sexta-feira, maio 29, 2009

Ficam os lamentos


As diversas etapas da realização do anúncio

Quase se pode falar em característica nacional: quando existe um espaço de invulgar beleza, logo surge um qualquer "iluminado" a querer deixar marca. Umas mesinhas para merendas aqui, um parque infantil devidamente delimitado ali, um quiosque para gelados e afins, uma estrada bem alcatroada para facilitar o acesso, parques de estacionamento libertos do empecilho da vegetação e- porque não?- uns lotes para moradias. A beleza do espaço acaba por sucumbir perante tanta "maquilhagem" e... ficam os postais e os lamentos.

Num conhecido anúncio da EDP (muito bem feito, em nossa opinião), usam-se alguns desses espaços para relacionar as barragens com a defesa do ambiente. Mas, como diz o Pedro Almeida Vieira (aqui), quase se pode incluir no lote da publicidade enganosa. De facto, todas as maravilhas naturais que usa para promover as barragens, são precisamente as que elas destroem. Se tivermos em conta que pouco ou nada está a ser feito para reduzir o enorme desperdício de energia que caracteriza o nosso país, mais se justificam os lamentos. Desta vez bem documentados por um belíssimo vídeo.
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PS: A propósito do mesmo tema, vale a pena ler Eduardo Cintra Torres no Jornal de Negócios e reflectir um pouco nesta petição.

quarta-feira, maio 27, 2009

Ver para além do olhar


The arts are the science of enjoying life- John Maeda

Muitos olham, mas nem todos vêem. Menos ainda, são os que permitem que outros vejam pelos seus olhos- exige rigor na escolha, capacidade para entender a universalidade de cada pormenor, identificação com o outro e um imenso domínio técnico. Tudo isso tem a "nossa" Margarida Maia para dar e vender, alicerces de uma obra que vai construindo com a solidez que nos habituámos a sentir na terra que pisamos, mas com olhos treinados a ver outros mundos. Alguns dos seus trabalhos mais recentes foram publicados pelo Açores 2010. A não perder. Aqui.

segunda-feira, maio 25, 2009

As pessoas

Como parte integrante da lindíssima região da Beira Alta, Vouzela sempre foi um concelho dominado pela ruralidade.


Colecção "Trabalhos no Campo"
Cristina Duarte - Sintra


1960´s

Colecção Passaporte - LOTY

Depois de longos dias de trabalho, a alegria do nosso povo está sempre presente nas festas em todos as nossas aldeias.

Colecção "Trajo de Festa" nº 54
Edição A.V.L. - Lisboa

Alguém se atreve a dizer o contrário?
Nada como um sorriso absolutamente genuíno.

"PORTUGAL" - Beira Alta
Ed. 19 de Abril - Helena Henriques

sexta-feira, maio 22, 2009

Os leitores lançam as mãos à massa-VI

Mais de vinte anos após a sua última passagem por estas terras, o comboio continua presente. São as obras de arte que se transformaram em marcos da nossa identidade, é a paisagem que o engenho dos homens adaptou à sua passagem. É, sobretudo, o enorme desejo de o ver regressar, certos que estamos de ser o meio de transporte que melhor se adapta aos tempos que correm. Tal como nós, assim pensam muitos leitores que não perdem oportunidade para nos chamar a atenção para uma imagem, uma opinião que reforce a ideia que há muito nos alimenta a revolta: foi um fantástico recurso que se desperdiçou. Foi o que fez o Augusto Rodrigues que nos enviou cópia de um apanhado das impressões publicadas por Brito Camacho (em Jornadas) , a propósito da Linha do Vale do Vouga. Publicado na página da CP

A Linha do Vouga vista por Brito Camacho



Por montes e vales

Nascido em Aljustrel, em 1862, e falecido em 1934, Brito Camacho foi figura importante do campo republicano. Médico, militar e alto-comissário em Moçambique (1921/23), publicou numerosos artigos e diversos livros, dos quais o relacionado com as viagens de comboio é «Jornadas». Aí se encontra um interessante retrato do Portugal nas primeiras décadas do séc. XX.

