Falar de água em tempo de seca
Imagem dos anos 30 (retirada de Vouzela, Antiga Capital de Lafões e seus Arredores, Edição da Comissão de Iniciativa)
De acordo com os nossos “entendidos”, estamos num “ano seco, mas não de seca”. As albufeiras estão nos 40% da sua capacidade, mas o ministro defende que é necessário “desdramatizar” a situação. Grande erro. As secas previnem-se, não se resolvem. Agora era o momento certo para estimular a adopção de medidas de racionalização do consumo. Sobretudo, era a altura para assumir que a água é um problema prioritário do nosso país, já que os estudos apontam para uma redução, a curto prazo, de cerca de 20% nos nossos recursos hídricos.
Por aqui, o Vouga vai baixo. Com o desaparecimento da agricultura e o consequente uso (e abuso) dos “químicos”, alguns pensaram estar arredada a principal fonte de maus tratos da nossa água. Puro engano. A recuperação e defesa dos nossos rios e nascentes nunca foi entendida como uma necessidade urgente pelos responsáveis locais e, no ano passado, houve mesmo falta de água em algumas freguesias.
Convém explicar para os de fora que a água sempre foi, para nós, um elemento dominante da paisagem. Ela pura e simplesmente existia, a partir de inúmeras nascentes, correndo, ao sabor das necessidades, por regos e quelhas orientadores, muitas vezes transbordando e escorrendo pelos muros, estrada abaixo, alimentando os cursos principais. Estava lá, em quantidade e qualidade, não se pensava nisso.
Uma agricultura, mais desesperada do que pensada, foi responsável pelas primeiras agressões. Depois, um saneamento básico atamancado, entendeu os rios e ribeiros como uma espécie de “cloaca máxima” que, à borla, nos afastava a merda da porta. Os hotéis das Termas foram sempre uma das principais fontes de poluição do Vouga. Nos anos 70, os desperdícios dos aviários eram o grande inimigo dos que, no Verão, procuravam a Foz (zona de confluência dos rios Zela e Vouga) para um mergulho. Enfim, o perigo cheirava-se.
Foi desaparecendo a agricultura, foram abandonados os moinhos, iniciou-se a desordenada ocupação do solo pela construção. Os cursos de água perderam a sua função económica, ficando limitados ao estatuto de esgotos ou de empecilhos. Muitas nascentes foram atulhadas. A isto, responderam as autoridades com a medida mais ridícula que ainda há-de ser alvo de estudo: espalharam tabuletas a dizer “água imprópria para consumo”. E as tabuletas foram-se multiplicando...
Com a chegada dos primeiros fundos refinou-se a intervenção: vieram dinheiros para as ETARs que... nunca funcionaram. Luisa Schmidt no seu trabalho “Portugal Ambiental” (Portugal Ambiental. Casos & Causas, Oeiras, Celta Editora, 1998), diz que foi um claro caso de polícia- não deve haver polícias suficientes para tantos casos. Agora que se rapa o fundo ao tacho dos dinheiros europeus, não consta que a recuperação da qualidade da água mereça rótulo de PIN.
Por aqui, o Vouga vai baixo. Com o desaparecimento da agricultura e o consequente uso (e abuso) dos “químicos”, alguns pensaram estar arredada a principal fonte de maus tratos da nossa água. Puro engano. A recuperação e defesa dos nossos rios e nascentes nunca foi entendida como uma necessidade urgente pelos responsáveis locais e, no ano passado, houve mesmo falta de água em algumas freguesias.
Convém explicar para os de fora que a água sempre foi, para nós, um elemento dominante da paisagem. Ela pura e simplesmente existia, a partir de inúmeras nascentes, correndo, ao sabor das necessidades, por regos e quelhas orientadores, muitas vezes transbordando e escorrendo pelos muros, estrada abaixo, alimentando os cursos principais. Estava lá, em quantidade e qualidade, não se pensava nisso.
Uma agricultura, mais desesperada do que pensada, foi responsável pelas primeiras agressões. Depois, um saneamento básico atamancado, entendeu os rios e ribeiros como uma espécie de “cloaca máxima” que, à borla, nos afastava a merda da porta. Os hotéis das Termas foram sempre uma das principais fontes de poluição do Vouga. Nos anos 70, os desperdícios dos aviários eram o grande inimigo dos que, no Verão, procuravam a Foz (zona de confluência dos rios Zela e Vouga) para um mergulho. Enfim, o perigo cheirava-se.
Foi desaparecendo a agricultura, foram abandonados os moinhos, iniciou-se a desordenada ocupação do solo pela construção. Os cursos de água perderam a sua função económica, ficando limitados ao estatuto de esgotos ou de empecilhos. Muitas nascentes foram atulhadas. A isto, responderam as autoridades com a medida mais ridícula que ainda há-de ser alvo de estudo: espalharam tabuletas a dizer “água imprópria para consumo”. E as tabuletas foram-se multiplicando...
Com a chegada dos primeiros fundos refinou-se a intervenção: vieram dinheiros para as ETARs que... nunca funcionaram. Luisa Schmidt no seu trabalho “Portugal Ambiental” (Portugal Ambiental. Casos & Causas, Oeiras, Celta Editora, 1998), diz que foi um claro caso de polícia- não deve haver polícias suficientes para tantos casos. Agora que se rapa o fundo ao tacho dos dinheiros europeus, não consta que a recuperação da qualidade da água mereça rótulo de PIN.
Estamos em ano seco e ameaçados pela seca. Diga o ministro o que disser, é preciso criar uma opinião pública forte que privilegie a recuperação e protecção dos recursos hídricos. É necessário criar uma cultura de consumo racional da água. Já!
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