Que seca!
"Chegou o mau tempo". Mal surgem os primeiros pingos, lá vem a lamúria. Mau tempo? Cada estado de tempo tem o seu tempo e uma função muito para além do justificar da renovação do guarda roupa. Parece que o ideal de alguns é ter uma época balnear permanente, mas o que eu sei é que os supermercados desta minha terra vendem uvas... italianas, sul-americanas e do raio que os parta a todos, os que perderam a memória das coisas. Este tempo é de trabalhar a terra e de água a rodos. Que seca!
Também nas autárquicas tem havido alguma falta de memória e seca de ideias. Afinal de contas está tudo bem, ou há problemas graves a exigirem soluções? O "esvaziamento" que temos sofrido é sinal de alerta, ou os indicadores que revelam estarmos a perder qualidade de vida são apenas manobras de estudos mal intencionados? A verdade é que as listas concorrentes parecem mais apostadas em afirmar a simpatia da cara dos candidatos, do que ideias claras.
No estado em que se encontra o concelho (a região!), endividado, com uma economia deprimida e com os seus melhores recursos num preocupante estado de abandono, fazia todo o sentido que o debate local deixasse claro o que diferencia as diversas candidaturas, o que justifica que concorram separadamente, para além de simpatias pessoais e do mais que discutível espírito de clube: queremos continuar com as suspeitas sobre os gastos da Câmara, ou estamos dispostos a apelar a uma maior participação dos cidadãos na definição das prioridades orçamentais? Aguardamos que o bom senso de cada um prevaleça na recuperação do património edificado, ou tomamos a iniciativa de pensar em programas de recuperação que, inclusivamente, contribuam para aumentar a oferta de emprego? Deixamos o ordenamento do território evoluir de acordo com interesses privados, ou fazemos regulamentos disciplinadores desses interesses? Limitamos a acção da Câmara a obras de "encher o olho" e de resultados garantidos, ou privilegiamos as que desempenhem papeis sociais e ambientais, independentemente dos frutos imediatos? Este são exemplos de temas que talvez valesse a pena debater e que, muito provavelmente, contribuiriam para um melhor esclarecimento. Até agora ninguém o fez e já quase se esgotou o tempo. Que grande seca vai por aí...
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