Apontamentos sobre as Autárquicas
Agora que já correram as cortinas sobre as Autárquicas, período em que, por momentos, o país foi recordando (vagamente) que existe um Interior, quase apetece dizer que terminaram os nossos quinze dias de fama. Adeus, 60% que vive do lado direito da A1 (para quem desce). Até daqui a quatro anos...
Mas, à laia de conversa doméstica, talvez valha a pena passar os olhos pelos números das nossas decisões (nossas mesmo) e registar três ou quatro apontamentos. Não é que tenham surgido cenários de grande interesse, ou sejamos possuidores de conclusões surpreendentes. Nada disso. Apenas damos o que temos e quem assim faz, a mais não é obrigado.
De todas as interpretações que os resultados permitem, há uma que nos agrada particularmente: os vouzelenses atribuiram grande importância a este acto eleitoral, respondendo massivamente (já o tinham feito há quatro anos). A abstenção limitou-se aos 29,45%, muito abaixo da média nacional (40,9%) e da verificada no distrito de Viseu (37,62%). Se tivermos em conta os números de outras eleições, quer das Legislativas, quer, sobretudo, das Europeias, é impossível desvalorizar este dado. Como também é impossível não lamentar que as campanhas aproveitem tão mal esta impressionante mobilização, para esclarecer os eleitores sobre o que realmente pretendem fazer (se calhar, têm medo que alguém se lembre do que dizem...).
O resultado conseguido pelo PSD (51,16%, a partir de 3821 votos) foi o terceiro melhor de sempre, atrás dos de 2005 e de 1979. No entanto, representou a perda de 381 votos em relação ao conseguido nas anteriores eleições autárquicas, quando conquistou o apoio de 4202 eleitores. Aliás, de todas as listas concorrentes à vereação, a do PSD foi a única que perdeu votos, o que não surpreende se tivermos em conta o desgaste provocado pelas peripécias dos últimos quatro anos de governação. Mesmo assim, manteve o controlo absoluto quer na vereação, quer na Assembleia Municipal, o que lhe dá ampla margem de manobra, mas... não lhe permite desculpas.
Quanto ao Partido Socialista, parece ter iniciado a recuperação da situação difícil a que se viu remetido desde que, há oito anos, perdeu a chefia da Câmara. Os seus 3031 votos, não só representam um aumento em relação ao conseguido em 2005 (2206), como ultrapassam a soma dos então conseguidos por si e pelos independentes "Por Vouzela" que, agora, concorreram integrados nas suas listas. Com 3 vereadores eleitos, mais 8 deputados municipais, mais 5 presidentes de junta, o PS parece reunir todas as condições para construir uma alternativa. Dos actuais resultados já deve ter concluído que vagas insinuações sobre a dívida da Cãmara não levam a lado algum- ou há "fogo", ou não há. Contentar-se com o "fumo", só contribui para turvar a vista...
Dos resultados obtidos pelas restantes listas concorrentes à vereação (CDS-PP e PCP-PEV), parece-nos ser de realçar o facto de todos terem aumentado o número de votos conseguido, comparativamente com as eleições de 2005. Isto é tanto mais significativo, quanto ambos se podem queixar de alguma dinâmica de "voto útil", já que os vouzelenses concentraram nos dois principais partidos as suas escolhas para a Câmara, fazendo uma votação mais "sincera" para a Assembleia Municipal. Tenha-se em conta que PS e PSD tiveram votações mais modestas para este último orgão, enquanto os restantes partidos as viram reforçadas (no caso do CDS, com uma diferença significativa de 284 para 377 votos). Mas, isto também pode querer dizer que os cidadãos compreendem bem as limitações da Assembleia e onde está o verdadeiro poder de decisão das autarquias locais.
A Assembleia Municipal vai passar a ser constituída pelos 11 deputados do PSD (conseguiu 12 em 2005), pelos 9 do PS (8 em 2005), pelo deputado do CDS-PP (nenhum em 2005), por 6 presidentes de juntas ganhas pelo PSD e por 5 de juntas do PS (ainda não é possível saber que partido vai ficar com a presidência de junta que falta, já que houve empate em Carvalhal de Vermilhas). Há, pois, uma evidente bipolarização, sendo pouco provável que, a médio prazo, surja uma alternativa capaz de fazer frente aos dois maiores grupos partidários.
Contudo, o peso de uma ou outra personalidade local pode alterar um pouco as regras deste jogo, como nos parece ser de concluir da votação conseguida pelo Bloco de Esquerda: sem tradição nas refregas locais e com parte dos nomes que lhe são próximos integrados nas listas do Partido Socialista, o BE conseguiu, mesmo assim, 203 votos para a Assembleia (única candidatura que apresentou). Independentemente de poder haver já um núcleo fiel que apoia esse partido em todas as circunstâncias, o prestígio local do cabeça de lista talvez explique algo sobre os resultados conseguidos (o mesmo se passando com a candidatura do PSD e da CDU à Assembleia de Freguesia de Vouzela). Vale a pena reflectir sobre isto, porque pode dar uma ideia da viabilidade de futuras listas de cidadãos com capacidade para romperem com o fatalismo das "ementas" partidárias.
