quarta-feira, março 17, 2010

"Viajando por Besanas"

Foto José Campos

Soa estranho em português e até significa algo pouco lúcido no nosso calão, mas o termo vem dos sulcos abertos pelo arado- besanas- e é nome de projecto: "Viajando por Besanas". Com ele, procura-se fazer o levantamento de um conjunto de actividades ligadas ao sector primário, que possam servir de suporte a pacotes turísticos e deles beneficiem. Por proposta da ADRL, Lafões é a área portuguesa de intervenção.

A ideia parece dar forma à organização das actividades rurais que por temos defendido, articulando produção, promoção e comercialização. No entanto, com a ressalva de não conhecermos todos os pormenores deste projecto, ficamos na dúvida se não começa onde devia acabar. Expliquemos.

Para além de reformas mais profundas relacionadas com a divisão da propriedade, as técnicas de produção e a organização da distribuição, a agricultura de regiões como a nossa, tem que furar o bloqueio que lhe foi imposto pela desvalorização social do sector. É aí que temos que procurar as razões que ainda levam a juventude a afastar-se; é aí que encontramos a explicação para que se tenham abandonado produtos de referência, daqueles que marcavam a nossa especificidade. Claro que nestas coisas caímos sempre no dilema do ovo e da galinha, mas arriscamos dizer que é nesses dois sectores que precisamos intervir para alterar o actual e calamitoso estado das coisas.

Fazer um levantamento rigoroso dos produtos tradicionais e avaliar os que têm condições para se afirmarem, não significa "fechar as fronteiras", mas sim abri-las a algo em que estamos em vantagem porque o fazemos melhor do que os outros. Relacionar as ofertas de formação profissional com actividades que queremos reformular e a que precisamos acrescentar valor, não é condicionar a liberdade de escolha, mas antes dar-lhe sentido e apoio. Ora, tudo isso está por fazer e, salvo melhor opinião, esse seria o primeiro passo que um projecto como o "Viajando por Besanas", podia transformar em grande caminhada. Invertendo o processo, vamos limitar a oferta ao que (ainda) há, o que é muito pouco.

De qualquer modo, aguardamos com interesse o desenrolar da experiência. Que se abram, pois, as "besanas", sulcos bem fundos que garantam produtivas colheitas. E que não seja, apenas, mais um projecto.

2 comentários:

F. J. Branquinho de Almeida disse...

E que as "bezanas" sejam com branco de Lafões!

Zé Bonito disse...

Ou aguardente (ou água-ardente) velha da região, que é um dos tais produtos que mereciam recuperação.