segunda-feira, fevereiro 25, 2008

À janela

A semana que passou foi rica em acontecimentos que merecem tempo de reflexão. Quando já todos lamentávamos a seca, eis que chuvas fortes, durante uma noite, bloquearam parte do país e o raciocínio de alguns responsáveis. O ministro do Ambiente sacudiu a muita água que lhe coube para cima das autarquias e o Dr. Ruas respondeu, devolvendo a molha. Mas ficou sem se perceber como é que o governo transfere mais responsabilidades na gestão das escolas para os mesmos a quem não reconhece competência para limpar sarjetas. A meio da semana, o ministro das Finanças defendeu gestores bem pagos, mas cidadãos poupadinhos a bem da inflação, enquanto novos estudos mostraram que as “derrapagens” nas obras públicas, longe de serem excepção, são a mais rigorosa das regras. E quando a SEDES veio alertar para o perigo de surgir uma “crise social”, eis que um estudo (mais um) da Universidade da Beira Interior confirmou o que já pressentíamos: a crise já aí está.

Vamos por partes, devagarinho, naquele ritmo preguiçoso de quem vê o mundo passar-lhe frente à janela. Parece-nos a melhor forma de tentarmos compreender o que nos acontece e, no estado em que as coisas estão, não é por andarmos mais depressa que vamos a lado algum.

A chuva caiu...

“Chuvas intensas, é certo, mas o pandemónio de água que inundou a Grande Lisboa deveria merecer reflexão sobre as consequências da crescente urbanização e impermeabilização dos solos urbanos. Mas, no entanto, o que se viu foram declarações do ministro do Ambiente, Nunes Correia, a reduzir o problema a questões de limpezas de sarjetas e algerozes(...)”

... e a água não pára

“Quando fui DREC testemunhei até onde podem chegar certos apetites autárquicos de interferência absurda e ilegítima no funcionamento de algumas escolas e dos seus efeitos nefastos”- José Manuel Silva, antigo Director Regional de Educação do Centro.

Não há dinheiro...

"Há 10 anos que os funcionários da função pública perdem poder de compra. O ano passado, o salário médio líquido dos trabalhadores por conta de outrem passou de 719 para 720 euros. As pensões dos mais pobres dos pobres, 1,6 milhões de portugueses que recebem menos do que o salário nacional, tiveram um “aumento” abaixo da inflação"- texto integral aqui.

... nalguns bolsos

“Foi a percepção de que raramente as empreitadas não derrapam e a vontade de criar um modelo que permita calcular com maior exactidão os custos reais que levou o engenheiro António Flor a fazer incidir a sua tese de doutoramento sobre esta matéria. Para o seu trabalho, socorreu-se de auditorias do Tribunal de Contas a 73 obras públicas - desde o Metropolitano de Lisboa aos estádios do Euro/2004. Do conjunto de empreitadas estudadas, verificou-se que 69 custaram mais do que o previsto, sendo que a dimensão do desvio varia entre 7% e 243%. Ou seja, em média, as obras públicas custam mais 102% do que o previsto. A ordem de grandeza é relevante, se se tiver em conta que os contratos públicos (empreitadas e aquisições de bens e serviços) representam cerca de 14% do Produto Interno Bruto (indicador da riqueza produzida pelo país)”.

Olha a crise...

“O mal-estar e a degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento. E se essa espiral descendente continuar, emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever”.

... que há muito sentimos

“Estas classificações revelam que, em termos de qualidade de vida, os municípios do interior centro do país, têm ainda um longo caminho a percorrer, no sentido de proporcionar um maior bem-estar às populações e, dessa forma, serem também mais atractivos em termos de fixação de novos habitantes, contrariando a tendência da desertificação".- ver tabela ordenada, aqui.

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