quarta-feira, maio 02, 2012

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Na última sessão da Assembleia Municipal, o presidente da Junta de Freguesia de Vouzela perguntou ao presidente da Câmara por que motivo recusou comentar publicamente o possível encerramento do tribunal. Como resposta, Telmo Antunes informou que só o faria "depois de reunir com a Ministra da Justiça". Ou muito nos enganamos, ou há alguma confusão na ordem das prioridades do presidente da Câmara de Vouzela.

Por muito que acreditemos na capacidade de resistência dos portugueses, temos que admitir que estamos a chegar a situações limite. O problema não está, apenas, nos sacrifícios que nos estão a exigir, mas sobretudo no facto de não se vislumbrar saída pelo caminho que a coisa segue e de cada vez mais passar a ideia de que a realidade em que vivem os nossos governantes, pouco ter em comum com a do simples cidadão.

Para os que vivem nestas paragens de belas paisagens e despovoamento acelerado, começa a ser difícil não acreditar que todos os deuses lhes viraram as costas. Falemos a sério. Sofreram com o desinvestimento na agricultura, com as dificuldades postas a várias produções locais, com a incapacidade para se definir uma estratégia para o turismo e, até, com a falta de chuva que agravou o preço da criação de gado e ameaçou a certificação da vitela de Lafões. Quanto a fundos, viram-nos, sobretudo, numas obras mal amanhadas e nuns quilómetros de alcatrão que sempre tiveram como sentido principal ir daqui para fora e acabaram a fazer parte da política de coleta desesperada em que vivemos. Como se não chegasse, enfrentam, agora, a ameaça do encerramento de serviços. Depois do forrobodó a que se assistiu com os da saúde, parece ter chegado a vez do tribunal e (diabo seja surdo, cego e mudo) das finanças. É obra! Para um concelho (região) que não tem parado de envelhecer e de perder população, dificilmente conseguiríamos imaginar um cenário mais desfavorável.

Perante isto, o mínimo que se exige das autoridades locais é que demonstrem ser solidárias com as dificuldades por que passam as nossas gentes e deem sinais que permitam ter esperança no futuro. Para isso, muito teria ajudado que tivessem tomado a iniciativa e através dum consenso entre os três concelhos da região, contrapusessem ao governo um plano de reorganização de serviços com mais fundamentos do que, apenas, cortar cegamente em (quase) tudo e mais alguma coisa. Ora, nada disso parece estar a ser feito. Assistimos a declarações disparatadas alimentando rivalidades sem sentido e a um silêncio ensurdecedor, quando muito a declarações tímidas, como se cada concelho preferisse "jogar" na sombra das influências e dos interesses.

É neste contexto que o presidente da Câmara de Vouzela vem dizer que só presta declarações sobre o eventual encerramento do tribunal, depois de falar com a ministra da Justiça. Pode ter todas as razões para falar com a senhora, mas, sem outras iniciativas conhecidas, fazer depender dessa conversa uma denúncia clara e dura da indiferença a que o interior está votado, alimenta a desgradável ideia de que "vai a despacho", ou, se quiserem, receber o manual de instruções para que não sejam postos em causa interesses partidários.

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