrair população, foi o grande dogma dos anos dourados da "monocultura do tijolo". Independentemente dos interesses envolvidos, foi uma ideia grata ao poder autárquico que baseou nela a sua ideia de progresso, conseguindo ir calando a crítica com a criação de emprego e o enriquecimento fácil. Hoje conhecemos o outro lado da história. A brincadeira só foi possível à custa da exploração intensiva do mercado interno, deixando quilómetros de obra inútil (seria interessante conhecer números reais quanto a edifícios/apartamentos desabitados na nossa região), um território completamente desorganizado e a população endividada. Terminado o tempo das aparências, importa compreender que desenvolvimento e qualidade de vida exigem muito mais do que grandes consumos de cimento.
Analisando os três concelhos conjuntamente, percebe-se não haver capacidade de atracção em qualquer deles, com a agravante de São Pedro do Sul e de Vouzela terem sofrido uma sangria a partir da década de 80 de que nunca mais conseguiram recuperar. Ora, basta recorrermos à memória para concluirmos que, no mesmo período, a construção não parou de aumentar nos três concelhos (sobretudo em Oliveira e São Pedro).
Mas, quando tentamos ver para além das aparências e nos confrontamos com a “verdade dos números”, não só é fácil perceber a inconsistência do argumento, como se torna evidente a existência de um outro problema preocupante. Se aumentou a construção e a população estagnou ou até diminuiu, isso quer dizer que por cada habitação nova ocupada, uma outra ficou ao abandono, foi demolida ou alterou a sua função. Foi precisamente este fenómeno que deu origem a uma urbanização do território em “mancha de óleo”, provocando uma ocupação excessiva, quando a tendência até era para que a esmagadora maioria da população se concentrasse numa área cada vez mais restrita (litoral). Pior: as novas construções provocaram, muitas vezes, a total descaracterização das localidades.
A relação directa entre criação de oferta ao nível da habitação e a capacidade para fixar e até atrair população, foi o grande dogma dos anos dourados da "monocultura do tijolo". Independentemente dos interesses envolvidos, foi uma ideia grata ao poder autárquico que baseou nela a sua ideia de progresso, conseguindo ir calando a crítica com a criação de emprego e o enriquecimento fácil. Hoje conhecemos o outro lado da história. A brincadeira só foi possível à custa da exploração intensiva do mercado interno, deixando quilómetros de obra inútil (seria interessante conhecer números reais quanto a edifícios/apartamentos desabitados na nossa região), um território completamente desorganizado e a população endividada. Terminado o tempo das aparências, importa compreender que desenvolvimento e qualidade de vida exigem muito mais do que grandes consumos de cimento.
3 comentários:
Gosto muito das letrinhas dos pasteis,embora os próprios sejam imprescindíveis,eu não os dou a ninguem...
Um abraço a quem tanto faz pelo Blog.
Olha o saudoso Manel! Aparece mais vezes que os pasteis estão garantidos.
Sempre que em Vouzela se fala de desenvolvimento raras são as vezes em que Oliveira de Frades não é dada como exemplo, sobretudo pelo volume de construção que ali tem sido feito.
É inegável que muitas das empresas instaladas no Parque Industrial têm contribuído para a fixação da população local e importado mão de obra de outras zonas.
Nem sempre estamos a falar de mão de obra qualificada que aufira salários que lhes permitam ter acesso à compra de habitação pelo que estamos certos que há já excesso de oferta.
Por outro lado este tipo de desenvolvimento trás consigo vários problemas sociais, como o aumento da criminalidade (dizem-me que a noite em Oliveira está a ficar perigosa), da prostituição etc.. Mas este foi o modelo que os governantes locais optaram e honra lhes seja feita terão conseguido.
Outra coisa é achar que este deva ser o modelo a seguir em Vouzela. Quem assim pensa está profundamente errado.
Vouzela foi, é e será sempre um destino turístico onde os “stressados” das zonas “desenvolvidas” vêm relaxar, porque aqui tudo é calmo, seguro, e belo, e tirando alguns mamarrachos municipalmente autorizados, conseguiu manter a sua traça própria.
Infelizmente esta inegável constatação nunca foi levada a sério pelos sucessivos autarcas que nada fizeram para transformar Vouzela num local apetecível para se estar ainda que de passagem. Não há oferta hoteleira (finalmente vai ser inaugurada a Casa Museu e aproveito desde já para dar os parabéns ao Tozé e à Celeste Carvalho), os restaurantes são fracos (excepção feita ao Matos) e oferta cultural não existe.
Quanto ao comércio estamos conversados. Hoje sábado às 12.00 horas poucas eram as pessoas que andavam nas ruas e muito menos às compras.
Vouzela necessita urgentemente de traçar uma linha para o futuro sob pena de a curto prazo não ter população para manter o estatuto de Vila.
Porque não criar um grupo de trabalho, constituído por técnicos de diferentes áreas (e há vouzelenses enm todas elas) que em conjunto com a Autarquia estude, desenvolva e implemente um programa de acção, não para transformar, mas para devolver a Vouzela aquilo que já foi.
Mais importante que o dinheiro que todos sabemos ser escasso, são as ideias, o bom senso e e o bom gosto que com a colaboração de todos não têm custos.
Enviar um comentário