quinta-feira, outubro 07, 2010

A realidade, os desejos e o Ministério da Agricultura

Quino

Não sei se leram esta notícia sobre o progressivo abandono dos pastores transumantes alentejanos. Acreditem que vale a pena, mas apresentamos um resumo. Andava o "inigualável" Jaime Silva pelos corredores do Ministério da Agricultura, quando, em 2008, foi publicado um decreto que obriga os homens do pastoreio "a apresentarem um vasto conjunto de formulários, declarações e até mapas em escalas específicas", antes de mudarem os rebanhos de sítio. Para lhes "facilitarem" a vida, concentraram a entrega da papelada em Beja ou, em alternativa, através da Internet. Que diabo, toda a gente sabe que qualquer pastor anda com um portátil e um scanner debaixo do braço, ou, pelo menos, tem o "Magalhães" do puto. Pois os ingratos não aderiram, preferindo abandonar a actividade. A maldita realidade não se adaptou aos "superiores" desejos do governante...

Em Vouzela aconteceu o contrário. Recentemente, o Ministério da Agricultura decidiu encerrar os poucos serviços que por aqui mantinha (ver aqui). Ora, para nós, cidadãos comuns, tudo levaria a crer que, pelo contrário, na situação desesperada em que nos encontramos, com um abandono massivo da agricultura, justificava-se um investimento em técnicos no terreno (diria mesmo, técnicos todo o terreno), de modo a conter a deserção e ajudar os agricultores que ainda resistem. Errado! Somos mesmo simplórios... Onde fomos nós buscar a ideia de que o Ministério da Agricultura serve para promover e gerir a actividade? É claro que serve para gerir funcionários e orçamentos. Logo, se não há agricultura, também não há serviços. Realidade e desejos em perfeita harmonia. Que seria de nós sem tamanhas inteligências?!

Só agora, dois anos decorridos, é que os homens do Ministério da Agricultura reconheceram que o decreto sobre os pastores transumantes precisa ser alterado. Dois anos! Daqui a alguns, também há de aparecer um qualquer "visionário" a reconhecer que foi um disparate tudo quanto se fez na agricultura portuguesa. Resta saber se ainda haverá quem alguma coisa deseje, perante tão triste realidade.

2 comentários:

F. J. Branquinho de Almeida disse...

E, neste ritmo, daqui a alguns anos, o único serviço público da responsabilidade do Estado, em Vouzela, será a Repartição de Finanças....per cause....

Zé Bonito disse...

Sim. Nesse caso é duvidoso que se arrisquem a substituí-la, de todo, pela internet...