terça-feira, dezembro 18, 2007

Portugal, Europe’s West Coast

As imagens da campanha (procurar aqui)

Eis a campanha com que se pretende “vender” a imagem do país. É da responsabilidade do Ministério da Economia e da Inovação, a partir de imagens do fotógrafo inglês Nick Knight. Os objectivos, de acordo com os seus mentores, são associar-nos “ao Oeste da Europa (Europe’s Weast Coast) e a conceitos de modernidade, inovação, tecnologia, empreendorismo e qualidade de vida, promovendo Portugal como um todo, desde o turismo, economia, comércio e cultura, e qualificando a oferta dos recursos, pessoas e produtos nacionais”.

Nos anos 30, preparando um conjunto de iniciativas que visavam promover o país no estrangeiro (Exposição Internacional de Paris em 1937 e a Exposição de Nova Iorque e de São Francisco em 1939), António Ferro, responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional, meteu uma série de notáveis num comboio e levou-os a conhecer o “Portugal profundo”. Setenta anos depois, apetece dizer que faltou idêntica viagem aos autores da actual campanha. O problema é que o comboio já não passa por aí...

Limitando-nos às imagens divulgadas (desconhecemos se há outras), do país há muito pouco e o que há limita-se a sol, areia, mar e vento. Pelos vistos, Portugal não só é a “Europ’s West Coast” , como nada existe para além do litoral. Afinal de contas, talvez os nossos governantes tenham consciência de que abandonaram o resto às silvas, o que não fica bem na fotografia.

Mas as personalidades escolhidas (que quase recuperaram a trilogia fado-futebol-Fátima) permitem um duplo sentido, o que, nestas coisas da propaganda, é extremamente perverso. Em grande parte dos casos, são pessoas que ou trabalham no estrangeiro por opção (e não vale a pena vir procurá-las aqui), ou têm actividades de altíssimo risco em Portugal. De facto, ser investigador entre nós, sobrevivendo à custa das incertezas das “bolsas”, muito mais do que uma profissão é um acto de coragem.

Aguardamos com curiosidade a mensagem que vai ser usada para mostrar que temos “qualidade de vida”. Porque, numa primeira observação, a ideia que fica é que se esconde tudo quanto, entre nós, tem vida. Quanto mais qualidade. Fica o sol, o vento, a areia e o mar, apresentados sem relação com qualquer vida e que tanto podem ser nossos como de outro qualquer lugar. Ficam pessoas- umas conhecidas, outras nem por isso- que simbolizam o sucesso conseguido... fora de portas.

Mas, bem vistas as coisas, talvez seja isto mesmo que melhor representa aquilo em que nos tornamos: um deserto que só reconhece os seus quando lhe viram as costas.

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