sexta-feira, dezembro 29, 2006

Os exemplos que damos, as gravatas que usamos e os votos que desejamos

“(...) muitas empresas deixaram de produzir os chamados bens transaccionáveis- aqueles que podem ser exportados ou que podem sofrer concorrência de produtos semelhantes importados- e refugiaram-se nos serviços ou na construção civil, escapando à pressão de empresas internacionais mas perdendo, ao mesmo tempo, capacidades para competir em mercados globais.”- Paulo Ferreira, De bom aluno a mau exemplo, in Público, 28 de Dezembro de 2006.

Vêm-nos à memória os versos de O’Neill, “País engravatado todo o ano/ e a assoar-se na gravata por engano”. De facto, é como se estivéssemos condenados a vestir uma pele que não nos pertence, num faz de conta permanente: faz de conta que somos muito espertos, faz de conta que somos muito desenvolvidos, muito... modernos.

Num estudo da responsabilidade da Comissão Europeia, Portugal é apresentado como o exemplo do que NÃO deve ser feito, por todos quantos vão aceder ao euro. Explorando até ao osso o mercado interno e evitando o risco da abertura ao mercado internacional, grande parte das empresas portuguesas assinaram a sua própria sentença de morte. A construção civil foi um dos estratagemas então usados, com os impactos conhecidos no desordenamento do território e sem outra contrapartida que não o ganho imediato do especulador. Dito por outras palavras, não só nada ganhamos com a asneira, como temos que suportar as suas consequências.

Para todos quantos se preocupam com o ordenamento do território, é fraco o consolo de verem confirmadas as suas teses: a transformação do país num estaleiro de obras (em grande parte) inúteis, mais não tem feito do que destruir os principais recursos ligados ao património natural e edificado. A triste realidade, é que grande parte dos nossos “dirigentes” locais e nacionais, continua a confundir desenvolvimento com construção desenfreada, não percebendo o caracter efémero do que criam e a destruição que provocam. É o tal fatinho que se tenta vestir sem que lá caiba a pança e a vistosa gravatinha de que falava o O’Neill... Quase apetece desejar que se mantenham quietos, quietinhos, só a fazer figura, até que surja uma onda de novas ideias. E que a nova Lei das Finanças Locais lhes aperte... a gravata.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Urbanização de Sampaio começa com destruição de muro de pedra

Urbanização de Sampaio. Quem desce, do lado direito, encontra um muro recentemente construído, separando os loteamentos do passeio público. Trata-se de um vulgaríssimo muro em cimento. Nada de novo. Surpreendente é ter sido destruído um muro em pedra (ainda visível), para dar lugar à “modernaça” construção. Porquê?

Os muros de pedra, são marcas características da nossa região, reflectindo o esforço dos que, ao longo de séculos, souberam conquistar espaço à dureza da serra. São marcas do esforço, da técnica e do regime de propriedade. Como tal, deviam ser classificados e protegidos, se houvesse conhecimento para mais do que para delimitar “centros históricos” de pouco rigor, cenário para fotografias de turista ocasional. Se quiserem um argumento mais de acordo com a sensibilidade dos que nos têm dirigido, digo: foram desperdiçados milhares de euros!

Como início de uma urbanização num dos bonitos espaços da vila de Vouzela, é um sinal preocupante. Haverá sensibilidade para proteger o que resta, para evitar o corte dos carvalhos, para saber conviver com o Zela que corre ao fundo? Duvido. Os autarcas que vamos tendo, são óptimos a encomendar estudos, mas revelam algumas dificuldades de interpretação...

terça-feira, dezembro 19, 2006


"Olho para ti"

segunda-feira, dezembro 18, 2006

"Quando somente pensar é aprofundar a tristeza..."

Uma mulher em Vouzela num determinado dia ,abraçou e beijou os seus filhos ,que eram tudo o que sempre desejou e tinha.
Nutria por eles um amor doido , maior que a dor que a enchia de lágrimas e de desespero ,lhe rasgava o coração e sobretudo a Alma.
Alimentou-os de manhã e saiu para passear ,contou-lhes todas as histórias que se lembrou ,sorrindo de angustia.
Fez uma brincadeira de todos se amarrarem com cordas junto á ponte do Vouga,e saltou para o rio.
O silêncio que se seguiu foi brutal, como se os homens e as mulheres de todos os cantos do mundo tivessem sido trespassados por essa culpa esse vazio esse espanto, esse gesto para além da linha do entendimento e da razão.
No dia em que fazia um ano em que esta mulher se matou com os filhos,o pai e marido resolveu queimar as cordas deste drama e imolou-se , silenciando pelo fogo o que a água gritou...

-Aconteceu em Vouzela e estes factos extraordinários não estão sujeitos a qualquer julgamento ou análise a não ser a ficção da escrita.

