sábado, julho 18, 2009

A bolha

"Contemplando a crise mundial, os governantes portugueses apressaram-se a dizer que se tratava de um problema 'exógeno', que Portugal 'não estava exposto às hipotecas subprime” americanas nem tinha sofrido de “especulação imobiliária'. A nossa crise, disseram, tinha causas distintas e só se agravou por força desta crise alheia.
Sucede que, na verdade, Portugal sofreu uma bolha imobiliária mais grave que os Estados Unidos: enquanto a americana começou a crescer em 2001, a portuguesa vinha inchando desde 1986. As diferenças quantitativas estão à vista: naquele país existem cerca de 60 casas vazias ou 'secundárias' por cada 1000 habitantes; no nosso, esse número ultrapassa as 140; a habitação média estado-unidense custa cerca de 2,5 orçamentos anuais brutos da família, ao passo que a sua equivalente portuguesa custa 9,5 vezes o respectivo orçamento. Acresce ainda o facto de a maioria das hipotecas contraídas em Portugal serem exemplos acabados de subprime: as suas prestações consomem mais de 40% do orçamento mensal da família, cobrem mais de 80% do valor do imóvel, são amortizadas a três ou mais décadas, e estão indexadas a taxas de juro variável. Por fim, o preço absoluto dos fogos residenciais portugueses raia o incongruente: em Lisboa ultrapassa os 2500 €/m2, quando em Berlim ronda os 1500 €/m2. A rematar o panorama imobiliário português encontram-se os assombrosos números de construções erguidas desde 1986: mais de 50% do parque residencial hoje existente tem menos de duas décadas, e presume-se que entre este se encontre mais de um milhão de fogos desabitados"- Pedro Bingre, ops!, via Pedra do homem
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A não perder: o conjunto de textos sobre urbanismo e corrupção do último número da ops!- ZB

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