Painel de azulejo sobre a Ponte de Santiago (Sever do Vouga)- retirado daqui

O traçado da Linha do Vale do Vouga, embora sinuoso, tinha uma amplitude de vistas sem igual na rede ferroviária portuguesa. Um dos muitos que se encantaram com esta viagem entre Viseu e Sernada do Vouga foi Brito Camacho que, nas «Jornadas», deixou colorida e interessante descrição.

Tudo começa em Viseu, por volta do meio-dia. Logo à saída da cidade o escritor mal reconhece Abravezes, «na garridice dos seus prédios novos, com telha de Marselha, tão diferente do que era há vinte anos». É claro que naquele tempo, e a vapor, a viagem não era rápida. Nada que incomode pois, «assim pode ver-se tudo muito à vontade, à direita e à esquerda, o que fica longe e o que fica perto, com detalhes de observação que as grandes velocidades não permitem».

Como naquele tempo as carruagens tinham plataformas abertas nos dois topos, esse era o ponto de observação ideal: «a navette de janela para janela, além de ser muito incómoda, não deixa que a paisagem se fixe bem na retina». Será que tanta curva fazia enjoar? «Se disserem ao leitor que a paisagem incomoda, que nele se enjoa como a bordo de uma barcaça desmastreada, com que as ondas brincam, se lhe disserem isto, não acredite».

Em contrapartida, «o desnível, considerando os pontos términos da linha é de, proximadamente, seiscentos metros, e basta lançar os olhos para um mapa da região para se ver que o comboio não poderia ir de Viseu a Sarnadas, na margem do Vouga, sem dar muitas voltas e reviravoltas, aqui e além tão apertadas, que milagre parece vencê-las sem descarrilar a traquitana».

Por isso, «os que desejam fazer este passeio, devem preferir o comboio ao automóvel, porquanto a linha, ficando num plano muito superior à estrada deixa ver mais largos horizontes». Passam-se os panoramas grandiosos da serra da Gralheira, as águas de São Pedro do Sul, os encantos de Vouzela até que «por volta das quatro horas saímos da Sarnada para Espinho, de tal modo encantados com o Vale do Vouga, que muito solicitamente recomendamos ao leitor que faça o passeio como nós o fizemos...»

quarta-feira, maio 20, 2009

Nós, a paisagem

O "Maio"

(...) vamos propor um programa integrado de requalificação de cidades, com prioridade para centros históricos e para aquela malha suburbana onde surgem problemas como os que vimos na Grécia e agora aqui também em Portugal. Na Bela Vista houve uns ameaços. A União Europeia não tem um programa de requalificação de cidades- Paulo Rangel em entrevista ao i.

É daquelas ideias que buscam o consenso, que quase imaginamos subscritas por gente das mais diversas famílias partidárias. No entanto, uma leitura mais atenta confronta-nos com uma estratégia política que nos condena- a todos os que não vivem, nem querem viver em cidades- a ficar à porta da Europa, ignorados nas propostas dos candidatos. Historicamente, a cidade sempre foi o centro de um território que garantia toda a variedade de serviços que a sustentavam. Cidade pressupunha, então, uma envolvente rural. Hoje, fala-se de cidade limitando-a ao maior aglomerado populacional e de consumo (e de votos!). O resto é a paisagem que... somos nós.

segunda-feira, maio 18, 2009

O mesmo local...épocas diferentes...



 
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sexta-feira, maio 15, 2009

Pérolas do planeamento urbano


Imagem e informação retiradas do Viseu, Senhora da Beira

Mais um brilhante exemplo do elaborado conceito de "pogresso", ou seja, de "desenvolvimento imaterial" . Consta que a próxima etapa deste exercício é enfiar todo o concelho numa rotunda. Veja aqui a versão animada.

quarta-feira, maio 13, 2009

Coisas da Democracia

É comovente a preocupação manifestada por alguns ilustres sobre o alheamento do bom povo em relação à política. De quatro em quatro anos lembram-se disso, normalmente nas vésperas de um qualquer acto eleitoral- há que dar credibilidade à coisa. Este ano, em vez de um vamos ter três, pelo que o assunto promete.

