A encomendação das almas
Mais uma vez, Portugal volta a apresentar a evolução dos “custos do trabalho”, mais baixos da União Europeia (1,9% para 2,9% da “Europa a 27” e 2,5% dos países da Zona Euro). Por “custo do trabalho”, entende-se o conjunto das despesas que as empresas têm com a remuneração e as contribuições dos seus trabalhadores, sendo os valores nacionais dos mais modestos em todos os sectores, excepto... na construção. De facto, os 3,7% de aumento verificados neste sector, são os únicos que ultrapassam os da média europeia.
Na opinião de alguns “teóricos”, esta “moderação” é fundamental para aumentar a competitividade. O problema, é que nada indica que ela esteja a ser aproveitada pelas empresas para se reorganizarem, redefinirem a sua área de intervenção, de modo a conseguirem produtos de maior valor acrescentado e fugirem ao “campeonato do baratinho”, dominado pelos asiáticos. Na verdade, com um crescimento da produtividade de 0,5% em 2006, Portugal deve manter-se nas últimas posições dos países da “Zona Euro”, condenado a assistir ao encerramento ou à “deslocalização” das tradicionais unidades têxteis e do calçado.
Somos dos que pensam que o Poder Autárquico tinha um papel a desempenhar, de que se demitiu, não percebendo que as especificidades de cada região, constituem o produto mais protegido na concorrência. Perante isto, e se nada se alterar, o que resta? Mais uma vez a construção, pois claro, com o argumento de peso de cerca de 30% da população activa estar dela dependente (para os que diziam que os preços da habitação iam baixar, façam o favor de consultar o Destaque). Enquanto houver um metro quadrado disponível para espalhar cimento, é esse o “fado” nacional. “Aí vai balde!”
Agricultura ao fundo
As regras de distribuição dos fundos para a agricultura, vão mudar. No caso português, cerca de 50 milhões de euros por ano, vão passar das ajudas directas aos agricultores, para o apoio ao “Desenvolvimento Rural”. Recorde-se que a metodologia usada até agora, limitava os apoios a um número muito pequeno de agricultores (cerca de 5,6%), sem impacto significativo no reordenamento do território (eu disse, “reordenamento”!) e deixando muitas dúvidas sobre o real investimento no sector.
No entanto, de acordo com o “Público” (citando a “Lusa”, 16 de Março), a nova distribuição de fundos vai privilegiar as regiões “onde há mais agricultores afectados pela medida”, ou seja, onde estão os tais 5,6%. A ser assim, agrava-se a perversão.
Até hoje, ignorou-se a função social e ambiental que a agricultura pode ter, estancando o abandono de grande parte do território e diminuindo a pressão sobre as medidas de segurança social. A verdade é que se deixaram os pequenos e o médios agricultores entregues à sua “sorte”, ao mesmo tempo que se estimulava uma agricultura não produtiva, unicamente orientada para os financiamentos da Europa. Numa altura em que se vai usufruir das últimas ajudas, com a chegada dos últimos fundos, seria importante que fossem usadas para inverter a situação actual e para que o pouco que resta, não se “afunde”.
Aquecimento global? Sai um refresco
Está a aumentar a temperatura média da água do mar. Assim como assim, está a aumentar tudo e, como diz um vizinho meu, exemplo de pragmatismo, “não se percebe tamanho alarido, até porque será bem agradável ter um Algarve a começar no Minho”. Pois. Atirei-lhe que era preciso ter cuidado com o peixe-aranha e não ser impossível dar de caras com um tubarão a tirar-lhe as medidas no meio do “crol”. Franziu o sobrolho. À laia de despedida, rematei com o fim da sardinha que prefere as águas frias. Abriu um sorriso e arrumou-me: “Nunca gostei do cheiro da sardinha assada”. Onde será que meti a caçadeira?!!!
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