Completamente de borla
Pronto! Temos governo novo, nova equipa camarária, os vencedores lançaram os foguetes da praxe, os vencidos deram as justificações de ocasião. Feitos os habituais balanços, uma conclusão é inevitável: estamos na mesma! Do estado geral da Nação, outros se irão ocupar com maior competência. Ficamo-nos por um olhar por estas margens de um Vouga com água a menos e dúvidas a mais.
No seu discurso de vitória, o Dr. Telmo Antunes realçou mais uma maioria absoluta alcançada pelo seu partido. Convém que tenha consciência de que esse mesmo (legítimo) motivo de orgulho é, também, o que não lhe dá qualquer margem para falhar. O mandato que agora se inicia, vai usufruir de um empréstimo polémico, apresentado como solução para a calamitosa situação financeira da Câmara. Ninguém perdoará que um simples cêntimo seja gasto, sem uma criteriosa definição de prioridades.
Em bom rigor, muito do que Vouzela necessita, tem mais que ver com ideias do que com dinheiro. Trata-se, sobretudo, de manter a casa arrumada, proteger o que a "Mãe Natureza" nos deu... completamente de borla. Às vezes fazemos lembrar uma riquíssima casa senhorial, cheia de tradição e valiosíssimo mobiliário que o desleixo vai abandonando ao caruncho e o mau gosto leva a substituir por cangalhada em contraplacado...
Estimular a recuperação do património edificado, em grande parte nas mãos de privados, pode ser feito através de facilidades fiscais e de licenciamento, melhorando a imagem da região e criando emprego. É verdade que se perdeu uma oportunidade aquando da elaboração do Regulamento de Edificações Urbanas, de modo a criar condições para a preservação de marcas importantes da nossa identidade e, até, para obrigar a construção a preparar-se para os desafios inevitáveis com as alterações climáticas. Mas, são precisamente esses descuidos que dificilmente se podem voltar a admitir a quem tem todas as condições para trilhar um caminho que ele prórpio abriu.
O mesmo se pode dizer da resolução, de uma vez por todas, do tratamento de águas residuais, acabando com a anedótica situação de uma ETAR curta para as necessidades e de que a recuperação das águas do Vouga bem necessita. O final desta história vai exigir muito dinheiro. Só que, até lá chegarmos, apenas necessitamos de habilidade, de capacidade de persuasão, para levar as autoridades de São Pedro do Sul a assumirem as suas responsabilidades.
Por último, ainda no domínio do que não custa um cêntimo, convém não desperdiçar recursos. A Reserva Botânica de Cambarinho tem oito meses para ver definida a sua situação legal; a divulgação da imagem do concelho, tem tudo por fazer. Lemos, há dias, que alguns jornalistas tentaram contactar os responsáveis pela produção tradicional dos nossos pasteis e não conseguiram. Desconhecemos os motivos do fracasso, mas a verdade é que não conseguimos compreender que a história do mais famoso produto regional, não seja "cantada" a cada esquina, que é como quem diz, devidamente publicitada. Sem entrar na divulgação do que apenas deve ser do domínio dos eleitos, quer o Turismo, quer o Museu municipal, podiam organizar uma pequena exposição permanente, ilustrando os diversos passos da produção da iguaria e realçando as suas especificidades- barato e eficaz.
Claro que muito falta fazer e muito dinheiro será necessário- aí, o importante é sentirmos serem justificados os impostos que pagamos. Mas é tempo de assumirmos que a preservação é mais barata do que a construção e que a "Mãe Natureza" é, por si só, o melhor dos executivos camarários. Completamente de borla.
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