Nestas coisas do “Dia de...”, safa-se o de Natal e pelo caminho que as coisas levam, justificam-se os maiores receios. Os restantes, quedam-se pela inutilidade da rotina, naquele jeito de reconfortar consciências, quando nada mais se quer fazer. É o caso do “Dia Nacional da Água”. Comemorou-se a semana passada, sem que ela (a água) tenha motivos para agradecer.
Aproveitando a efeméride, o ministro do Ambiente anunciou uma medida...à sua medida: Portugal vai começar, já a partir de Janeiro, a pagar uma taxa (mais uma) sobre recursos hídricos que os outros países da União Europeia só vão pagar a partir de 2010. Mas, não contente com isso, Nunes Correia, deitando mão àquela inabilidade comunicacional que tem feito escola no actual governo, não arranjou melhor justificação para a coisa do que dizer:
“(...) Nós temos que fazer isto. Portugal é penalizado se não fizer isto. E, portanto, como o que tem que ser, tem muita força...” (
RDP- Antena 1)
Podia ter dito que se procurava racionalizar o consumo, penalizar o desperdício, podia ter dito tanta coisa e, no entanto, disse apenas o que não devia: que Portugal não tem qualquer estratégia para o sector, limitando-se a aproveitar a boleia de Bruxelas sempre que daí resulte o amealhar de receitas. Enfim, em bom português diz-se que lhe fugiu a boca para a verdade.
Ora, no mesmo dia, foram divulgados
resultados (a partir
daqui) de 20 amostras recolhidas pela Quercus em 14 dos principais cursos de água portugueses (ver
aqui a distribuição nacional). Se o “nosso” Vouga apresentou (surpreendentemente) valores razoáveis, o balanço geral não podia ser pior.
Como disse o dirigente Hélder Spínola, os principais focos de poluição
“continuam a ser os esgotos domésticos, que não têm ou têm um tratamento deficiente, o abandono de resíduos que contamina as linhas de água e as escorrências de campos de cultivo por se usarem pesticidas em excesso”. Ou seja, tanta coisa para Nunes Correia dissertar. Tanta coisa para que esperamos ideias de autoridades nacionais e locais, nem que mais não seja para fazerem algum sentido os impostos que pagamos.
Nós por cá...
Bem gostávamos de acreditar que vamos bem. No entanto, os receios são muitos. Na sua edição de 17 de Janeiro de 2008, o
Notícias de Vouzela publicava declarações da Delegada de Saúde, Dra. Maria Alexandre Cruz, que não deixavam margem para dúvidas:
“(...) há sistemas de tratamento deficientes e deficientes zonas de protecção das origens/ captações, situações estas que, embora não nos tenham originado até hoje grandes preocupações, exigem da parte dos responsáveis solução eficaz e urgente (...)”.Por outro lado, é antiga a suspeita sobre a qualidade das águas do Vouga, sobretudo a partir das Termas, havendo quem há muito defenda a necessidade de uma nova ETAR. No que à abundância de recursos diz respeito, nos últimos anos houve casos de falta de água em algumas freguesias e, ao mesmo tempo, “desapareceram” nascentes após a realização de algumas obras. O silêncio das autoridades locais sobre tudo isto, não é a melhor forma de recuperar a confiança dos cidadãos. O comércio da água engarrafada, agradece. Nós, não.