Mudar de agulha
Mais um estudo, desta vez da responsabilidade do Instituto de Estudos Regionais e Urbanos da Universidade de Coimbra (IERU), avançando linhas orientadoras para o “desenvolvimento de Lafões”. Como principais conclusões, a necessidade de delinear estratégias em torno dos vastos “recursos endógenos” (como a paisagem, o património edificado, as aldeias históricas, a gastronomia), a par de um investimento na qualificação dos recursos humanos. Óbvio.
Dos dados fornecidos (que apenas conhecemos pelo que foi publicado no “Notícias de Vouzela”, “Gazeta da Beira” e na página da Câmara Municipal de Vouzela), ressalta a imagem positiva que a região desfruta entre a população portuguesa, embora a maioria só a tenha conhecido através da televisão e, no grupo que realmente a visitou, 61% não tenha permanecido, em média, mais do que 12 horas. Também nos parece justificar reflexão, o facto do conhecimento de Lafões ser maior na faixa etária com mais de 54 anos, destacando-se de entre os produtos mais citados, as Termas (70%), o vinho (54%), a vitela (49%), os pastéis de Vouzela (40%) e o cabrito da Gralheira (13%). Ou seja, a maioria dos inquiridos ouviu falar mas nunca veio à região, referindo maioritariamente os produtos (à excepção do vinho que apresenta dados que nos surpreenderam) que mais divulgam a imagem fora dos seus locais de origem. Aliás, a média de permanência parece apontar o dedo a um dos problemas evidentes, sobretudo se tivermos em conta que os utentes das Termas deviam contribuir para valores mais elevados: não há oferta hoteleira satisfatória.
Uma relação difícil
Não é por falta de estudos e conselhos que a região não encontra o seu caminho. O problema parece estar nas lições que se (não) tiram e no modo como se usam. Tem havido uma relação difícil entre os autarcas e o principal recurso de Lafões- a paisagem. Muito “desenhada” por uma actividade agrícola para que se não tem sabido encontrar saídas, a paisagem de Lafões continua a impor-se, apenas, graças à baixa densidade populacional, a algumas zonas classificadas e aos cada vez mais limitados recursos das autarquias. De facto, ela persiste mais pelo que não se faz, já que a “obra” feita tem ignorado, propositadamente ou não, as características rurais do meio, precisamente as que mais atraem quem nos visita. O desafio passa, então, por integrar estas características nos projectos de desenvolvimento e não apenas criar nichos de ordenamento, no meio da destruição geral.
A procura da diferença
Quando se anuncia até à exaustão a importância de uma simples unidade hoteleira virada para o “turismo sénior”, está-se a insistir no erro. Quando se limitam projectos ao mercado nacional, revela-se uma ignorância grave. De acordo com o Eurostat, em 2020 a população dos países da UE (antes do alargamento), com mais de 60 anos, deve rondar os 25%. Isto representa um mercado potencial que não pode ser ignorado (sobretudo se tivermos em conta uma esperança média de vida a rondar os 80 anos), constituído por pessoas com significativo poder de compra e grande mobilidade, disponíveis para usufruir ofertas de qualidade. Simples hotéis com equipamento específico e animação pensada para as manter fechadas, têm elas nas suas terras. O que vão procurar é o usufruto do espaço, é a alternativa aos grandes centros urbanos, é o paradigma da diferença. Longe de se contentarem com unidades isoladas ou “centros históricos” de delimitação duvidosa, vão procurar a vivência só possível numa região inteira, que saiba preservar e permitir o uso do seu património natural e edificado, fornecendo, ao mesmo tempo, as melhores respostas ao nível das comunicações, da saúde e da segurança. Elas vão ter idade e cultura para saberem o que querem e dinheiro para o pagar.
Mas, apostar neste tipo de projecto, tem ainda outra vantagem: não é necessário “inventar” uma “população ideal” para o conseguir. Basta incentivar a que existe a fazer o que sempre fez, apoiando-a do ponto de vista técnico e permitindo-lhe aceder às necessárias contrapartidas, directamente relacionadas com o êxito da iniciativa. Difícil é convencer os autarcas a “mudar de agulha”, a redefinirem os objectivos que têm presidido à sua acção. Isto, porque uma nova orientação implica preservar em vez de construir, manter e melhorar em vez de alterar. E, no entanto, os ventos que sopram deviam levar a uma mudança de estratégias. Ou de autarcas...
