quinta-feira, outubro 30, 2008

Para além das “quatro linhas”

(Lápide comemorativa dos 50 anos do campo, que esperamos não se perca no meio do entulho das obras e encontre local condigno no novo espaço)

Chãs é o nome por que é conhecido o campo de futebol de Vouzela. Construído em 1930 com o objectivo de criar um espaço para a prática desportiva, está associado à criação da Associação de Futebol “Os Vouzelenses” que, na realidade, começou por ser muito mais do que um clube de futebol. Vai agora ser requalificado. Esperamos que a iniciativa vá muito para além das “quatro linhas”.

Ainda há não muitos anos, era uma zona predominantemente rural, no caminho que leva à foz do rio Zela. Depois, foi lá construída a Cooperativa Agrícola de Lafões e, mais recentemente, a Escola Profissional. Por um daqueles mistérios da nossa história recente, o local foi-se degradando, atingindo mesmo níveis inadmissíveis de desleixo. Quando se começou a falar na construção de novos equipamentos desportivos (piscina coberta, por exemplo), pensámos que se iria aproveitar para arrumar a casa, fazendo ali uma área de lazer, respeitando as características paisagísticas ainda dominantes. Assim não entenderam os responsáveis locais.

Hoje, no meio do verde e do que resta de algumas quintas, num percurso que devia ser uma das imagens de marca da vila, mas para onde se insiste em empurrar uma “expansão” pouco pensada, deparamo-nos com imagens como a que a fotografia ilustra.


Ficamos a torcer para que os 743 mil euros “sem IVA” que constituem o preço base do concurso público para a requalificação das Chãs, tenham a garantia de um projecto válido de arquitectura que respeite as características do meio e vá para além das “quatro linhas”.

quarta-feira, outubro 29, 2008

As canalizações estão todas rotas!

Portugal é o 6º maior consumidor de água de uma lista de 151 países organizada pela a WWF. No relatório agora divulgado, também se revela que a nossa área produtiva por habitante era, em 2005, de apenas 1,2 hectares, cerca de metade do considerado necessário. E tanta terra inculta no horizonte...

segunda-feira, outubro 27, 2008

Continuamos a vê-lo passar... (III)

1920's

Com carimbo "Edição da Casa AUGUSTO ROCHA"

Estas carruagens não eram, é claro, tão seguras como as modernas carruagens de passageiros, mas uma coisa é certa, se existissem hoje, qualquer turista as preferiria para apreciar a imensa beleza da nossa região.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Marcas da nossa identidade

Retirado do Visoeu

Há quem não aprenda. Há quem insista em confundir desenvolvimento com crescimento, ou, mais correctamente, com espaço ocupado, continuando a afirmar que construção civil activa é garantia de progresso certo. Não é. O que se passa é que, pela mão-de-obra que tem dependente e pelo conjunto de actividades que lhe estão associadas, a crise no sector da construção tem um efeito dominó, tanto mais grave quanto maior o seu peso. Infelizmente, a crise que estamos a viver veio provar o que há muito muitos denunciavam: tem peso a mais.

Numa região como a nossa, onde a população não tem aumentado (muito pelo contrário), desenvolveram-se alguns mitos relacionados com a falta de habitação e com a necessidade de aumentar a construção nos centros. A parte sincera desta preocupação, reflectia a desorganização que temos sentido, quer nas actividades económicas, quer nos serviços de apoio. De facto, com a crise da agricultura e da pecuária, e com a consequente limitação da oferta de emprego aos sectores secundário e, sobretudo, terciário, muitas pessoas tentaram organizar a sua residência junto dos locais de trabalho. Isto deu origem a um aumento da procura de habitação nas sedes dos concelhos, mas deu também origem, a um significativo abandono de habitações em zonas rurais. A total ausência de um serviço organizado de transportes, fez o resto.

No Visoeu, J. M. Duarte Figueiredo tem publicado um vasto conjunto de exemplos desse património rural que, um pouco por todo o país, está votado ao abandono. São paredes que resistem, marcas de um tempo em que as habitações estavam associadas às actividades económicas dominantes e em que os materiais de construção se limitavam aos recursos do meio. Mais do que isso, são a imagem da especificidade das regiões, a que poucos poderes deram a importância devida.

Exemplos como o que ilustra este texto, podem ser encontrados um pouco por toda a nossa região. Com a orientação técnica adequada, podem ser transformadas em excelentes habitações. Há quem, conhecedor, as procure com esse objectivo. Pena foi, que ninguém tenha informado disso os seus proprietários, tendo muitos deles acabado por gastar inutilmente capitais em construções que não têm, nem de perto nem de longe, o potencial destas.