O tema é velho e as explicações são muitas, desde a suposta avaria do nosso código genético a partir da "longa noite do fascismo", até à gente pouco recomendável que foi ocupando cargos de decisão. Longe de nós meter foice nessa ceara, mas há uma pergunta que não podemos deixar de fazer: que é que já foi feito para motivar o cidadão a participar mais activamente?

Ainda recentemente, quando todos pensávamos poder opinar sobre o chamado Tratado de Lisboa, a "ilustre gente" uniu-se para nos explicar que o assunto estava para além do nosso entendimento. Algum tempo antes e durante largos meses, os dois maiores partidos entretiveram-se a montar uma lei eleitoral para as autarquias que, a ser aplicada, representaria uma completa perversão das regras democráticas- o resultado final foi tão escandaloso, que os próprios "pais" enjeitaram o rebento... Mas há mais: não consta que algum partido ou candidato tenha colocado reservas a uma vitória conseguida com larga percentagem de abstenções. O episódio mais recente ocorreu nas últimas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, onde António Costa foi eleito com pouco mais de cinquenta mil votos. Quanto à participação nas eleições europeias, nem vale a pena falar.

No entanto, se a preocupação fosse sincera, muito havia para fazer. Por exemplo, há algum motivo que justifique não se incentivar uma maior participação dos cidadãos em freguesias que, em muitos casos, não ultrapassam os mil habitantes? A figura do referendo local e o orçamento participativo (sim, já é aplicado em Portugal) não podiam ser generalizados de modo a aumentar o envolvimento dos eleitores na gestão de um espaço que, ao fim e ao cabo, é seu?

De quatro em quatro anos, lá vem o lamento. Passa-lhes depressa.

segunda-feira, maio 11, 2009

Ainda o Vouga...

1960's

Colecção Passaporte "LOTY"

1920's

Edição de Dias & Rocha - Vouzela


(pormenor)

sábado, maio 09, 2009

Novos episódios sobre a Casa das Ameias

A avaliação feita pelos técnicos da Câmara Municipal ao estado da Casa das Ameias, confirmou tudo quanto aqui tínhamos dito sobre a necessidade urgente de intervenção. Em declarações ao "Notícias de Vouzela" (30/04/2009), o presidente da Câmara anunciou o próximo início de obras "para evitar a ruína do imóvel", mas reconheceu não ter solução para que, de uma vez por todas, acabe o desleixo que a actual situação do edifício impõe a todo o conjunto. Voltaremos ao assunto.

sexta-feira, maio 08, 2009

Chamam-lhe política local

Doisneau
Como diz um amigo nosso, Lafões tem que ser uma região lindíssima para aguentar tanto disparate e manter a harmonia que, mesmo assim, a caracteriza. Em vésperas de eleições autárquicas, nem uma ideia surge a mostrar-nos o caminho proposto por aqueles que vão querer o nosso voto. Em contrapartida, não faltam cópias pobres da política nacional e preocupantes sinais do que esta gente entende por "obra".

Serviços de Saúde

O futuro candidato do PS à Câmara Municipal de São Pedro do Sul (e antigo coordenador da Sub-Região de Saúde de Viseu), fez umas declarações de que se podia concluir ter sido necessário "mover alguns cordelinhos" para que o Serviço de Urgência Básica fosse para aquela vila. Recorde-se que já em 2008, o deputado socialista José Junqueiro tinha dado a entender o mesmo, o que na altura criticámos considerando ter ele prestado "um mau serviço" à construção de uma alternativa local.

Duvidamos que haja um só cidadão que ainda acredite terem sido meros "critérios técnicos" a presidir à reformulação dos serviços de Saúde desenhada por Correia de Campos. Só que, passado todo este tempo, o que queremos ver são sinais de que se tenha aprendido com os erros do passado, até porque nos recusamos a branquear responsabilidades locais. De facto, nunca houve a preocupação em "pensar Lafões como um todo coerente, racionalizando o investimento em estruturas de apoio e aumentando a capacidade reivindicativa face ao poder central". Sobre isto... nada.

Espargatas, boleias e o bloco central das ideias

O que tem havido é uma algazarra tremenda, envolvendo José Junqueiro e o presidente da Câmara de Vouzela, com momentos que merecem ficar registados para... memória futura (através do "Caricas", pode seguir os episódios mais significativos aqui e aqui).

