quarta-feira, maio 30, 2007

GREVE GERAL

George Grosz

Crise económica, preocupações com o ordenamento do território e o ambiente, são mistura difícil de gerir. Quando falta a fonte de rendimento, ou o rendimento, independentemente da fonte, não há muita pachorra para chorar emissões poluentes ou atentados contra a biodiversidade. A “extinção da espécie” começa na ameaça à qualidade de vida. À de cada um de nós.

É por saberem isso que os governantes justificam com as mais idílicas promessas de “desenvolvimento” (seja lá o que isso for), todos os atentados ao ambiente e ao ordenamento do território. A construção civil sempre conseguiu privilégios graças à percentagem de população activa que, directa e indirectamente, ocupa em Portugal; a racionalização de consumo de energia, é exigência que se evita fazer a grande parte das empresas, em nome da “competitividade” e da manutenção dos postos de trabalho; permitiu-se que a especulação ganhasse terreno ao investimento produtivo, a bem de uma abstracta necessidade de “criação de riqueza”. Tem sido este o ritmo dominante, por que acertam o passo “responsáveis” locais e nacionais- de Norte a Sul, o país está cheio de exemplos, desde a “urbanização” de grande parte do território, até à subalternização de actividades económicas (agricultura) e à destruição de laços comunitários (êxodo rural), passando pela deterioração de recursos e a “mercantilização” dos mais pequenos gestos das pessoas.

No entanto, salvo melhor opinião, este caminho segue o rumo do abismo. Tentar manter uma actividade económica dependente de baixo valor acrescentado (baixa exigência técnica, deficiente organização, baixos salários, fraca qualidade), é querer jogar num campeonato que não temos qualquer hipótese de vencer- estão lá os asiáticos (tomara eles conseguirem de lá sair). Jogar com a vida das pessoas, impedindo-as de criar laços de pertença, estabilidade, amontoando-as em “locais anónimos”, é erguer uma montanha de problemas sociais que não há “subsídio” que resolva.

Recentemente, a Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, divulgou o facto de, em 2006, ter havido, em todo o país, a abertura de mais uma dezena de milhar de processos do que no ano anterior. Quero interpretar estes dados pelo lado positivo, acreditando que isso se ficou a dever a uma maior sensibilização das pessoas para a problemática. No entanto, seria interessante saber quantos desses processos tiveram a sua origem na vida "suburbana" das famílias, no seu desenraizamento, na dificuldade de criação de “redes de suporte”, ou seja, no desordenamento do território. Como também seria interessante saber, quantos portugueses têm como aspiração possível viver à custa do Rendimento Social de Inserção que, por terem sido desestruturadas as actividades que os podiam “inserir”, se transforma em modo de “vida”. Já agora, talvez fosse de adiantar quanto “custa” tudo isto, para ficarmos a saber o “preço” de querer, a todo custo, manter tudo na mesma.

Crise económica, preocupações com o ordenamento do território e o ambiente, são mistura difícil de gerir. No entanto, é absolutamente necessário compreender que a primeira será tanto maior, quanto maior for o desprezo pelos segundos. Em dia de greve geral, anseio por ver uma próxima que assuma reivindicações sobre a qualidade de vida de todos nós, ou seja... sobre o ambiente e o ordenamento do território.

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