Dos dados fornecidos (que apenas conhecemos pelo que foi publicado no “Notícias de Vouzela”, “Gazeta da Beira” e na página da Câmara Municipal de Vouzela), ressalta a imagem positiva que a região desfruta entre a população portuguesa, embora a maioria só a tenha conhecido através da televisão e, no grupo que realmente a visitou, 61% não tenha permanecido, em média, mais do que 12 horas. Também nos parece justificar reflexão, o facto do conhecimento de Lafões ser maior na faixa etária com mais de 54 anos, destacando-se de entre os produtos mais citados, as Termas (70%), o vinho (54%), a vitela (49%), os pastéis de Vouzela (40%) e o cabrito da Gralheira (13%). Ou seja, a maioria dos inquiridos ouviu falar mas nunca veio à região, referindo maioritariamente os produtos (à excepção do vinho que apresenta dados que nos surpreenderam) que mais divulgam a imagem fora dos seus locais de origem. Aliás, a média de permanência parece apontar o dedo a um dos problemas evidentes, sobretudo se tivermos em conta que os utentes das Termas deviam contribuir para valores mais elevados: não há oferta hoteleira satisfatória.
Uma relação difícil
Não é por falta de estudos e conselhos que a região não encontra o seu caminho. O problema parece estar nas lições que se (não) tiram e no modo como se usam. Tem havido uma relação difícil entre os autarcas e o principal recurso de Lafões- a paisagem. Muito “desenhada” por uma actividade agrícola para que se não tem sabido encontrar saídas, a paisagem de Lafões continua a impor-se, apenas, graças à baixa densidade populacional, a algumas zonas classificadas e aos cada vez mais limitados recursos das autarquias. De facto, ela persiste mais pelo que não se faz, já que a “obra” feita tem ignorado, propositadamente ou não, as características rurais do meio, precisamente as que mais atraem quem nos visita. O desafio passa, então, por integrar estas características nos projectos de desenvolvimento e não apenas criar nichos de ordenamento, no meio da destruição geral.
A procura da diferença
Quando se anuncia até à exaustão a importância de uma simples unidade hoteleira virada para o “turismo sénior”, está-se a insistir no erro. Quando se limitam projectos ao mercado nacional, revela-se uma ignorância grave. De acordo com o Eurostat, em 2020 a população dos países da UE (antes do alargamento), com mais de 60 anos, deve rondar os 25%. Isto representa um mercado potencial que não pode ser ignorado (sobretudo se tivermos em conta uma esperança média de vida a rondar os 80 anos), constituído por pessoas com significativo poder de compra e grande mobilidade, disponíveis para usufruir ofertas de qualidade. Simples hotéis com equipamento específico e animação pensada para as manter fechadas, têm elas nas suas terras. O que vão procurar é o usufruto do espaço, é a alternativa aos grandes centros urbanos, é o paradigma da diferença. Longe de se contentarem com unidades isoladas ou “centros históricos” de delimitação duvidosa, vão procurar a vivência só possível numa região inteira, que saiba preservar e permitir o uso do seu património natural e edificado, fornecendo, ao mesmo tempo, as melhores respostas ao nível das comunicações, da saúde e da segurança. Elas vão ter idade e cultura para saberem o que querem e dinheiro para o pagar.
Mas, apostar neste tipo de projecto, tem ainda outra vantagem: não é necessário “inventar” uma “população ideal” para o conseguir. Basta incentivar a que existe a fazer o que sempre fez, apoiando-a do ponto de vista técnico e permitindo-lhe aceder às necessárias contrapartidas, directamente relacionadas com o êxito da iniciativa. Difícil é convencer os autarcas a “mudar de agulha”, a redefinirem os objectivos que têm presidido à sua acção. Isto, porque uma nova orientação implica preservar em vez de construir, manter e melhorar em vez de alterar. E, no entanto, os ventos que sopram deviam levar a uma mudança de estratégias. Ou de autarcas...
2 comentários:
"O desafio passa, então, por integrar estas características nos projectos de desenvolvimento e não apenas criar nichos de ordenamento, no meio da destruição geral."
Vale uma aposta?:)
Alinho na aposta e digo mais: para muitos, as belezas de Lafões podiam ficar limitadas às exposições fotográficas num qualquer CCB, ou às vitrinas de um museu etnográfico. Se lerem bem o destaque que a página da Câmara fez do estudo, vêem que o projecto que mais os entusiasmou foi a abertura de um restaurante com produtos da nossa região... em Lisboa. A malta da capital, agradece.
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