Percorrendo os caminhos do inferno sem ficar chamuscado
Desenho de Manuel Rodrigues- 1952
Não tem nada que saber: para nós, tudo vai ser mais dificil. O aumento do IVA para a restauração, mais as portagens na A25, mais o encerramento de serviços, são parcelas duma soma que, para cá, só diminui. Se a isto juntarmos as notícias sobre o endividamento da Câmara e, até, o possivel fim do feriado do Corpo de Deus, poucas dúvidas nos ficam de que estamos nas mãos do diabo.
Decorria o debate sobre o orçamento quando, a páginas tantas, o ministro das finanças "despachou" dúvidas levantadas sobre as consequências do aumento do IVA para a restauração para 23%, com a seca afirmação de que o sector "não está abrangido pela necessidade de incentivar e favorecer as exportações". Ponto final. Estranha ligeireza de quem se mostra sempre tão preocupado em fazer passar uma imagem de rigor, contrastando, até, com a preocupação demonstrada e o tempo gasto para refutar a acusação de que tinha citado mal Keynes. No entanto, foi também um sinal e, para nós, um alerta: o turismo que vai merecer os favores deste governo é o que esteja orientado para os estratos sociais com mais poder económico, sobretudo o que se dirija ao mercado externo. O resto, ficará limitado pelo aumento dos custos vários e das dificuldades provocadas pelo desemprego e pela redução de salários. É este o caminho do inferno que, para já, seremos obrigados a percorrer. Tentemos não ficar chamuscados...
Neste contexto, não só é de louvar a "rede" criada por vários agentes económicos no âmbito do projeto "Viajando por Besanas", como devemos refletir no modo de a alargar. Sempre defendemos que esse seria o caminho. As opções do atual governo tornam-no inevitável.
Todos os estudos mostram que há mercado para Vouzela (Lafões), mas não o há em Vouzela. Colocar a região nas rotas turísticas é uma prioridade. Mas é cá dentro que temos que começar por melhorar as estratégias de divulgação. A história do turismo de Vouzela prova que a atividade sempre beneficiou com o sucesso conseguido pelos outros concelhos. De facto, quanto mais rico for o pacote de ofertas que consiga justificar a procura da região, mais potenciais clientes pode ter cada uma das atividades. Quanto mais gente vier procurar as termas ou os pasteis, maior será a frequência possível de restaurantes, papelarias, etc. Quanto mais gente se convencer a passar entre nós períodos de média, longa duração, maior será a procura da construção e de tudo o resto. Então, se cada um tem muito a lucrar com o sucesso dos outros, é evidente que terá todo o interesse em ser o seu maior divulgador, agitando em cada oportunidade, o que o turista só aqui pode encontrar.
Mas, cuidado. O produto que já provou ter procura, é o que de mais específico a região tem: o seu património natural e edificado; os seus usos e costumes; a sua gastronomia... Mais: qualquer profissional do setor explica que se procura "viver", experimentar tudo isso e não apenas tirar fotografias ou colecionar postais do que fomos. Deixemo-nos, então, de intervenções desenecessárias que adulterem a riqueza que temos. Deixemo-nos de blocos de apartamentos de "quatro andares", de "construções em banda" (1), de loteamentos acanhados, da ocupação desnecessária do espaço. Se não o fizermos é mais do que certo que acabaremos queimados pelas chamas do inferno que se avizinha.
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(1)- Da proposta de alteração do PDM de Vouzela
Decorria o debate sobre o orçamento quando, a páginas tantas, o ministro das finanças "despachou" dúvidas levantadas sobre as consequências do aumento do IVA para a restauração para 23%, com a seca afirmação de que o sector "não está abrangido pela necessidade de incentivar e favorecer as exportações". Ponto final. Estranha ligeireza de quem se mostra sempre tão preocupado em fazer passar uma imagem de rigor, contrastando, até, com a preocupação demonstrada e o tempo gasto para refutar a acusação de que tinha citado mal Keynes. No entanto, foi também um sinal e, para nós, um alerta: o turismo que vai merecer os favores deste governo é o que esteja orientado para os estratos sociais com mais poder económico, sobretudo o que se dirija ao mercado externo. O resto, ficará limitado pelo aumento dos custos vários e das dificuldades provocadas pelo desemprego e pela redução de salários. É este o caminho do inferno que, para já, seremos obrigados a percorrer. Tentemos não ficar chamuscados...
Neste contexto, não só é de louvar a "rede" criada por vários agentes económicos no âmbito do projeto "Viajando por Besanas", como devemos refletir no modo de a alargar. Sempre defendemos que esse seria o caminho. As opções do atual governo tornam-no inevitável.
Todos os estudos mostram que há mercado para Vouzela (Lafões), mas não o há em Vouzela. Colocar a região nas rotas turísticas é uma prioridade. Mas é cá dentro que temos que começar por melhorar as estratégias de divulgação. A história do turismo de Vouzela prova que a atividade sempre beneficiou com o sucesso conseguido pelos outros concelhos. De facto, quanto mais rico for o pacote de ofertas que consiga justificar a procura da região, mais potenciais clientes pode ter cada uma das atividades. Quanto mais gente vier procurar as termas ou os pasteis, maior será a frequência possível de restaurantes, papelarias, etc. Quanto mais gente se convencer a passar entre nós períodos de média, longa duração, maior será a procura da construção e de tudo o resto. Então, se cada um tem muito a lucrar com o sucesso dos outros, é evidente que terá todo o interesse em ser o seu maior divulgador, agitando em cada oportunidade, o que o turista só aqui pode encontrar.
Mas, cuidado. O produto que já provou ter procura, é o que de mais específico a região tem: o seu património natural e edificado; os seus usos e costumes; a sua gastronomia... Mais: qualquer profissional do setor explica que se procura "viver", experimentar tudo isso e não apenas tirar fotografias ou colecionar postais do que fomos. Deixemo-nos, então, de intervenções desenecessárias que adulterem a riqueza que temos. Deixemo-nos de blocos de apartamentos de "quatro andares", de "construções em banda" (1), de loteamentos acanhados, da ocupação desnecessária do espaço. Se não o fizermos é mais do que certo que acabaremos queimados pelas chamas do inferno que se avizinha.
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(1)- Da proposta de alteração do PDM de Vouzela
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