O pior que nos pode acontecer, é tudo continuar na mesma
Não temos o hábito de explorar temas de grande circulação e muito menos frequentar os becos do choradinho e da desculpa fácil. O que de melhor Vouzela tem, é excepcional e delicado- é só isso que nos interessa. Ao longo de quatro anos, os horizontes do "Pastel de Vouzela" foram sempre dominados pelos limites geográficos desta região, avançando hipóteses de diagnóstico das suas fragilidades, mas propondo soluções. No entanto, parece-nos fazer todo o sentido que, no primeiro texto que publicamos em 2011, lancemos um alerta: cuidado, muito cuidado, porque apesar dos sacrifícios que nos estão a ser exigidos, tudo pode continuar na mesma.
A política local tem optado por ser uma cópia medíocre das poses e encenações dos "atores" de dimensão nacional. Essa tem sido uma das nossas fragilidades. Recordemo-nos do modo como foi debatida a situação financeira da Câmara, sem que houvesse coragem para sair do domínio das insinuações e pôr as coisas em pratos limpos. Recordemo-nos da reação dos nossos locais poderes às alterações dos serviços de Saúde, completamente dominada por influências de bastidores e sem a mínima capacidade para definir uma estratégia regional comum. Recordemo-nos do número de vezes em que vimos sacudir a água do capote, passar a batata quente (para o governo, para a oposição, para o estado do tempo, para o tempo do Estado...) sem que uma simples ideia surgisse para, pelo menos... pôr em funcionamento a ETAR. Desculpas, meras desculpas! Quando procuramos grandes linhas de rumo, orientações estratégicas, nada mais encontramos do que promessas e tentativas de continuar a procurar velhas receitas fracassadas- tal e qual se "canta" nos grandes palcos nacionais.
A História nacional e local tem exemplos de sobra que mostram ser mais fácil os cidadãos serem abandonados à sua sorte, do que mudar alguma coisa no funcionamento da nossa economia e na organização do nosso território. A emigração, por exemplo, sempre foi uma "almofada" que amorteceu descontentamentos, atenuou reivindicações e financiou a manutenção de privilégios, permitindo que nada de fundamental fosse alterado. Ora, se nada de estruturante mudar, a região vai voltar a senti-la, perdendo o que resta da sua população activa, aquela que, a todos os níveis, pode tornar possível algo que se assemelhe a "futuro". Tendo em conta o despovoamento que temos sofrido e o envelhecimento da população, isso pode ser-nos fatal.
Por tudo isto, parece-nos um mau sinal que as "grandes medidas" pensadas na despedida do ano velho, tenham seguido a cábula do governo e se tenham limitado a formas de aumentar as receitas da Câmara: proposta de taxa sobre as caixas multibanco e Derrama. Não queremos, por agora, discutir qualquer delas (embora nos mereçam muitas reservas). Queremos, apenas, chamar a atenção para o facto de, tal como fazem as forças políticas dominantes, se estar a tentar arranjar dinheiro, a todo o custo, sem dar sinais de que algo vai mudar. Na nossa modesta opinião, não é por aí.
Continuar a procurar receitas nas mesmas fontes, só pode levar aos mesmos resultados. Pela parte que nos toca, já chega. É preciso começar a mostrar cara feia, exigir, desobedecer, incomodar, tomar a iniciativa, porque o pior que nos pode acontecer, é tudo continuar na mesma.
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