Claro que de acordo com o credo ainda dominante no nosso poder local, isso seria uma “inadmissível interferência com o normal funcionamento do mercado”. Hoje, o mundo inteiro lamenta que ninguém tenha interferido com tal “normalidade”.

aqui chamámos a atenção para a importância de proteger marcas da nossa identidade com impacto paisagístico, como os muros e outras construções de pedra (também aqui). Promover a divulgação deste património, deste “roteiro do abandono” de modo a revitalizá-lo, pode ser mais um contributo para colocar alguma ordem num território que, só por ter sido amplamente bafejado pela “Mãe Natureza”, consegue ainda resistir a tanta asneira. E ele é o nosso principal trunfo económico.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Finalmente as 4 que faltam...

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Como não gosto de ver ninguém desesperado, aqui vão as 4 últimas vinhetas do álbum..., infelizmente não está em excelente estado, mas está carregadinho com 70 anos de história...e porque o CP anda à procura dele há tantos anos, fica aqui a promessa de lho oferecer!

Mais 4 vinhetas dos anos 30...

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Para deixar o CP roído de inveja, aqui vão mais 4 lindas imagens...

As famosas vinhetas de Vouzela...

Em primeira mão, com cerca de 70 anos de história, aqui estão 4 das 12 vinhetas de que falou o CP, na semana passada...
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sexta-feira, outubro 17, 2008

Duas ou três coisas sobre o Orçamento para 2009

. A gestão das medidas para ultrapassar a crise, vai ser feita pelos mesmos que a provocaram ou, pelos menos, se recusaram a ver a sua inevitabilidade. Não consta que os responsáveis locais e nacionais que apostaram num crescimento baseado na especulação imobiliária e no agravamento do consumo interno, se tenham demitido. Eles acreditam na nossa falta de memória. Valia a pena surpreendê-los, recordando-lhes algumas coisas que disseram e fizeram...

. Reflectindo a imagem do País que vai fazendo escola entre os nossos governantes, o orçamento olha, sobretudo, para o lado direito da A1, seguindo rumo ao Sul. Não se trata de uma imagem política. trata-se de constatar que algumas das principais preocupações da população do interior são, pura e simplesmente ignoradas, e que algumas das inovações se limitam aos residentes nos principais centros urbanos. Repare-se no incentivo ao pagamento de passes sociais pelas empresas, medida que se elogia e que pode, de facto, ter consequências significativas na circulação automóvel e no bolso das famílias. Quem vai beneficiar com ela? Nós não. Mas, também aqui, há que exigir mais das autoridades locais na reorganização dos serviços de transportes. Lembram-se de uma proposta feita pela vereadora Ângela Carvalhas para que o transporte escolar fosse gratuito? Foi recusada.

. No entanto, nem todas as portas estão fechadas ao Interior. Comentando as verbas destinadas ao sector que dirige, o ministro da Agricultura chamou a atenção para algumas prioridades: o olival, a hortofloricultura, a reconversão da vinha, floresta, sector das carnes e produtos tradicionais. Quanto ao olival, já sabemos que se refere ao que o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles chamou de “eucaliptal da azeitona”. Também sabemos que, para Jaime Silva, floresta é sinónimo de espécies de crescimento rápido. Mas, diz-se em bom português que “quem não arrisca, não petisca”.

. Uma das jóias da coroa deste orçamento, é o tal fundo para estimular o arrendamento. O futuro dirá se não estamos perante a criação, por parte do Governo, de uma oportunidade de negócio para as instituições financeiras. Apesar de ainda só existirem dúvidas sobre a sua organização, pode-se avançar, desde já, com uma certeza: os valores de mercado, ainda por cima num contexto recessivo, não vão cobrir grande parte dos empréstimos, sobretudo se tiverem pouco tempo de amortização. Sendo assim, o que sobra pode ser um grande "furo" para as instituições financeiras. E um grande buraco para os cidadãos.
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Oliveira de Frades e Vouzela não constam dos "beneficiados" pelo PIDDAC que aumenta a sua intervenção no Distrito.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Tudo sobre o Orçamento

Estamos em condições de garantir que, deste lado do Caramulo, sentimos a crise como todos os outros. Apenas as vistas são melhores. Por isso, interessa-nos o que por aí vem na forma de Orçamento para 2009, cuja complexidade, pelos vistos, está muito para além da capacidade dos computadores do Governo- já pensaram em comprar um "Magalhães"?

Pastel de Vouzela, habituado a questões delicadas, divulga um espaço (aqui) onde pode acompanhar tudo o que se vai dizer sobre o assunto. É da autoria do jornalista Paulo Querido e... funciona.
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Honestamente falando, chegámos lá a partir daqui.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Mira Vouga

1963

Parte de desdobrável publicitário emitido pela Comissão Municipal de Turismo em 1963 (10000 exemplares), impressos pela LITO ALVORADA - PORTO (outras partes do desdobrável serão mostradas oportunamente).