-Parte de um poema de Keats que só conheço a versão em castelhano ,perdoem-me os puristas da lingua:
Aquí, donde los hombres se sientan y oyen sus mutuos quejidos;

donde la parálisis agita algunas tristes,ultimas canas,

donde la juventud palidece,adelgaza como un espectro y muere;

donde tan solo pensar es estar lleno de tristeza[...]

John Keats

Beijos do manel vaca

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Tremido na fotografia

(Quo)

O Instituto Nacional de Estatística disponibiliza na sua página, os dados do “Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas 2005”. Ao fim e ao cabo, trata-se da confirmação do que todos suspeitávamos e que se torna evidente para quem percorre o País: grande parte do território tem sido abandonado sem projecto nem simples ideia, limitando as opções à emigração ou à especulação imobiliária. Mas, sobretudo, é um retrato em que, todos, continuamos a ficar mal e em que, apesar das aparências, o Poder Autárquico também entra.

Neste momento, Portugal tem a população agrícola mais idosa e menos escolarizada de toda a União Europeia, com uma reduzida capacidade para beneficiar de ajudas, mas com uma forte dependência, ao nível da origem dos principais rendimentos do agregado do produtor, de pensões e reformas. Se acrescentarmos o facto do sector secundário representar a terceira fonte dos principais rendimentos destes agregados (trabalhadores inevitavelmente pouco qualificados), facilmente concluímos que o nosso “mundo rural” é já um “barril de pólvora”, com impactos ambientais, sociais e económicas profundamente negativos. Tenha-se em conta que, nas estatísticas sobre o comércio internacional, no período entre Janeiro e Setembro de 2006, verificou-se um aumento de 8,2% nas entradas de produtos alimentares e bebidas (quer produtos primários, quer transformados).

Se é verdade que a maior parte das decisões para o sector, já pouco dependem das instâncias nacionais, não o é menos que pouco se fez para o reorganizar, tendo em conta os dois maiores serviços que pode prestar ao país: apoiar o ordenamento do território e impedir o extremar de situações sociais de carência. Ao fim e ao cabo, era isto que se exigia dos tais projectos de “economia sustentada” de que tantos falam e poucos praticam: conseguir o financiamento que permitisse a continuação de parte de uma actividade economicamente deficitária, mas que garantia uma percentagem do sustento de pessoas de difícil reconversão, dando-lhes condições mínimas para permanecerem nas localidades e delas cuidarem. Educação, formação e “paradigmas finlandeses”, deviam ter sido as metas a atingir com a geração seguinte, que, desse modo, estaria apta para dar corpo às reformas necessárias.

As autarquias tinham um papel a desempenhar que, salvo raras e honrosas excepções, recusaram. Promover a selecção e promoção de produtos de excelência, apoiar na criação de redes de distribuição, estimular o associativismo e a redefinição das propriedades, facilitar investimentos de que resultasse a reconversão de actividades menos produtivas, era um serviço que o poder autárquico podia ter prestado às regiões, ao país e a si próprio, sem grandes custos e apenas com ideias. Em vez disso, abandonaram-se as pessoas à “sorte” e aos ditames do mercado, que na prática significou esperar pela morte dos mais idosos, perverter os princípios de apoio da Segurança Social e abrir portas aos desvarios do imobiliário ou à “fé” nas “zonas industriais” (onde estão os trabalhadores qualificados que as permitam em bases sólidas?). Numa segunda fase, os responsáveis locais perceberam que estavam a perder população e, consequentemente, peso negocial. Azar. Dos autarcas e, sobretudo, nosso, condenados a um território desordenado, desleixado, em muitos casos abandonado.

O pior de tudo, é que se prevê ser difícil a recuperação, já que a base social que a podia sustentar, envelhece ou, pura e simplesmente, não está a ser preparada para tal. Na maior parte dos casos, emigra. Para o litoral, ou para onde quer que seja. Ficam os sinais destes tempos: rotundas, pavilhões, muito alcatrão, urbanizações sem sentido. Espera-se que baptizados com os nomes dos seus mentores. Para que ninguém os esqueça.

domingo, dezembro 10, 2006

Um pagode

Vouzela está um pagode. Não se trata de uma piada à proliferação de casas de comércio chinês, mas a constatação de um facto: é uma paródia pegada. Já teve um combóio a sério, mas não descansou enquanto não acabou com ele. Agora, tem um a brincar a que dá honras de “atracção turística”- ou, pelo menos, do que alguns chamam como tal. Já teve turismo, com um hotel e várias pensões. Agora, não tem um local de jeito para acolher quem nos visita, mas farta-se de discursar sobre a importância do Turismo para a economia local e, claro está, “sustentada”. Tem recursos hídricos impressionantes, mas já passou por faltas de água. Tem dois rios que despreza, enquanto se enternece com piscinas vulgares. Teve generosos favores da “Mãe Natureza”, mas prefere destruí-los para edificar obra de duvidoso gosto e largo orçamento. Tem a população a diminuir, mas não para de construir. De facto, só com muito sentido de humor. Negro.

