Pequenos passos para uma grande caminhada
Há uns tempos atrás, discutiu-se muito a decisão da Câmara de atribuir o fornecimento das refeições escolares a uma empresa de "catering". Uns duvidaram da qualidade do produto, outros contrapuseram os valores da poupança. Como não aumentaram as dores de barriga dos petizes e o custo da paparoca baixou substancialmente, a coisa ficou por aí. É pena.
Defendemos desde há muito que as autarquias locais, sem interferirem directamente na actividade económica, podem dar sinais, criar condições, para que ela se oriente em determinadas direcções. Facilitar licenciamentos, conceder benefícios fiscais, ou criar regulamentos que disciplinem e motivem a iniciativa privada a percorrer os caminhos pretendidos, não custa um cêntimo e é eficaz (e não vale a pena "ensinar o Padre Nosso ao vigário", porque elas fartaram-se de fazer isso em benefício da economia do betão). Salvo melhor opinião, foi essa oportunidade que se perdeu com o novo fornecimento de refeições às escolas.
Durante muitos anos, a agricultura teve um peso excessivo na ocupação da mão-de-obra da região. De repente (muito de repente) a actividade quase desapareceu, atirando um número significativo de famílias para a emigração ou para a dependência de subsídios sociais. As justificações sucederam-se, normalmente viradas para a baixa produtividade e nula competitividade do minifúndio. Só que, a pouco e pouco, foi-se tornando claro o papel social e ambiental do sector, sendo evidente que aceitar a morte da agricultura, significava aceitar igual destino para o nosso principal trunfo: a paisagem.
Hoje, com a riqueza da oferta global a permitir-nos privilegiar a qualidade à quantidade, olhamos para todos os lados e não encontramos juventude interessada em apostar no sector e acrescentar-lhe valor. Isto, enquanto derramamos lágrimas de crocodilo pelo desaparecimento de alguns produtos e pela falta de frescura dos que nos guarnecem o prato. Mas, este tinha que ser o fim de um percurso em que admitimos a completa desvalorização social da agricultura.
Ora, o fornecimento das cantinas escolares podia ter sido uma ajuda para começar a inverter o actual estado das coisas. Bastava que, nos concursos para o abastecimento, se privilegiassem produtos de uma determinada distância, quer dizer, que fossem produzidos relativamente próximos do local de consumo (para além de todas as outras exigências, pois claro)- não conhecemos legislação que o proíba. É pouco? Claro que sim. Mas é a tal história da grande caminhada começar, sempre, por um simples passo.
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