quarta-feira, dezembro 03, 2008

Um sinal de derrota

Foto retirada daqui

“Esse património é e continuará a ser património municipal. Ponto Final.”

Foi assim que o presidente da Câmara de Vouzela respondeu a um texto nosso (ver comentários) onde, entre outras coisas, manifestávamos preocupação sobre a alienação dos edifícios das antigas escolas primárias. Receávamos que isso fosse feito na sequência do empréstimo contraído pela autarquia. Enganámo-nos. Foi feito (está a ser) independentemente disso. Mas a verdade é que do tal património que “é e continuará a ser municipal”, só resta o que ainda não conseguiu ser vendido. Ponto final.

A reestruturação da rede escolar e a consequente venda de património é medida que está a ser aplicada a nível nacional. Se limitarmos a análise ao número de crianças que frequentava os antigos edifícios e à sua necessidade de socialização, a opção é justificável. Se a avaliarmos numa perspectiva de ordenamento do território, é preocupante.

De facto, impressiona concluir que nenhum dos actuais responsáveis põe, por um segundo, a hipótese da actual situação demográfica ser reversível. Referimo-nos não apenas ao número, mas, sobretudo, à sua distribuição territorial. Tudo se passa como se fosse possível continuar a empurrar a população para os grandes centros, sem que daí resultem consequências sociais, económicas e ambientais.

Num país tão pequeno como o nosso, onde tanto se tem investido em vias de comunicação, mais incompreensível é persistir no erro. Momentos de crise como o que estamos a viver, onde a intervenção do Estado ganha uma maior margem de manobra, devia ser a altura para pôr cobro a estas perversões. Salvo melhor opinião, este seria o contexto ideal para proceder a algumas reformas ao nível da agricultura, pecuária e floresta, que mobilizassem franjas mais jovens, construindo uma alternativa à pouca oferta de emprego noutros sectores. Esta seria a altura certa para “arrumar a casa”.

Nada disto está a ser feito. Uma autarquia de finanças limitadas, como a de Vouzela, define como prioridade gastar dinheiro numa obra inútil (prolongamento da Avenida João de Melo), em vez de o fazer em planos estruturantes. O governo insiste em manter na agenda a construção de mais auto-estradas, em vez de racionalizar o sistema interno de transportes; apoia as espécies de crescimento rápido, em vez de reordenar a floresta; centraliza serviços na educação, saúde e justiça, em vez de repensar o ordenamento do território.

A venda dos edifícios das antigas escolas, é um símbolo desta incapacidade de pensar o futuro. É um sinal de resignação, de cair de braços, de reconhecimento da derrota. Derrota que não aceitamos.

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BE Vouzela disse...

Caro Zé Bonito,

Gostei de ler o que escreveu no post anterior e gostei de ler a, no mínimo curiosa, reacção do presidente da câmara da nossa vila.
De facto a desilegância e a demagogia barata reinam naquela câmara municipal.
Tentar atirar areia para os olhos da população, de facto, é algo que só os seguidores do partido e do presidente, acreditam.
Gostava de saber o que pensar depois de algumas pessoas que vivem em Alcofra, me dizerem que vai ser construído um pavilhão gimnodesportivo porque "acham que o de vouzela é longe e não têm de fazer quilómetros para jogar à bola".
Gostava de ver esclarecido este tema porque, segundo pessoas que lá vivem, está confirmado o projecto.

Depois gostava de saber qual a ideia do projecto ridiculo do prolongamento da avenida João de Melo.
Acredito que o projecto até venha de trás porque já no tempo da Professora Raquel se ouvia falar dessa barbaridade.

Infelizmente, o que vejo nestes anos de reinado social democrata, é que Vouzela e as populações mais perto da vila ficaram paradas no tempo. Ventosa, Paços de Vilharigues, Fataunços e por aí fora. Será retaliação por serem juntas do PS e, porque nessas freguesias, poucos ou nenhuns votos contabilizarem? Claro que é mais fácil investir em Cambra, Campia ou Alcofra. Afinal são freguesias grandes e quase que elegem, sozinhas, o presidente da câmara. Não esquecendo as naturalidades dos dirigentes da câmara municipal.

Apenas gostava de ver um concelho desenvolvido por igual e a sede de concelho de acordo com o que deveria ser.

Abraço

O Bloco não se cala. É aguardar para ver

Zé Bonito disse...

Someone:

É sempre com agrado que vemos surgir quem queira reflectir sobre a qualidade de vida e o ordenamento do território do concelho de Vouzela e da região de Lafões. O nosso espaço está aberto a todos.
Sobre as obras previstas para a Av. João de Melo, ainda em 2007 escrevemos um texto (http://pasteldevouzela.blogspot.com/2007/03/ampliao-da-avenida-joo-de-melo-por.html)onde tentamos encontrar as verdadeiras causas da coisa. Estejamos atentos.