segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Estratégia Nacional contra as alterações climáticas

A propósito das conclusões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (grupo científico criado no âmbito da ONU), os jornais divulgaram, entre o divertido e o resignado, os cuidados de linguagem que envolveram a aprovação das cerca de vinte páginas que vieram confirmar o que há muito se sabia. Por exemplo, de acordo com o “Público”, gastou-se um dia inteiro a discutir se a responsabilidade da acção humana no aquecimento global, devia ser apresentada como “virtualmente certa”, ou “muito provável”, numa demonstração clara da estratégia dos governos para a política ambiental. Registe-se a inocência do governo português na habilidade, já que não se fez representar, embora o ministro do Ambiente não saiba bem porquê...

De facto, tudo aponta para que a estratégia governamental vá oscilando entre o “escondidinho” e o “dramatismo controlado”, de acordo com as necessidades do momento. Até porque, à boa maneira do “chico-esperto”, estão criadas condições para surgirem novas oportunidades de negócio, apresentadas como “inevitáveis” ou “garantes da salvação”, logo, sem o empecilho do debate. Por exemplo, como já anteriormente se referiu, estão criadas condições para novo avanço dos interesses ligados à energia nuclear, assim como também o estão, para que se evitem grandes reflexões em torno de medidas que transfiram para a comunidade o ónus do caos. É o caso das restrições à circulação automóvel, sem qualquer investimento em alternativas, como é o da anunciada construção de três novas grandes barragens, a acrescentar aos projectos da EDP “de reforço da Bemposta e Picote e de construção do Baixo Sabor e do Foz Tua” (in, Público, 3/2/2007). É duvidoso que haja condições para pensar um pouco nas consequências de tais medidas que, para além de outros problemas, vão aumentar a retenção de areias, facilitando o avanço das águas do mar.

Tendo sido assunto que, até agora, pouco ocupou o conteúdo do debate político, as questões ambientais apanham a “opinião pública” desprevenida e, consequentemente, facilmente mobilizável por “vendedores de ilusões”. Se ainda não há muito tempo, a tendência era para olhar para as advertências dos cientistas, como uma simples questão de óculos escuros e protector solar, o inevitável aumento da divulgação de dados pode ter o efeito perverso de criar uma receptividade total (e incondicional!) para qualquer "patranha" que ostente o rótulo “verde”. A ausência de planeamento e de reflexão, foi uma das responsáveis pelo estado a que chegamos. A situação não se resolve, pelo simples facto de substituirmos a selvajaria com que se espalharam eucaliptos ao longo do território, por idêntica atitude na instalação de parques eólicos, privatização de recursos hídricos, ou “opções nucleares”. Não vale tudo, para que tudo fique na mesma. O que vale, é saber o que mudar (e como), porque é de mudança que precisamos.

1 comentário:

Anónimo disse...

A situação não se resolve, pelo simples facto de substituirmos a selvajaria com que se espalharam eucaliptos ao longo do território, por idêntica atitude na instalação de parques eólicos, privatização de recursos hídricos, ou “opções nucleares”.

Não esquecer algumas localizações da coincineração.