Referindo-se às preocupações do deputado em agradar ao público de São Pedro e ao de Vouzela, Telmo Antunes acusou-o de estar a fazer a "espargata"; tentando desvalorizar as suas capacidades pessoais, afirmou que ele mais não consegue do que fazer-se eleger "à boleia" dos líderes socialistas. Isto só prova que o presidente da Câmara de Vouzela não tem acompanhado a polémica que vai pelo concelho vizinho a propósito de uma eventual "promoção" a cidade. Ideia nascida das mentes dos deputados do PSD, contou com a oposição de um representante do Partido Socialista na Assembleia Municipal de São Pedro, professor de Geografia que, fazendo apelo a toda a paciência adquirida na sua experiência docente, tentou explicar (e bem) que a coisa não tinha pés nem cabeça. No entanto, porque o conceito de "obra" não é diferente nos representantes socialistas que o distrito mandou para a Assembleia da República, logo apareceu José Junqueiro a tentar chegar à frente do pelotão dos defensores da nova "urbe". Enfim, um bom exemplo do bloco central das ideias. Ou da falta delas.

Folhas Soltas

Começa no próximo domingo e prolonga-se até 17 de Maio a sétima Feira do Livro de Vouzela. Valha-nos isso.

quarta-feira, maio 06, 2009

A agricultura que a Europa apoia

Van Gogh

"Não espantará os mais habituados a estas andanças que, entre os maiores beneficiados pelos apoios da União Europeia, se destaquem as grandes multinacionais do sector e os grandes proprietários rurais, nomeadamente reis, seus familiares e outros membros da nobreza".

Vale a pena ler o texto de Renato Soeiro e conhecer a lista dos felizes contemplados. É esclarecedor sobre o tipo de agricultura apoiada pela União Europeia e os objectivos da Política Agrícola Comum (PAC). E já que estamos com a mão na massa, não se esqueça de assinar a petição pela defesa da Reserva Agrícola Nacional. A nossa. A que resta.

segunda-feira, maio 04, 2009

Turismo anti-stress...

 



Era assim o turismo daqueles dias de que falou o CP!
Estas imagens levariam qualquer um a procurar um descanso para o "stress" diário...
Mas, durante muito tempo...prevaleceu a confusão e o betão!
Oh!...que saudades destas cores, paz e tranquilidade...revisitadas!
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sexta-feira, maio 01, 2009

É preciso mais

Em Vouzela

"O BE vai apresentar, ainda esta sessão legislativa, um projecto de lei em que propõe que as mais-valias urbanísticas decorrentes de um acto administrativo passem a reverter a 100 por cento para o Estado"- Público, 29 de Abril de 2009.

É um dos "motores" da especulação imobiliária, grande responsável pela "ditadura do betão" que nos vai destruindo o território. No entanto, a iniciativa do Bloco de Esquerda não parece ser suficiente para resolver o problema.

O assunto já foi por nós amplamente tratado e até esteve na origem de um dos mais interessantes movimentos cívicos (ver também aqui) que se organizaram em Portugal. Resumidamente, trata-se da valorização de terrenos através da sua mudança de estatuto (da REN ou da RAN para urbanos) e da construção de infraestruturas através de investimento público, possibilitando a apropriação privada das mais-valias assim conseguidas. Os objectivos destes actos têm levantado as maiores dúvidas e o papel desempenhado pelos poderes públicos (nomeadamente as autarquias) também. A este respeito, recorde-se a denúncia feita por José Sócrates, quando estava à frente da pasta do Ambiente, sobre o facto dos Planos Directores Municipais proporem uma área de construção para uma população três vezes superior à portuguesa.

Só que o problema não se esgota aqui. Os próprios poderes públicos que deviam zelar pelo ordenamento do território, podem estar interessados na marosca. Basta pensar no aumento da colecta conseguido com a mudança do estatuto dos terrenos e a consequente autorização para aumentar a área urbanizável. É esta perversão que não nos parece ficar acautelada com a iniciativa do Bloco de Esquerda. Para o conseguir, é necessário reconhecer o serviço público prestado por aqueles que têm terrenos sujeitos a restrições (sobretudo os que integram a Reserva Ecológica Nacional) e pensar em formas de os compensar.