Os exemplos que damos, as gravatas que usamos e os votos que desejamos
Vêm-nos à memória os versos de O’Neill, “País engravatado todo o ano/ e a assoar-se na gravata por engano”. De facto, é como se estivéssemos condenados a vestir uma pele que não nos pertence, num faz de conta permanente: faz de conta que somos muito espertos, faz de conta que somos muito desenvolvidos, muito... modernos.
Num estudo da responsabilidade da Comissão Europeia, Portugal é apresentado como o exemplo do que NÃO deve ser feito, por todos quantos vão aceder ao euro. Explorando até ao osso o mercado interno e evitando o risco da abertura ao mercado internacional, grande parte das empresas portuguesas assinaram a sua própria sentença de morte. A construção civil foi um dos estratagemas então usados, com os impactos conhecidos no desordenamento do território e sem outra contrapartida que não o ganho imediato do especulador. Dito por outras palavras, não só nada ganhamos com a asneira, como temos que suportar as suas consequências.
Para todos quantos se preocupam com o ordenamento do território, é fraco o consolo de verem confirmadas as suas teses: a transformação do país num estaleiro de obras (em grande parte) inúteis, mais não tem feito do que destruir os principais recursos ligados ao património natural e edificado. A triste realidade, é que grande parte dos nossos “dirigentes” locais e nacionais, continua a confundir desenvolvimento com construção desenfreada, não percebendo o caracter efémero do que criam e a destruição que provocam. É o tal fatinho que se tenta vestir sem que lá caiba a pança e a vistosa gravatinha de que falava o O’Neill... Quase apetece desejar que se mantenham quietos, quietinhos, só a fazer figura, até que surja uma onda de novas ideias. E que a nova Lei das Finanças Locais lhes aperte... a gravata.