Mas, à laia de conversa doméstica, talvez valha a pena passar os olhos pelos números das nossas decisões (nossas mesmo) e registar três ou quatro apontamentos. Não é que tenham surgido cenários de grande interesse, ou sejamos possuidores de conclusões surpreendentes. Nada disso. Apenas damos o que temos e quem assim faz, a mais não é obrigado.
De todas as interpretações que os resultados permitem, há uma que nos agrada particularmente: os vouzelenses atribuiram grande importância a este acto eleitoral, respondendo massivamente (já o tinham feito há quatro anos). A abstenção limitou-se aos 29,45%, muito abaixo da média nacional (40,9%) e da verificada no distrito de Viseu (37,62%). Se tivermos em conta os números de outras eleições, quer das Legislativas, quer, sobretudo, das Europeias, é impossível desvalorizar este dado. Como também é impossível não lamentar que as campanhas aproveitem tão mal esta impressionante mobilização, para esclarecer os eleitores sobre o que realmente pretendem fazer (se calhar, têm medo que alguém se lembre do que dizem...).
O resultado conseguido pelo PSD (51,16%, a partir de 3821 votos) foi o terceiro melhor de sempre, atrás dos de 2005 e de 1979. No entanto, representou a perda de 381 votos em relação ao conseguido nas anteriores eleições autárquicas, quando conquistou o apoio de 4202 eleitores. Aliás, de todas as listas concorrentes à vereação, a do PSD foi a única que perdeu votos, o que não surpreende se tivermos em conta o desgaste provocado pelas peripécias dos últimos quatro anos de governação. Mesmo assim, manteve o controlo absoluto quer na vereação, quer na Assembleia Municipal, o que lhe dá ampla margem de manobra, mas... não lhe permite desculpas.
Quanto ao Partido Socialista, parece ter iniciado a recuperação da situação difícil a que se viu remetido desde que, há oito anos, perdeu a chefia da Câmara. Os seus 3031 votos, não só representam um aumento em relação ao conseguido em 2005 (2206), como ultrapassam a soma dos então conseguidos por si e pelos independentes "Por Vouzela" que, agora, concorreram integrados nas suas listas. Com 3 vereadores eleitos, mais 8 deputados municipais, mais 5 presidentes de junta, o PS parece reunir todas as condições para construir uma alternativa. Dos actuais resultados já deve ter concluído que vagas insinuações sobre a dívida da Cãmara não levam a lado algum- ou há "fogo", ou não há. Contentar-se com o "fumo", só contribui para turvar a vista...
Dos resultados obtidos pelas restantes listas concorrentes à vereação (CDS-PP e PCP-PEV), parece-nos ser de realçar o facto de todos terem aumentado o número de votos conseguido, comparativamente com as eleições de 2005. Isto é tanto mais significativo, quanto ambos se podem queixar de alguma dinâmica de "voto útil", já que os vouzelenses concentraram nos dois principais partidos as suas escolhas para a Câmara, fazendo uma votação mais "sincera" para a Assembleia Municipal. Tenha-se em conta que PS e PSD tiveram votações mais modestas para este último orgão, enquanto os restantes partidos as viram reforçadas (no caso do CDS, com uma diferença significativa de 284 para 377 votos). Mas, isto também pode querer dizer que os cidadãos compreendem bem as limitações da Assembleia e onde está o verdadeiro poder de decisão das autarquias locais.
A Assembleia Municipal vai passar a ser constituída pelos 11 deputados do PSD (conseguiu 12 em 2005), pelos 9 do PS (8 em 2005), pelo deputado do CDS-PP (nenhum em 2005), por 6 presidentes de juntas ganhas pelo PSD e por 5 de juntas do PS (ainda não é possível saber que partido vai ficar com a presidência de junta que falta, já que houve empate em Carvalhal de Vermilhas). Há, pois, uma evidente bipolarização, sendo pouco provável que, a médio prazo, surja uma alternativa capaz de fazer frente aos dois maiores grupos partidários.
Contudo, o peso de uma ou outra personalidade local pode alterar um pouco as regras deste jogo, como nos parece ser de concluir da votação conseguida pelo Bloco de Esquerda: sem tradição nas refregas locais e com parte dos nomes que lhe são próximos integrados nas listas do Partido Socialista, o BE conseguiu, mesmo assim, 203 votos para a Assembleia (única candidatura que apresentou). Independentemente de poder haver já um núcleo fiel que apoia esse partido em todas as circunstâncias, o prestígio local do cabeça de lista talvez explique algo sobre os resultados conseguidos (o mesmo se passando com a candidatura do PSD e da CDU à Assembleia de Freguesia de Vouzela). Vale a pena reflectir sobre isto, porque pode dar uma ideia da viabilidade de futuras listas de cidadãos com capacidade para romperem com o fatalismo das "ementas" partidárias.
2 comentários:
São 3 vereadores do PS e não 2...São 6 freguesias do PSD e não 7!Pelo menos para já...
Raquel:
Obrigado pela chamada de atenção- as correcções já estão feitas. Nas freguesias, o empate de Carvalhal de Vermilhas enganou-nos. De qualquer modo, a relação de forças na Assembleia não se altera.
Enviar um comentário