Abstenções
(Foto: Alfredo Cunha)
Imaginar o que pode vir a ser a nossa relação com o espaço em que vivemos, caso vinguem as actuais teorias sobre aumento da mobilidade laboral, é assustador. Perspectivando uma situação em que alguém, ao longo da sua vida activa, pode ter que mudar várias vezes de local de trabalho e de residência, suportando horários de trabalho cada vez mais flexíveis, facilmente concluímos que a relação/ identificação com o espaço onde se vive diminui, assim como diminui a disponibilidade e o interesse para nele reflectir e intervir. Se admitirmos que esta mobilidade tenderá a ser maior nos estratos sociais “médios” e “médios-baixos”, podemos prever um desenho urbano ainda mais estratificado, com o eventual regresso dos bairros de empresa, para ocupações de curta/ média duração- a massiva privatização do território, permite-o. A confirmar-se o cenário, seria o assumir da gestão do espaço pelo poder económico, sem necessidade de fingir. Seria também, o “paraíso na terra” para políticos profissionais, libertados do fardo da opinião pública e da gestão de interesses- na verdade, eles desejam a nossa indiferença e gostam da abstenção...
E ela aí está...
E ela aí está...
(Foto: Orlando Baptista)
Os resultados da eleição para a Câmara Municipal de Lisboa, registaram uma abstenção de mais de 60% e esse foi o dado mais importante. As explicações possíveis são várias e nem todas necessariamente más. No entanto, regista-se a indiferença pelo facto, quer da parte da maioria dos candidatos, quer dos comentadores, ao ponto de António Costa a ter ignorado no discurso de vitória. A verdade é que o actual presidente da autarquia apenas conseguiu cinquenta e tal mil votos, qualquer coisa como 9% da totalidade dos cidadãos eleitores da Capital. Pouco lhe importa: cumpriu-se a democracia, ou seja, a possibilidade de impor estilo e vontade aos restantes 91%, para não falar nos cerca de dois milhões que por lá circulam diariamente. Eles gostam da abstenção.
Não toquem na bola-de-berlim!
Já houve quem dissesse que os burocratas da União Europeia são pessoas com falta de ideias e excesso de tempo. Mas, muito pior, são os adeptos do mito do “bom aluno”, uma espécie de putos “graxistas” a exibirem-se para o “professor”, aceitando acriticamente todas as suas orientações, por mais patéticas que sejam. A tendência actual, é complicar as coisas simples, em prol de um mundo supostamente higiénico e puro. Não é que as nossas maleitas lhes tirem o sono, mas parece que um cidadão saudável sai mais barato. Depois de nos lixarem os “jaquinzinhos” em nome de uma preservação da espécie de que não conseguem convencer os arrastões espanhóis, preparam-se para marrar com a venda ambulante de bolas-de-berlim na praia. Aí, parou e não se admite abstenção! Em nome dos valores do colesterol, são os nossos (valores) que estão em causa. Não tarda, retomam o “manual” da “Santa Inquisição” com as normas de boas práticas de cama. Ou impõem a versão "light" do Pastel de Vouzela... Afnal de contas, tanta treta com o “Let’s Come Together”, quando não passam de uma cambada de “empatas”.
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