quinta-feira, agosto 22, 2013

As Festas da Nª. Srª. do Castelo: a minha reflexão

Facto número um: as Festas do Castelo têm potencialidades várias.
Facto número dois: as potencialidades estão a ser desperdiçadas ano após ano, após ano, após ano... De diversas maneiras, em inúmeras ocasiões.
Facto número três: não são necessárias enormes estruturas, grandes obras e eventos megalómanos para impulsionar Vouzela. Será apenas necessário observar, olhar, reflectir sobre as potencialidades e perceber o que pode ser feito. Ao fim ao cabo, passa por fazer a chamada análise SWOT, que em português é a análise FOFA ou PFOA (potencialidades, fraquezas, oportunidades e ameaças).

Por agora penso nas potencialidades. Apenas uma ou duas, ou talvez mais. Que vi nestes dias a serem desperdiçadas. 

* * *

Potencialidades para o comércio e a restauração

Durante as Festas da Nª. Srª. do Castelo deste ano, em que estive especialmente atento, mais uma vez a vila encheu-se de vida. A mim, e acho que a qualquer Vouzelense, dá gosto ver este mar de gente a invadir a nossa terra.
Na última noite, era uma da manhã e a Rua Moraes Carvalho parecia qual rua do comércio de cidade agitada. E o movimento já existia em noites anteriores. Mas naquela última noite, depois do concorrido fogo de artifício, ao passar naquelas ruas vieram-me várias ideias à mente: "Que bom que seria que estas lojas e cafés tivessem alargado o seu período de abertura pela noite dentro". Como se faz em muitas terras durante períodos de festa. Que não fossem as lojas a estar abertas, mas os cafés - o Café Central lucraria em não fechar tão cedo, certamente.
Bem sabemos que muitos dos proprietários são pessoas com pouco vagar para grandes labutas noite dentro mas com certeza haverá quem consiga assegurar,  por estes dias, o negócio "fora de horas". 
A festa faz-se na alameda. Começa lá e termina lá. A vila não aproveita.

A Feira de Artesanato como potencial

A festa é paga. Valor simbólico, mas significativo, para qualquer um que não seja gastador. E os tempos são de poupar. Portanto, quem paga a entrada dificilmente se alarga na Feira de Artesanato. Como ouvi alguém exclamar "Gasto 2,50€ no bilhete já não vou gastar na feira...". Compreende-se! A Feira deveria estar "livre de bilhete". As pessoas deveriam poder usufruir da feira, das tasquinhas, das (poucas) diversões - era só o Touro Mecânico, não era?! Nem o vi..., sem terem de pagar obrigatoriamente os dois euros e meio. A organização optou por ouvir os "senhores das farturas" e colocou-os do lado de fora - pelo menos um, que eu visse. Mas os feirantes também se queixaram - "Havíamos de estar do lado de fora, para as pessoas poderem vir ver a feira sem pagar", disse um feirante.

As potencialidades do espaço

A festa lá decorreu. O concerto da cantora Aurea preencheu a Alameda. Público alvo: crianças, jovens, jovens adultos e a faixa etária dos 50/60. Cenário: plateia principal coberta de cadeiras. Tipo de música: essencialmente Pop. Portanto, os bancos não deveriam estar ali. Talvez o zelo pelos idosos, que deve ser sempre prioritário, seja desajustado em algumas situações - como num concerto com o target definido para um público essencialmente jovem e adulto. Em alturas desse espectáculo, estou em crer que as cadeiras estorvaram!
A Alameda é suficientemente grande para permitir um bom recinto para concertos. E um bom concerto faz-se com o calor do público. As cadeiras devem estar, mas em espectáculos de música que merece, e necessita, maior atenção e calma - como no concerto da fadista Ana Moura. Todo o espaço da Alameda, em frente ao palco, deveria estar preparado de acordo com a banda ou artista que actua. 

