quarta-feira, maio 13, 2009

Coisas da Democracia

É comovente a preocupação manifestada por alguns ilustres sobre o alheamento do bom povo em relação à política. De quatro em quatro anos lembram-se disso, normalmente nas vésperas de um qualquer acto eleitoral- há que dar credibilidade à coisa. Este ano, em vez de um vamos ter três, pelo que o assunto promete.

O tema é velho e as explicações são muitas, desde a suposta avaria do nosso código genético a partir da "longa noite do fascismo", até à gente pouco recomendável que foi ocupando cargos de decisão. Longe de nós meter foice nessa ceara, mas há uma pergunta que não podemos deixar de fazer: que é que já foi feito para motivar o cidadão a participar mais activamente?

Ainda recentemente, quando todos pensávamos poder opinar sobre o chamado Tratado de Lisboa, a "ilustre gente" uniu-se para nos explicar que o assunto estava para além do nosso entendimento. Algum tempo antes e durante largos meses, os dois maiores partidos entretiveram-se a montar uma lei eleitoral para as autarquias que, a ser aplicada, representaria uma completa perversão das regras democráticas- o resultado final foi tão escandaloso, que os próprios "pais" enjeitaram o rebento... Mas há mais: não consta que algum partido ou candidato tenha colocado reservas a uma vitória conseguida com larga percentagem de abstenções. O episódio mais recente ocorreu nas últimas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, onde António Costa foi eleito com pouco mais de cinquenta mil votos. Quanto à participação nas eleições europeias, nem vale a pena falar.

No entanto, se a preocupação fosse sincera, muito havia para fazer. Por exemplo, há algum motivo que justifique não se incentivar uma maior participação dos cidadãos em freguesias que, em muitos casos, não ultrapassam os mil habitantes? A figura do referendo local e o orçamento participativo (sim, já é aplicado em Portugal) não podiam ser generalizados de modo a aumentar o envolvimento dos eleitores na gestão de um espaço que, ao fim e ao cabo, é seu?

De quatro em quatro anos, lá vem o lamento. Passa-lhes depressa.

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