sábado, março 22, 2008

PECADOS MORTAIS

Dos sete pecados antigos, acredito que os que em Vouzela eram mais praticados seriam a inveja (se a loja do António está a dar, vai de abrir outra ao lado e depois outra ainda; ou se o vizinho comprou um tractor de 50 cavalos há que comprar um de 80 , ou se a amiga tem uma "volta" de ouro a outra vai querer duas), a gula (quem é que resiste a uma boa vitelinha grelhada, a um cabritinho da serra assado no forno, a um bacalhau à lagareiro já para não falar do folar, do leite creme e dos inconfundíveis pasteis) e a avareza (que só conheço em elevado grau em meia dúzia de pessoas, mas que se confunde com precaução ou medo de arriscar, na grande maioria).

Na verdade os restantes quatro nunca tiveram grande expressão, possivelmente por questões genéticas (ira e preguiça) , económicas (vaidade) e populacionais (a luxuria em terras pequenas é sempre um risco).

Mas de repente as iluminadas cabeças do Vaticano lembraram-se que Vouzela existe e vai de arranjar alguns novos pecados que podem perfeitamente adaptar-se

Ora vejamos:

Poluição ambiental: será agora que irão deixar de ser lançados ao Vouga e ao Zela os restos dos abates de alguns agricultores, ou os entulhos deixados na bermas das estradas, e o excesso de adubos que atingem os lençois freáticos, ou que finalmente a ETAR conjunta da CMV e da CMSPS irá funcionar em condições?

Manipulação genética: não acredito que venha a constituir perigo a curto prazo, mas com o aumento do preço dos cereais devido ao biodiesel, não se pode garantir que a médio prazo não venha a acontecer, isto se ainda houver agricultores. Mas que era bem feito manipular um dos muitos cães vadios que por aí há e transformá-lo numa vitela de Lafões lá isso era.

Acumulação excessiva de riqueza: sobre este só podíamos falar da pessoa que todos sabem quem é pelo que não o farei.

Infringir pobreza: aqui está um problema que não é só de Vouzela, é nacional e cada vez tem mais peso na nossa sociedade. Talvez não fosse má ideia encomendar um estudo sobre a pobreza no nosso concelho e por certo que os resultados iriam deixar muita gente preocupada. Talvez ajudasse a reformular a política local com vista a melhorar as condições de vida dessa franja da população.

Tráfico e consumo de droga: embora sem as proporções dos grandes centros, já é preocupante o que se passa em Vouzela, até porque são conhecidos os consumidores (e nada é feito para a sua recuperação) e os vendedores (e nada é feito para a sua detenção).

Experiências moralmente debatíveis: este é dos tais que dá para tudo. Será que se estão a referir a certas posições do Kamasutra que deveriam ser debatidas pelos intervenientes antes de, ou se deverá ser previamente debatido com o parceiro do lado o arremesso de uma garrafa ao guarda-redes da equipa adversária. Experiências moralmente debatíveis são a avaliação dos professores, e outras medidas que a titulo “experimental” os governos fazem sem debater, ou que as Câmaras implementam sem ouvir previamente as populações. Dizem-me que tem a ver com a pedofilia. Mas então não seria mais lógico pura e simplesmente dizer que a pedofilia é pecado, ou o texto foi redigido por alguém da diocese de Boston?

Violação dos direitos humanos: este também terá mais importância nacional do que regional embora se possa considerar uma violação dos direitos humanos, por exemplo, trazer os carrinhos para o centro da vila quando podiam muito bem andar a pé, e a GNR andar a passar multas por estacionamento indevido; mas se não houvesse carros no centro da vila a quem é que a GNR passava multas, violando os seus direitos? Graves violações sem dúvida.

Por tudo o que foi dito os vouzelenses deverão estar atentes, porque Ele só está à espera que feche o Centro de Saúde para acertar as contas convosco, a menos que, como a religião prevê, antes de se finarem confessem os vossos pecados.

Só uma dica:

Ouvi na SIC -Noticias que nesta altura da Páscoa a tradição de Viseu é o Pão de Azeite. Acontece que, por imposição da ASAE, não pode ser utilizada aguardente caseira, mas apenas daquelas que ninguém sabe como são feitas mas têm rótulo. Às vezes bem parece que algumas das intervenções da ASAE têm a ver, exactamente, com excesso de consumo dessas bebidas rotuladas...

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