Outras potencialidades: desde o título das festas
 à romaria da Nª. Srª. do Castelo 

A divulgação das festas é feita. Mas quem olhou o cartaz nem percebeu exactamente os dias, nem os eventos. Faltava leitura. Mas isto é algo supérfluo. O importante, o "título" das Festas que apareceu em todos os cartazes e panfletos. É que não faz muito sentido - onde está o castelo? Há quantos anos existem estas festas? Não seria um elemento de marketing positivo enumerar a edição - Vi algures no Notícias de Vouzela, 98ª edição, que pelo número elevado, bem capaz seria de impressionar muita gente. E não será adulteração eliminar a "Nª. Sr.ª" da identificação das nossas festas? 
Sabendo que as festas são em honra da Nª. Sr.ª do Castelo, e que antigamente havia romaria no Monte com o mesmo nome, porque se quebrou tal tradição? Que sentido faz desligar a romaria das restantes festividades? Concerteza que aglutinando tudo, as festas ganhariam mais "alma". Até para as pessoas de fora, que não conhecem a nossa história, seria uma mais valia dar a conhecer o "santuário" e o Monte da N.ª Sr.ª do Castelo. Melhor para os turistas e para a nossa terra, que iria usufruir do lado mais tradicional e original das festas. Falta a estas festas o verdadeiro carácter, que se foi perdendo.

Se as Festas do Castelo não têm castelo e não há ligação à romaria da Nª. Srª. do Castelo, porquê manter este nome? Até porque, com designação parecida, há as Festas da Senhora do Castelo, em Mangualde (ver aqui). Onde certamente há romaria durante os dias de festividades e, provavelmente, até algum castelo por perto, ou vestígios.

6 comentários:

mjotamota disse...

Pedro, estive de férias nessa bonita região, por altura das festas.

Concordo em pleno,com a sua visão sobre as festas.

A questão do nome, é de facto bem pertinente...

A dos comerciantes, tenho a ideia que ou não sabem, ou não querem ganhar dinheiro, pois não aproveitam, não só os dias e noites das festas, bem como o fluxo de Campistas á vila durante todo o mês de Agosto.

A questão da cobrança é ridícula, eu percebo que há grandes custos para uma organização deste tipo, mas há que pensar noutro tipo de receita. Até porque reflecte-se imediatamente no consumo no interior da "feira".

Por falar em feira, gosto sempre de ver a pecuária.(lindas as vitelas de Lafões)

Quanto á Aurea, pessoalmente foi uma desilusão, mas isso...

Não assisti á Ana Moura, mas disseram-me que foi muito bom.

O bar dos bombeiros é sempre um ponto obrigatório.

O fogo de artificio, foi como sempre,bom. Num cenário daqueles...

Resta-me deixar aqui as felicitações a todos que de uma forma ou de outra se envolvem nesta organização, muitos por "carolice" mas com grande entrega á terra.
E o alerta aos habitantes e comerciantes,que têm de dinamizar mais Vouzela.

Pedro disse...

Obrigado pela comentário, mjotamota .

De facto Vouzela, desde as suas festas até à sua gastronomia, possui um manancial de potencialidades que estão desaproveitadas.

E estas Festas, que chamaram este ano 13 mil pessoas, continuam com o mesmo esquema/programa de há muitos e muitos anos. E não têm qualquer lado tradicional, nem conseguem "agarrar" o público para ficar mais um pouco ou para passar o dia em Vouzela.

Temos de fazer com que as coisas melhorem e mudem.

Zé Bonito disse...

Não é o nome que deve mudar, mas sim a programação das festas que começaram por ter uma componente religiosa muito maior (em honra de Nª. Sra. do Castelo)e que, por vários motivos compreensíveis mas pouco admissíveis, abandonou o Monte do Castelo e a tradição comunitária.
O castelo existe, tem parte da muralha visível, assim como outros vestígios, embora não se siba se era mesmo... um castelo. Mas, onde está o castelo branco de Castelo Branco? Bom texto, Pedro.

Miguel disse...

Perdoem-me o reparo. A referência no texto deve ser à análise SWOT (e não SWAT como se escreve, certamente por lapso). O acrónimo é formado pelas palavras inglesas strenghts, weakenesses, opportunities, threats.

Zé Bonito disse...

Miguel:
Obrigado pelo reparo. "Special Weapons And Tactics" não é connosco :)

Pedro disse...

Miguel:
Obrigado pela chamada de atenção.
De facto foi um completo lapso.
Definitivamente, e como diz o Zé Bonito, SWAT não é connosco!