A propósito do projecto de restauro da Torre Medieval de Vilharigues
Justifica-se uma chamada de atenção para o projecto de restauro da Torre Medieval de Vilharigues. Da responsabilidade do Arquitecto Renato Rebelo, prevê intervenções na ruína da Torre, nos espaços envolventes e na Capela de Santo Amaro. O aspecto mais interessante, está na opção pelo critério da reversibilidade, limitando-se à consolidação das paredes existentes e na colocação de um volume no seu interior dividido em três pisos, unidos por uma escada. Deste modo, permite-se que, em qualquer momento, a nova construção possa ser retirada, mas cria-se uma estrutura que possibilite a “reinterpretação dos espaços e percursos para que os visitantes possam perceber como era utilizada aquela torre e qual o seu papel”. Quanto a materiais, serão utilizados o ferro, a madeira e o vidro.
A metodologia de intervenção no património edificado é normalmente polémica, quer pela abordagem que faz aos monumentos, quer pelas possibilidades de utilização que permite. São muitos os casos em que a intervenção adulterou o significado do edifício e, pura e simplesmente, ignorou a sua relação com o meio envolvente. De facto, desde 1976 que a UNESCO, na chamada “Recomendação de Nairobi”, põe o acento tónico na importância de se respeitar o princípio do “conjunto histórico”, entendido como o “agrupamento de construções e de espaços ao qual se reconheça valor arquitectónico, estético, histórico ou sócio-cultural” (1). Deste modo, procurou-se combater a tendência para se encarar o monumento como peça isolada e descontextualizada. Aliás, a mesma Recomendação definia o conceito de “envolvência” do conjunto histórico, alertando para a relação com o quadro natural e/ou edificado, “cuja percepção afecta a do próprio conjunto histórico” (2).
A metodologia de intervenção no património edificado é normalmente polémica, quer pela abordagem que faz aos monumentos, quer pelas possibilidades de utilização que permite. São muitos os casos em que a intervenção adulterou o significado do edifício e, pura e simplesmente, ignorou a sua relação com o meio envolvente. De facto, desde 1976 que a UNESCO, na chamada “Recomendação de Nairobi”, põe o acento tónico na importância de se respeitar o princípio do “conjunto histórico”, entendido como o “agrupamento de construções e de espaços ao qual se reconheça valor arquitectónico, estético, histórico ou sócio-cultural” (1). Deste modo, procurou-se combater a tendência para se encarar o monumento como peça isolada e descontextualizada. Aliás, a mesma Recomendação definia o conceito de “envolvência” do conjunto histórico, alertando para a relação com o quadro natural e/ou edificado, “cuja percepção afecta a do próprio conjunto histórico” (2).
Outro problema que nem sempre foi evitado, resultou da transformação do conjunto/monumento intervencionado num “elefante branco”, com custos de manutenção elevados e ousados projectos de dinamização, dificilmente suportáveis por muito tempo. No caso concreto da Torre de Vilharigues, para além do aspecto positivo já realçado, há dúvidas que convém esclarecer. De facto, não sabemos o que está previsto na relação do monumento com a localidade, nem o modo como se pensa enquadrar e dinamizar toda a obra prevista para o espaço exterior (palco, “zona de lazer e merendas”, arrumos, churrasqueira, cozinha, etc.). Também seria interessante saber de que modo se pensa usar o piso de entrada, já que parece ser o único acessível a visitantes com limitações motoras, apesar da bem intencionada rampa que se vai acrescentar ao monumento. Por último, se os números publicados no Boletim Municipal estão certos, prevê-se gastar 170 mil euros com as obras na Torre e 180 mil no espaço exterior e construções de apoio. Podemos estar errados, mas parece-nos haver aqui qualquer coisa que não soa bem...
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(1)- Introdução ao estudo da História e Património locais, Jorge Alarcão, Coimbra, Cadernos de Arqueologia e Arte- 2, 1982.
(2)- idem
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(1)- Introdução ao estudo da História e Património locais, Jorge Alarcão, Coimbra, Cadernos de Arqueologia e Arte- 2, 1982.
(2)- idem
Imagens retiradas do Boletim Municipal da Câmara Municipal de Vouzela e de folheto da Região de Turismo Dão Lafões.
2 comentários:
Apesar de tudo, eu também gosto da proposta para a recuperação da torre! As 3 ttorres do Concelho. Agora o que fazia falta era aproveitar tais espaços para iniciativas culturais. recitais de poesia, teatro, música, etc. ponham os jovens a mexer-se! Estimulem-nos. Dêem-lhes ideias. Eu que estou por cá (vouzela), estas coisas não me passam ao lado. Sempre que aqui estou apetece-me fazer imensas coisas com património e cultura tão nobres. Força nisso! Ai se eu estivesse sempre cá...
A ideia da torre amovível é interessante. O aproveitamento do espaço exterior, pelo que se percebe da imagem, não me agrada. Parece ser muito artificial. Perde-se a ligação com a localidade que ainda hoje se consegue imaginar.
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