Marcas da nossa identidade
Retirado do Visoeu
Há quem não aprenda. Há quem insista em confundir desenvolvimento com crescimento, ou, mais correctamente, com espaço ocupado, continuando a afirmar que construção civil activa é garantia de progresso certo. Não é. O que se passa é que, pela mão-de-obra que tem dependente e pelo conjunto de actividades que lhe estão associadas, a crise no sector da construção tem um efeito dominó, tanto mais grave quanto maior o seu peso. Infelizmente, a crise que estamos a viver veio provar o que há muito muitos denunciavam: tem peso a mais.
Numa região como a nossa, onde a população não tem aumentado (muito pelo contrário), desenvolveram-se alguns mitos relacionados com a falta de habitação e com a necessidade de aumentar a construção nos centros. A parte sincera desta preocupação, reflectia a desorganização que temos sentido, quer nas actividades económicas, quer nos serviços de apoio. De facto, com a crise da agricultura e da pecuária, e com a consequente limitação da oferta de emprego aos sectores secundário e, sobretudo, terciário, muitas pessoas tentaram organizar a sua residência junto dos locais de trabalho. Isto deu origem a um aumento da procura de habitação nas sedes dos concelhos, mas deu também origem, a um significativo abandono de habitações em zonas rurais. A total ausência de um serviço organizado de transportes, fez o resto.
No Visoeu, J. M. Duarte Figueiredo tem publicado um vasto conjunto de exemplos desse património rural que, um pouco por todo o país, está votado ao abandono. São paredes que resistem, marcas de um tempo em que as habitações estavam associadas às actividades económicas dominantes e em que os materiais de construção se limitavam aos recursos do meio. Mais do que isso, são a imagem da especificidade das regiões, a que poucos poderes deram a importância devida.
Exemplos como o que ilustra este texto, podem ser encontrados um pouco por toda a nossa região. Com a orientação técnica adequada, podem ser transformadas em excelentes habitações. Há quem, conhecedor, as procure com esse objectivo. Pena foi, que ninguém tenha informado disso os seus proprietários, tendo muitos deles acabado por gastar inutilmente capitais em construções que não têm, nem de perto nem de longe, o potencial destas.
Claro que de acordo com o credo ainda dominante no nosso poder local, isso seria uma “inadmissível interferência com o normal funcionamento do mercado”. Hoje, o mundo inteiro lamenta que ninguém tenha interferido com tal “normalidade”.
Já aqui chamámos a atenção para a importância de proteger marcas da nossa identidade com impacto paisagístico, como os muros e outras construções de pedra (também aqui). Promover a divulgação deste património, deste “roteiro do abandono” de modo a revitalizá-lo, pode ser mais um contributo para colocar alguma ordem num território que, só por ter sido amplamente bafejado pela “Mãe Natureza”, consegue ainda resistir a tanta asneira. E ele é o nosso principal trunfo económico.
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