quarta-feira, junho 23, 2010

Relato do triste fim de João "Arrebenta", último enforcado em terras de Vouzela


Talvez não passe de uma daquelas histórias que se contavam às criancinhas na esperança de que se fizessem homens, ou talvez tenha sido mesmo assim- no berço do "Fausto português" , nem sempre é fácil traçar as fronteiras entre a realidade e a lenda. Mas aí fica o triste fim de João "Arrebenta", último condenado à morte pelo tribunal de Vouzela, a partir do que lemos nos registos de Lopes da Costa (Biblioteca Municipal de Vouzela).

A pena foi de morte por enforcamento, a ser aplicada no "campo da forca", localizado no Fontelo, a meio caminho entre Vouzela e Vilharigues. Tinham sido tantas as que o João fez que o povinho acorreu em peso para se certificar de que lhe aliviavam a carga. No meio da multidão, sua mãe, naturalmente chorosa, lamentava a sorte do filho. Ao vê-la, já com a corda ao pescoço e como última vontade, pediu para a chamarem. Aproximou-se a pobre mulher, vergada pela dor. João "Arrebenta" encarou-a e... cuspiu-lhe na cara. "Porque me fazes isto, meu filho?"- imagina-se a mulher a perguntar. "Porque não me castigaste quando fiz o primeiro roubo!"- terá sido a resposta.

As coisas tanto podem ter sido assim, como não. Mas a história vale a pena ser contada às criancinhas na esperança de que se façam homens. E aos pais delas, também.
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De acordo com os registos de Lopes da Costa, no "campo da forca" existia um cruzeiro, destruído em 1953 para se fazer um muro. Mais tarde, outro proprietário das terras mais sensível a estas coisas da memória, mandou edificar uma réplica. É essa que mostramos na imagem. Tanto quanto conseguimos saber, está ligeiramente afastada do local original.

3 comentários:

MR disse...

...a minha avó benzia-se sempre quando lá passava...

CP disse...

Que "história" fantástica.
Há datas?

Zé Bonito disse...

Para este episódio, não há datas. Mas, a ter acontecido, não deve ter andado longe do final da pena de morte em Portugal (1867, excepto para crimes militares).