sábado, dezembro 26, 2009

NATAL

Bom dia e boas festas.

Ouvi há pouco o Cardeal Patriarca de Lisboa queixar-se pelo facto das pessoas encararem o Natal como um acto mais social do que de fé. Que ele se queixe ainda é como o outro, mas que esteja surpreendido é que me admira.

Como ele disse e bem, vivemos num país de baptizados não por opção mas por tradição e também pelo social. É “bem” fazer-se e não importa a idade do iniciado, quanto mais cedo melhor antes que comece a fazer muitas perguntas. Nunca baptizei o meu filho pois sempre achei que ser ou não cristão era uma questão de opção que só ao próprio diria respeito. Mais tarde veio a fazê-lo não por fé mas para poder efectuar outro acto do social: o casamento católico. Nunca o vi ir à igreja antes ou depois do baptismo, excepto para baptizar as suas filhas por vontade da mãe e como pretexto para mais uma festarola. Penso que o Cardeal conhece estas situações tanto quanto eu pelo que me admira o seu espanto.

Quanto ao Natal sempre foi uma festa da família e não me lembro de alguma vez ter sido feita qualquer reflexão sobre o nascimento de Jesus Cristo (JC). Come-se, abrem-se os presentes e convivesse mais do que habitualmente com os familiares próximos e afastados ou de quem não gostamos e a quem não falamos durante o ano inteiro, mas que naquele momento temos de gramar ansiando para que se vão embora o mais cedo possível. Nos últimos tempos o Natal estendeu-se à rua e aí vai a caridadezinha para os sem abrigo, como se existissem apenas entre 24 e 26 de Dezembro (salvo raras excepções de organizações com obra feita e que os acompanham durante todo o ano).

A Igreja que me perdoe, mas no Natal está muito mais presente o Pai do dito do que o menino Jesus.

O próprio nascimento de Jesus nunca foi bem explicado e com o avançar dos tempos ninguém aceita a história da obra e graça do Espírito Santo. Seria muito difícil à igreja vir agora dizer que JC era filho de Maria e de José, mas seria sem dúvida um acto de coragem e possivelmente viria a trazer muito mais adeptos para a causa, pois toda a gente sabe que Maria teve mais filhos de José pelo que não faz sentido continuar a chamá-la virgem. E isto não é de agora e nada tem a ver com o Saramago ou o Brown pois já Pessoa o questionava. Lembro-me de uma passagem do “Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro em que diz:

“… Nem sequer o deixavam ter pai e mãe/como as outras crianças./Oseu pai eram duas pessoas-/Um velho chamado José, que era carpinteiro/E que não era pai dele;/E o outro pai uma pomba estúpida,/ A única pomba feia do mundo/porque não era do mundo nem era pomba./E a sua mãe não tinha amado antes de o ter…”

Pelo que acabo de expor penso que está na hora da igreja transmitir aos seus seguidores a frase não católica de que “o Natal é quando um homem quiser”, ou seja há que fazer o bem em qualquer altura e sempre que seja necessário e não com data marcada. Poderiam entãofazer do Natal uma festa de homenagem a JC e libertando as pessoas da obrigação de gastarem dinheiro em prendas, de se empanturrarem de doces e de gramar os familiares com quem não falam desde o Natal passado.

Claro que o comércio iria perder mas para compensar criavam-se mais uns quantos dias disto ou daquilo onde se dariam presentes e a igreja podia pensar em cerimónias alternativas ao baptizado e ao casamento, como por exemplo a bênção dos primeiros cartões de sócios dos clubes de futebol e o divórcio litúrgico em que a cerimónia seria em tudo semelhante ao casamento mas com as perguntas ao contrário.

E agora com o casamento entre pessoas do mesmo sexo trabalho não iria faltar.

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