A ver vamos
"O que arreta o frio, arreta o calor". Assim era a capucha, traje unisexo para miúdos e graúdos, protegia o serrano do frio cortante do Inverno e do calor tórrido do Verão. O segredo estava no modo como era tecida a lã, de forma compacta-não passava nada.
A imagem da capuchinha com suas ovelhas, remete-nos, talvez, para uma Vouzela lá dos confins da memória, do tempo em que era mais fácil encontrar um lobo do que um automóvel a cortar-nos o caminho. Um tempo de trabalho sem idade e sem horário, de luta constante "contra" os ditames de uma natureza que ainda não tinha adquirido estatuto nem letra maiúscula. Talvez algures pelos finais do século XIX ou princípios do século XX... Falso! Esta imagem tem pouco mais de quarenta anos e isso diz tudo sobre o desenvolvimento que (não) tivemos- a História dos povos tem que ser assumida mesmo quando dói e essa ideia dos ranchos de homens e mulheres cantando e bailando no fim da jorna, foi uma criação do António Ferro para adoçar o Portugal de Salazar.
Agora, quando terminar a campanha para as Legislativas e saírem de cena as "altas velocidades", escutas telefónicas, e "linhas da frente", é tempo de falarmos dos problemas do cidadão real. É tempo de assumirmos, com orgulho, a riqueza imensa que nos foi deixada por esses homens e mulheres de capucha e mãos calejadas, mas tendo presente que, como dizia um grande amigo já desaparecido, "não queremos ser uma reserva de índios". É sobre este equilíbrio entre o respeito pela tradição e a modernidade; sobre a utilização das riquezas naturais como pilares de uma estratégia de desenvolvimento, que queremos ouvir os candidatos à Autarquia. Há unhas para tocar tão delicada guitarra? A ver vamos.
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A menina da foto, talvez seja, hoje, uma mãe de família ou, até, avó. Talvez ainda use capucha e tenha um rebanho. Nestas alturas, convive com a indiferença de quem não a inclui nas "grandes preocupações nacionais", embora lhe deixe um ou outro avental, isqueiros e esferográficas. Provavelmente, até lhe deixam uma fotografia do líder das suas simpatias que coloca ao lado do crucifixo, por cima da mesa de refeições- é a história do "junta-te aos bons...". O que muito provavelmente esta senhora não tem, é alguém mais jovem para a ajudar a tomar conta das ovelhas e não é preocupação com o trabalho infantil. É porque, muito provavelmente, viu os filhos saírem porta fora para um qualquer grande centro, fugindo da miséria a que sempre associaram a vida da mãe- ninguém lhes explicou que não tinha que ser assim. Por lá constituíram família e mostram, hoje, à descendência, a fotografia pitoresca da avó, de capucha vestida, que já os mais novos se vão habituando a associar a pobreza, alimentando o mito e o vício do círculo. Esta gente existe e merece respostas que, até agora, foram sempre ignoradas. Também pelos autarcas.
A imagem da capuchinha com suas ovelhas, remete-nos, talvez, para uma Vouzela lá dos confins da memória, do tempo em que era mais fácil encontrar um lobo do que um automóvel a cortar-nos o caminho. Um tempo de trabalho sem idade e sem horário, de luta constante "contra" os ditames de uma natureza que ainda não tinha adquirido estatuto nem letra maiúscula. Talvez algures pelos finais do século XIX ou princípios do século XX... Falso! Esta imagem tem pouco mais de quarenta anos e isso diz tudo sobre o desenvolvimento que (não) tivemos- a História dos povos tem que ser assumida mesmo quando dói e essa ideia dos ranchos de homens e mulheres cantando e bailando no fim da jorna, foi uma criação do António Ferro para adoçar o Portugal de Salazar.
Agora, quando terminar a campanha para as Legislativas e saírem de cena as "altas velocidades", escutas telefónicas, e "linhas da frente", é tempo de falarmos dos problemas do cidadão real. É tempo de assumirmos, com orgulho, a riqueza imensa que nos foi deixada por esses homens e mulheres de capucha e mãos calejadas, mas tendo presente que, como dizia um grande amigo já desaparecido, "não queremos ser uma reserva de índios". É sobre este equilíbrio entre o respeito pela tradição e a modernidade; sobre a utilização das riquezas naturais como pilares de uma estratégia de desenvolvimento, que queremos ouvir os candidatos à Autarquia. Há unhas para tocar tão delicada guitarra? A ver vamos.
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A menina da foto, talvez seja, hoje, uma mãe de família ou, até, avó. Talvez ainda use capucha e tenha um rebanho. Nestas alturas, convive com a indiferença de quem não a inclui nas "grandes preocupações nacionais", embora lhe deixe um ou outro avental, isqueiros e esferográficas. Provavelmente, até lhe deixam uma fotografia do líder das suas simpatias que coloca ao lado do crucifixo, por cima da mesa de refeições- é a história do "junta-te aos bons...". O que muito provavelmente esta senhora não tem, é alguém mais jovem para a ajudar a tomar conta das ovelhas e não é preocupação com o trabalho infantil. É porque, muito provavelmente, viu os filhos saírem porta fora para um qualquer grande centro, fugindo da miséria a que sempre associaram a vida da mãe- ninguém lhes explicou que não tinha que ser assim. Por lá constituíram família e mostram, hoje, à descendência, a fotografia pitoresca da avó, de capucha vestida, que já os mais novos se vão habituando a associar a pobreza, alimentando o mito e o vício do círculo. Esta gente existe e merece respostas que, até agora, foram sempre ignoradas. Também pelos autarcas.
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