sexta-feira, abril 02, 2010

A Natureza cumpre o seu ciclo. E nós?

Primavera(s)

As mimosas estão a florir, recordando-nos que a Primavera sucede sempre ao Inverno, por mais duro que ele tenha sido. As paisagens ainda há pouco despidas, que este ano foram por duas vezes cobertas de neve, apresentam, agora, um verde intenso, misturado com manchas de várias cores. Há um forte apelo à vida, à acção, enquanto nos mantemos passivos, aceitando, resignados, o preço a pagar por uma crise que não provocámos, aceitando os ditames de quem não faz a mínima ideia de como a ultrapassar. De facto, é perigoso afastarmo-nos dos ritmos da Natureza...

Confesso que sou um leitor/espectador atento de tudo o que opine sobre a situação económica. Já estou de tal maneira treinado que consigo ler ou ouvir o Prof. Medina Carreira e Vasco Pulido Valente no mesmo dia, sem que isso me desperte instintos suicidas. Mas também já deu para perceber que a corrente opinativa maioritária, de um modo geral afecta ao "bloco central", fundamenta tudo o que diz, a partir de dois pressupostos: 1º) somos uma cambada de gastadores mal habituados e apaparicados pelo "Estado providência"; 2º) a única forma de nos redimirmos e fugirmos das chamas do inferno é através da auto flagelação que é como quem diz, aceitando que nos agravem, ainda mais, as condições de vida.

Essa coisa do "Estado providência", é algo que só conhecemos dos livros. Por estas bandas, o mais próximo que tivemos foi uma significativa melhoria na cobertura dos serviços de saúde (que já viram melhores dias...) e um aumento de crianças na escola. Também houve um aumento dos apoios sociais, mas queixarem-se disso é o mesmo que não querer pagar os estragos, depois de abalroar o automóvel do parceiro. E o nosso "automóvel" foi abalroado, quando não permitiram a evolução das actividades económicas em que se baseava o nosso tecido produtivo. O resto foi crédito, um brutal endividamento das famílias feito com a conivência de um Estado muito pouco... providente. Alguns ganharam (bancos, empresas de construção civil, seguradoras...); muitos perderam. Precisamente aqueles que, agora, vão ser chamados a pagar.

A dívida que temos foi provocada pelos serviços que o Estado presta, ou pelo que consome? Basta conhecer alguns serviços da administração central e local, para não termos dúvidas sobre a resposta. Mas esses serviços foram criados por aqueles que nos vêm apresentar a factura, e nem se pode dizer que tenham, por eles, o argumento da eficiência e do exemplo- não é por alojarem tanta gente que as direcções regionais e as empresas públicas funcionam melhor; não consta que os sacrifícios exigidos sejam proporcionais ao que cada um ganhou com a confusão anterior...

Como costuma dizer um amigo nosso, a coisa mais parecida com uma actividade produtiva, conhecida pelos nossos governantes, é o "Farmville". Aí, é só campos de morangos (strawberry fields forever) e vacas cor-de-rosa, sem dietilamida do ácido lisérgico, mas com efeitos secundários igualmente garantidos. No mundo real a coisa complica-se. Há pragas de insectos, geadas fora de época, lagartas devoradoras e... cidadãos que dificilmente aceitam, por muito tempo, viver passivamente fechados na cerca, ao sabor da vontade de jogadores incompetentes.

A seguir ao Inverno vem sempre a Primavera- é esse o ritmo da Natureza. O único que interessa acompanhar.

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