Mentiras em tom esverdeado
Promover o pedestrianismo, o uso da bicicleta, a partilha do transporte individual, tudo excelentes ideias. Certo? Talvez não...
Um dos perigos que sempre se disse existir na apropriação do discurso ambiental por parte dos detentores dos cargos de poder, foi o de se criar a ideia de que os problemas se resolveriam apenas à custa da mudança de hábitos individuais. De facto, era previsível que essa seria a estratégia para transferir o preço da solução para o cidadão comum, evitando discussões sobre política económica e modelos de crescimento. É isso que está a acontecer.
Quando, recentemente, o governo lançou o projecto de construção de 10 novas barragens, algumas delas representando a perda irrecuperável de recursos naturais únicos (Sabor), a justificação foi o desenvolvimento das energias alternativas (nomeadamente a eólica) de modo a reduzir a emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa. Ficou por dizer que nada de significativo foi feito, até ao momento, para obrigar as indústrias a repensarem o seu consumo de energia (com reconhecidos desperdícios) e, para além de papel escrito, nada se fez para promover um salto qualitativo na construção, também ela com grandes responsabilidades na factura da electricidade.
Ainda mais recentemente, lemos o que está a ser pensado, no âmbito da União Europeia, para reduzir os estragos provocados pela circulação automóvel. Conselhos, conselhos e mais conselhos. Costumamos dizer, em bom português, que “de boas intenções está o inferno cheio”. Pois é disso mesmo que se trata. Pressão sobre a indústria para reduzir a dependência do petróleo? Isso é que era bom! Pressionar uma maior investimento no comboio? Esperem sentados. Falar claro sobre a irresponsabilidade de alguns governos que se mantêm indiferentes à necessidade de organizarem uma alternativa real ao nível do transporte público? Está bem, está...Cada um faz o que quer, quando quiser e... seja o que Deus quiser. Medidas concretas, só as que dependam de cada um de nós, simples cidadãos, que algum imposto há-de por aí vir para garantir a motivação para a actividade física ou, de preferência, para trocar de carro por outro menos poluente. “Business, just business”. Em tons de verde, claro.
Já agora, no que nos diz respeito a nós que resistimos fora das grandes cidades, a quem empurraram para o uso crescente do automóvel ou da camioneta, nem se fala. A malta não precisa. Pobrezinhos, mas limpinhos, pois então- antes fosse, mas os motivos são outros. Neste momento, 60% da população europeia vive já amontoada em “urbes” de grande e média dimensão e, muito em breve, serão 80%. Nós, os “outros”, pouco contamos em impostos e votos. Logo, pouco contamos. Ponto final. E na impossibilidade de irmos a Viseu ou a Aveiro a pé ou de bicicleta, pagamos. Pelas emissões do automóvel, pelo uso da estrada (sim, as portagens), pelo estacionamento. Pagamos pela defesa de um ambiente que é de todos, que tem sido destruído, sobretudo, por alguns, mas cuja factura dos estragos será entregue aos do costume: os mais fracos.
Um dos perigos que sempre se disse existir na apropriação do discurso ambiental por parte dos detentores dos cargos de poder, foi o de se criar a ideia de que os problemas se resolveriam apenas à custa da mudança de hábitos individuais. De facto, era previsível que essa seria a estratégia para transferir o preço da solução para o cidadão comum, evitando discussões sobre política económica e modelos de crescimento. É isso que está a acontecer.
Quando, recentemente, o governo lançou o projecto de construção de 10 novas barragens, algumas delas representando a perda irrecuperável de recursos naturais únicos (Sabor), a justificação foi o desenvolvimento das energias alternativas (nomeadamente a eólica) de modo a reduzir a emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa. Ficou por dizer que nada de significativo foi feito, até ao momento, para obrigar as indústrias a repensarem o seu consumo de energia (com reconhecidos desperdícios) e, para além de papel escrito, nada se fez para promover um salto qualitativo na construção, também ela com grandes responsabilidades na factura da electricidade.
Ainda mais recentemente, lemos o que está a ser pensado, no âmbito da União Europeia, para reduzir os estragos provocados pela circulação automóvel. Conselhos, conselhos e mais conselhos. Costumamos dizer, em bom português, que “de boas intenções está o inferno cheio”. Pois é disso mesmo que se trata. Pressão sobre a indústria para reduzir a dependência do petróleo? Isso é que era bom! Pressionar uma maior investimento no comboio? Esperem sentados. Falar claro sobre a irresponsabilidade de alguns governos que se mantêm indiferentes à necessidade de organizarem uma alternativa real ao nível do transporte público? Está bem, está...Cada um faz o que quer, quando quiser e... seja o que Deus quiser. Medidas concretas, só as que dependam de cada um de nós, simples cidadãos, que algum imposto há-de por aí vir para garantir a motivação para a actividade física ou, de preferência, para trocar de carro por outro menos poluente. “Business, just business”. Em tons de verde, claro.
Já agora, no que nos diz respeito a nós que resistimos fora das grandes cidades, a quem empurraram para o uso crescente do automóvel ou da camioneta, nem se fala. A malta não precisa. Pobrezinhos, mas limpinhos, pois então- antes fosse, mas os motivos são outros. Neste momento, 60% da população europeia vive já amontoada em “urbes” de grande e média dimensão e, muito em breve, serão 80%. Nós, os “outros”, pouco contamos em impostos e votos. Logo, pouco contamos. Ponto final. E na impossibilidade de irmos a Viseu ou a Aveiro a pé ou de bicicleta, pagamos. Pelas emissões do automóvel, pelo uso da estrada (sim, as portagens), pelo estacionamento. Pagamos pela defesa de um ambiente que é de todos, que tem sido destruído, sobretudo, por alguns, mas cuja factura dos estragos será entregue aos do costume: os mais fracos.
Resumindo e concluindo, tudo se limita à tentativa de nos convencerem de que a solução está em andarmos mais a pé, darmos mais ao pedal e não nos esquecermos de apagar a luz. É a mentira “verde”, cor que, pelos vistos, fica bem com tudo (e com todos). Porque as notas de cem também são verdes. Ou esverdeadas.
1 comentário:
Concordo em absoluto. Querem-nos convencer que os problemas ambientais se resolvem quando a Humanidade desligar a luzinha "stand by" dos televisores!
Ao mesmo tempo implementam políticas onde a degradação do ambiente dá lucro...
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