Recentemente, na página da autarquia divulgava-se a iniciativa “Natal Ecológico”, da responsabilidade do Projecto “Anima Senior”. Pensei logo que vinha mesmo a calhar, até porque nada como a transmissão da experiência dos mais idosos, para equilibrar a tendência consumista das nossas crianças. Já assisti a iniciativas dessas e todos gostam: os idosos e as crianças que descobrem o prazer de inventar os próprios brinquedos, de os recriar, a partir de materiais simples. Tenho a certeza que qualquer uma daquelas pessoas do “Anima Senior”, teria muito que contar, muito para ensinar. Mas, afinal de contas, a ideia foi totalmente ao contrário: tratou-se de “sensibilizar os mais velhos (sic) para a importância de reciclar o lixo”. Como? Construindo presépios “utilizando materiais recicláveis, como por exemplo papel, embalagens, plástico, garrafas, entre outros”. Ou seja, aquelas pessoas que tiveram uma experiência real de reaproveitamento e reciclagem de materiais, foram “sensibilizadas” para fazerem um São José a partir de uma garrafa de "Coca-Cola" e uma Nossa Senhora de um iogurte “Yoplait”. Na verdade, foram “sensibilizadas” para reciclar um lixo que, em grande parte dos casos, nunca produziram.

Os organizadores garantem estar já “a pensar em novas actividades”. Tendo em conta o “público-alvo”, talvez possamos esperar que o “sensibilizem” para a importância da preservação dos ecossistemas, através da construção de aquários, ou para as boas práticas na gestão da floresta, com um curso sobre tratamento de “bonsais”. Não me digam que isto não é um pagode.

sábado, dezembro 09, 2006

Sai uma caixa de dúzia!

O segredo está no folhado. Finíssimo, estaladiço, só os “eleitos” o sabem fazer e poucos o sabem comer. Exige dentada firme, noção de medida, paladar apurado, tempo. Os pasteis genuínos não se encontram em áreas de serviço, ou ao virar da esquina. É preciso procurá-los e merecê-los. Em Vouzela.

Mas, há os que se atrapalham com o folhado, que até o sacodem, lambões, indo direitos ao recheio. Para esses, aconselhamos a Bola de Berlim. Com creme. Também há quem gostasse de ver o Pastel de Vouzela transformado noutra coisa qualquer. Talvez, até, com cobertura de morango, ou encimado por uma rodela de kiwi. Um “pedaço” do tipo “faça você mesmo”, à disposição numa qualquer prateleira de supermercado em embalagens de celofane. Desses não temos, nem queremos. No pastel e em Vouzela, interessa-nos o que têm de único, de diferente. Pedras, flores, pessoas. Interessa-nos o verde da paisagem, a leveza das águas, o som do silêncio, a frontalidade das gentes. E o finíssimo folhado, claro- é esta a riqueza de Vouzela. O resto não passa da mediocridade dos adoradores de “donuts” e de “Reboleiras” universais.

O espaço que hoje abrimos, está à disposição de todos os que queiram reflectir sobre Vouzela e a região de Lafões. Não pretende ser isento- tomamos partido, sem rodeios ou cedências- mas respeita (quase) todas as opiniões. À mesa, vai sentar-se gente que conhece Vouzela e dela usufruiu plenamente. Gente que experimentou os rios, o espaço livre, que aprendeu com as pessoas. Mas gente que tem assistido ao progressivo domínio dos fãs do folhado de microondas, das urbanizações canhestras, dos que se envergonham do seu passado rural. O “Pastel de Vouzela” está disponível para reflectir sobre tudo isso, com dentada firme, mas aberto a outros paladares, até porque não recusamos um “caladinho”, uma fatia de folar ou um caçoilinho. Quem for servido, que faça o favor de se sentar. A conversa vai começar. Com Vouzela em fundo, já que, apesar de todas as asneiras de que tem sido vítima... continua linda!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Da Feira ao Monte cavalo

Nestes limites acontece Vouzela.Do concelho se falará por não menos importante.
Importa reter que em Vouzela a sabedoria das pedras é tanta que dos homens pouca história reza,mas reza...e é tambem dessas histórias de amor e preconceito,orgulho e inveja,sensibilidade e maledicência ,bem como todos os titulos de filmes com drama ,que o vosso manel vaca vai tentar dizer,mais sobre o amor e traição claro ,pois sempre fizeram parte do imaginário vivido e muito vivenciado de entre a feira e o monte de cavalo.
Lá iremos ...Beijos do manel