1930's (finais)


Contracapa do "álbum" de vinhetas de turismo publicadas pela LATINA no final dos anos 30. De referir que ando há anos à procura dessas vinhetas (é triste ter o álbum e não ter as vinhetas).

quinta-feira, outubro 09, 2008

Isto é que é meter água

Angel Boligan Corbo-Cuba
Nestas coisas do “Dia de...”, safa-se o de Natal e pelo caminho que as coisas levam, justificam-se os maiores receios. Os restantes, quedam-se pela inutilidade da rotina, naquele jeito de reconfortar consciências, quando nada mais se quer fazer. É o caso do “Dia Nacional da Água”. Comemorou-se a semana passada, sem que ela (a água) tenha motivos para agradecer.

Aproveitando a efeméride, o ministro do Ambiente anunciou uma medida...à sua medida: Portugal vai começar, já a partir de Janeiro, a pagar uma taxa (mais uma) sobre recursos hídricos que os outros países da União Europeia só vão pagar a partir de 2010. Mas, não contente com isso, Nunes Correia, deitando mão àquela inabilidade comunicacional que tem feito escola no actual governo, não arranjou melhor justificação para a coisa do que dizer: “(...) Nós temos que fazer isto. Portugal é penalizado se não fizer isto. E, portanto, como o que tem que ser, tem muita força...” (RDP- Antena 1)

Podia ter dito que se procurava racionalizar o consumo, penalizar o desperdício, podia ter dito tanta coisa e, no entanto, disse apenas o que não devia: que Portugal não tem qualquer estratégia para o sector, limitando-se a aproveitar a boleia de Bruxelas sempre que daí resulte o amealhar de receitas. Enfim, em bom português diz-se que lhe fugiu a boca para a verdade.

Ora, no mesmo dia, foram divulgados resultados (a partir daqui) de 20 amostras recolhidas pela Quercus em 14 dos principais cursos de água portugueses (ver aqui a distribuição nacional). Se o “nosso” Vouga apresentou (surpreendentemente) valores razoáveis, o balanço geral não podia ser pior.

Como disse o dirigente Hélder Spínola, os principais focos de poluição “continuam a ser os esgotos domésticos, que não têm ou têm um tratamento deficiente, o abandono de resíduos que contamina as linhas de água e as escorrências de campos de cultivo por se usarem pesticidas em excesso”. Ou seja, tanta coisa para Nunes Correia dissertar. Tanta coisa para que esperamos ideias de autoridades nacionais e locais, nem que mais não seja para fazerem algum sentido os impostos que pagamos.

Nós por cá...

Bem gostávamos de acreditar que vamos bem. No entanto, os receios são muitos. Na sua edição de 17 de Janeiro de 2008, o Notícias de Vouzela publicava declarações da Delegada de Saúde, Dra. Maria Alexandre Cruz, que não deixavam margem para dúvidas: “(...) há sistemas de tratamento deficientes e deficientes zonas de protecção das origens/ captações, situações estas que, embora não nos tenham originado até hoje grandes preocupações, exigem da parte dos responsáveis solução eficaz e urgente (...)”.

Por outro lado, é antiga a suspeita sobre a qualidade das águas do Vouga, sobretudo a partir das Termas, havendo quem há muito defenda a necessidade de uma nova ETAR. No que à abundância de recursos diz respeito, nos últimos anos houve casos de falta de água em algumas freguesias e, ao mesmo tempo, “desapareceram” nascentes após a realização de algumas obras. O silêncio das autoridades locais sobre tudo isto, não é a melhor forma de recuperar a confiança dos cidadãos. O comércio da água engarrafada, agradece. Nós, não.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Em 24 de Maio de 1939...alguém escrevia neste postal




As voltas que deu este imóvel... Alguém se lembra?

domingo, outubro 05, 2008

Pintem isto em letras gordas nas praças de todo o País

Solos urbanos são propriedade municipal
Mais-valias financiam as políticas da cidade

