domingo, dezembro 10, 2006

Um pagode

Vouzela está um pagode. Não se trata de uma piada à proliferação de casas de comércio chinês, mas a constatação de um facto: é uma paródia pegada. Já teve um combóio a sério, mas não descansou enquanto não acabou com ele. Agora, tem um a brincar a que dá honras de “atracção turística”- ou, pelo menos, do que alguns chamam como tal. Já teve turismo, com um hotel e várias pensões. Agora, não tem um local de jeito para acolher quem nos visita, mas farta-se de discursar sobre a importância do Turismo para a economia local e, claro está, “sustentada”. Tem recursos hídricos impressionantes, mas já passou por faltas de água. Tem dois rios que despreza, enquanto se enternece com piscinas vulgares. Teve generosos favores da “Mãe Natureza”, mas prefere destruí-los para edificar obra de duvidoso gosto e largo orçamento. Tem a população a diminuir, mas não para de construir. De facto, só com muito sentido de humor. Negro.

Recentemente, na página da autarquia divulgava-se a iniciativa “Natal Ecológico”, da responsabilidade do Projecto “Anima Senior”. Pensei logo que vinha mesmo a calhar, até porque nada como a transmissão da experiência dos mais idosos, para equilibrar a tendência consumista das nossas crianças. Já assisti a iniciativas dessas e todos gostam: os idosos e as crianças que descobrem o prazer de inventar os próprios brinquedos, de os recriar, a partir de materiais simples. Tenho a certeza que qualquer uma daquelas pessoas do “Anima Senior”, teria muito que contar, muito para ensinar. Mas, afinal de contas, a ideia foi totalmente ao contrário: tratou-se de “sensibilizar os mais velhos (sic) para a importância de reciclar o lixo”. Como? Construindo presépios “utilizando materiais recicláveis, como por exemplo papel, embalagens, plástico, garrafas, entre outros”. Ou seja, aquelas pessoas que tiveram uma experiência real de reaproveitamento e reciclagem de materiais, foram “sensibilizadas” para fazerem um São José a partir de uma garrafa de "Coca-Cola" e uma Nossa Senhora de um iogurte “Yoplait”. Na verdade, foram “sensibilizadas” para reciclar um lixo que, em grande parte dos casos, nunca produziram.

Os organizadores garantem estar já “a pensar em novas actividades”. Tendo em conta o “público-alvo”, talvez possamos esperar que o “sensibilizem” para a importância da preservação dos ecossistemas, através da construção de aquários, ou para as boas práticas na gestão da floresta, com um curso sobre tratamento de “bonsais”. Não me digam que isto não é um pagode.

1 comentário:

Dom Afonso disse...

Fazer qq coisa, mesmo que não faça sentido é um sinal dos tempos. O q interesa é aparecer, trabalhar para a estatística. temos um país cheio disso.