segunda-feira, julho 09, 2007

Rua de alguma amargura

Primeiro, no sentido ascendente (Nascente), antes da arborização do Monte Castelo, da construção da Ponte do Caminho de Ferro (1ª República) e de todos os edifícios do lado direito da rua (foto publicada pelo Notícias de Vouzela). Depois, no sentido oposto, foto dos anos 30 (Edição da Comissão de Iniciativa), mostrando a Cadeia e Posto da GNR (actualmente, Museu Municipal)

A rua tal como se encontra hoje, vendo-se o edifício da Pensão Marques do lado direito. Ao fundo, o edifício amarelo marca o local onde estava a Pensão Jardim (última imagem, vista do cruzamento com a Avenida João de Melo). O anúncio, foi publicado pelo Notícias de Vouzela, em 1936.

Rua Ayres de Gouveia- é o que diz a placa. António Ayres de Gouveia, filho de Frutuoso José da Silva Ayres (natural de Ventosa), foi professor universitário, parlamentar e Ministro da Justiça entre 5 de Março e 17 de Abril de 1865 e, mais tarde, entre 17 de Janeiro e 27 de Maio de 1892. Bispo de Bethsaída e Arcebispo da Calcedónia, a ele foi dirigida reclamação contra a saída de São Pedro do Sul da comarca de Vouzela (que inicialmente integrava os concelhos de Oliveira de Frades, de Vouzela e de São Pedro do Sul). Sem grandes resultados, diga-se. Mas, para muitos, a rua continuou a ser conhecida por uma das suas características naturais: Rua do Rego. Todos de acordo, só quando se dizia que era onde ficava a Pensão Marques, última unidade hoteleira a resistir aos equívocos das prioridades locais. Alguns metros antes, no cruzamento com a Avenida João de Melo, esteve a Pensão e Café Jardim, edifício bem “esgalhado” pelo Mestre local Guilherme Cosme que, talvez por não ter sido Bispo, nem figurar nos “anais” de uma qualquer academia, não lhe preservaram a obra nem a memória.

Durante anos, a “época alta” passou por esta rua. Com o final da vida do Hotel Mira Vouga, da Pensão Serrano e, antes disso, do Hotel Vouzelense, era aí que se concentravam os turistas, recebidos pela figura imponente, sorriso aberto, da Dona Alice, filha de José Rodrigues Marques (o fundador) que em 1936 anunciava diárias desde 10$00 (5 cêntimos) “no melhor local desta vila”. Piada pronta, conhecimento profundo dos segredos que, em terra de santo, sempre abençoaram os pecados da boca, a Dona Alice criava uma relação familiar com a clientela e fazia da Pensão Marques uma referência. Recebeu prémios nacionais e internacionais e... fechou- para terra com pretensões turísticas, é demasiado grande o cemitério da hotelaria. Resta o edifício à espera que alguém lhe pegue. Com ele, permanecem as últimas esperanças, as nossas, de que alguém por lá encontre um pouco da inspiração de outros tempos e devolva à vila um espaço digno, adaptado ao turista que procura Vouzela e que ela hoje não tem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda recentemente um estudo sobre o termalismo da região criticava as limitações da oferta da hotelaria local. Não percebo o desinteresse dos vouzelenses em melhorarem a oferta desses serviços. Comodismo?

Zé Bonito disse...

Comodismo, talvez não seja a causa principal. Talvez antes um certo receio, que podia desaparecer se houvesse indicações claras de que o Turismo é uma opção estratégica fundamental.