Comprar um terreno onde não se pode construir, manobrar na câmara para o poder urbanizar e depois arrecadar uma mais-valia milionária - eis um jogo proibido em Amesterdão. O motivo é simples: todos os solos são propriedade municipal, à excepção dos que foram comprados por particulares antes de 1896 e que somam vinte por cento do total. "O terreno é propriedade do povo de Amesterdão e a nossa função é aumentar a riqueza do povo", diz Dirk van der Woude, um dos responsáveis da Development Corporation, o departamento municipal que assegura a gestão dos solos. O sistema baseia-se numa espécie de aluguer de longa duração negociado entre os interesssados em construir num determinado local e o município. O que ali se pode fazer está rigidamente estabelecido na programação do território aprovada previamente e o aluguer, perpétuo ou temporário, está sujeito a revisões periódicas.
Em muitos casos, a cedência dos terrenos é objecto de leilão entre os promotores e estes são obrigados, nas zonas habitacionais, a destinar 30 por cento dos fogos à habitação social. Os objectivos essenciais são três: transferir para a comunidade, através do financiamento das políticas municipais, as mais-valias geradas pelo processo de urbanização; assegurar um maior controlo do uso da terra e um planeamento mais eficaz; e contrariar a especulação imobiliária
(Público, Local, página 22, 05/10/2008)

sábado, outubro 04, 2008

Está tudo dito, Molero

«Diz Molero», disse Austin, «que um homem ama e odeia, ou é simplesmente indiferente, mas que tudo recomeça em cada minuto que passa, disseram-lhe que nasceu uma criança, amanhã vai ao enterro de alguém, laços fazem-se e desfazem-se dentro dele, segue sonhando a luz de um pirilampo ou de um farol, fica uma noite acordado a olhar para trás, há um sótão mágico onde vasculhar entre memórias, embora ele não saiba onde fica o sótão, acontece que ele existe e sobe-se para ele não se sabe como». Mister DeLuxe juntou as mãos em frente do rosto. «O sótão da infância», disse ele, «às vezes vou lá buscar a emoção de roubar ninhos ou então o cheiro da borracha das botas de pescar do meu avô»- O que diz Molero

Era um lisboeta assumido, mas daquela Lisboa que foi as terras todas e hoje já não há. Dinis Machado morreu aos 78 anos.

A notícia correu célere, deu três pancadas nas portas com os nós dos dedos (era assim que corriam as notícias), as putas vieram ver o turista, os chulos quedaram-se, inquietos, a trinta metros, o Franciú pintou os lábios, as gaivotas suspenderam momentaneamente o voo, cristalizadas no ar, e o Pintor aproveitou para fixar na tela o que nunca mais voltaria a acontecer: o homem de preto tirou a harpa do ombro e dedilhou nela sons prateados que deslizaram ao longo da pedra do cais e se espalharam no dorso das ondas, tornando-as mais oleosas. As crianças gostaram muito (nunca tinham visto mar prateado por sons de harpa), os chulos ficaram esverdeados, e até eu, que tenho uma harpa debaixo da cama, e que dedilho nela às vezes para acalmar os nervos, ou ouvir a voz dos anjos, não fazia ideia que se pudesse pratear ondas daquela maneira apenas com a linguagem de uma harpa- Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel Garcia Márquez.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Fatalidades

Estas, foram apanhadas aqui

A coisa é sempre a mesma: somos óptimas pessoas, temos excelentes condições, imensas potencialidades, gostam imenso de nós, mas... a malta está ficar velha e tem pouca formação. Perante isto, batatas. Ou há um surto de iluminados rebentos, ou mais vale fechar para obras.

Agora o problema é com a vitela certificada. Os produtores queixam-se dos preços praticados que não compensam. As tentativas de colocar o produto em grandes superfícies, para aumentar as vendas, fracassaram porque... a produção é pouca. E quando tentamos encontrar a saída do círculo vicioso, lá voltamos nós ao mesmo: quem trabalha no sector anda maioritariamente pelos 60 anos e raramente vem abaixo dos 40, tem pouca instrução, fracos níveis de rendimento. Quase apetece dizer que tudo estaria no melhor dos mundos, se não fôssemos quem somos...

Mas, como nem tudo é o que parece, nem as realidades complexas se resolvem com chavões, os estudos(1) parecem revelar outro tipo de fragilidades: a dificuldade em criar a organização necessária para que os produtores beneficiem, também, com a distribuição do produto; a incapacidade em pensar a região como um todo. A primeira é, de facto, tarefa difícil, a exigir novas mentalidades e dinheiro. Mas, a segunda, só depende da iniciativa daqueles que, com a escola toda e não muita idade, têm dirigido os nossos destinos. Ou, afinal, o problema não é esse?
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(1)- Convém esclarecer que os dados de que falamos (retirados do Notícias de Vouzela de 25 de Setembro de 2008), foram apresentados no seminário “Complexidade e território”, onde se debateu um estudo sobre a vitela de Lafões, da responsabilidade do Instituto de Estudos Regionais e Urbanos da Universidade de Coimbra (IERU). Esta entidade já anteriormente se tinha debruçado sobre potencialidades e os pontos fracos da região, chamando a atenção para uma série de recursos que podem constituir alicerces para uma estratégia de desenvolvimento.