quarta-feira, maio 26, 2010

Este país não é para vivos

Fernando Pessoa encontra D. Sebastião num caixão sobre um burro ajaezado à andaluza, Júlio Pomar-1985

O raciocínio é simples e não tem nada que saber. A esperança média de vida já anda pelos oitenta anos e qualquer coisa. Isto quer dizer que um reformado aos 65 anos, vai receber, durante cerca de quinze anos, por conta dos descontos dos que (ainda) trabalham. Não contente com isto, vai beneficiar de assistência médica, apoios nos medicamentos e mais não sei quantas ajudas, dez, quinze, vinte anos depois de deixar de ser produtivo. Resultado: não há dinheiro!

Sim, eu sei que o reformado assim beneficiado, passou uma vida inteira de trabalho a descontar. Só que isso foi para pagar as reformas da geração anterior. Quem paga a reforma dele, é a geração ainda activa que tem duas características: tem pouca gente e pouco trabalho. Azar! Tivesse feito mais filhos e mais cedo. Sempre podiam emigrar e mandar as receitas...

Moral da história: a atitude patriótica é morrer em plena laboração. Mas calminha: só tem direito a medalha, se o fizer no último dia, no último minuto da sua carreira contributiva. A partir daí está dispensado.

O aspecto mais dramático de toda esta "brincadeira" é ela ser a conclusão última de muito do que tem sido dito sobre a mais recente versão de crise em que nos encontramos. O aumento da esperança média de vida passou, num ápice, de conquista da humanidade a problema para as finanças públicas. O mesmo se pode dizer do alargamento da assistência médica, do ajuda à compra de medicamentos, dos apoios às pessoas mais carenciadas e tantas outras coisas que- pensávamos nós- deviam ser o objectivo do funcionamento do sistema. Perante a falência deste, mais fácil do que assumir a necessidade de o mudar é acabar com os objectivos. Ou com as pessoas. Pelo menos, as não contributivas.

Em verdade se diga que, com uma ou outra variante, a receita já foi experimentada. Os problemas da nossa agricultura nunca foram enfrentados e resolvidos, mas apenas ignorados e esquecidos pelo cansaço e pela morte de grande parte dos seus protagonistas. O mesmo se pode dizer de todos os demais problemas que fomos sentindo no Interior e que estiveram na origem de alguns dos maiores movimentos migratórios de que há memória. Ignorar e esperar pelo "remédio do tempo", tem sido a "solução" única num país que ganhou fama de tratar melhor os mortos do que os vivos- Camões e Fernando Pessoa são apenas os exemplos mais famosos.

Por tudo isso dizemos, adaptando o título do filme dos irmãos Coen, que este país não é para vivos. Esperando, contudo, que o leitor seja do "contra", ultrapasse os 100, estoire de vez com as finanças públicas, mas ainda tenha o privilégio de dizer: este país já não é para imbecis.

4 comentários:

MR disse...

obrigado...lol...

Fermanl disse...

Este País não é para Mortos.

Zé Bonito disse...

Também tem sido para "chicos espertos".

Zé Bonito disse...

Quem viu o "Prós & Contras" de hoje, sabe do que falo.