Duas reflexões
Primeira reflexão: Os portugueses não merecem ganhar o euromilhões.
Na passada semana quando havia um "jackpot" de cem milhões de euros vi uma reportagem de rua de um canal de televisão onde perguntavam, como sempre acontece quando estão em jogo montantes avultados, "o que faria se ganhasse o euromilhões". As respostas são de arrancar blasfémias a um cristão: - comprava uma terrinha para semear umas batatinhas e plantar umas couves; - comprava uma casita e ia conhecer a Madeira; - ia outra vez de férias para a Republica Dominicana.
Um homem acerta no euromilhões e vai semear batatas e plantar couves, compra uma casita, vai à Madeira e alarga as férias na Republica Dominicana. Ninguém pensa em passar a comer em restaurante, ir fazer uma viagem de volta ao mundo ou entrar definitivamente de férias. Não! Português é pobre até a sonhar, é uma questão de cultura mas sobretudo de falta dela porque o pobre que comprava a terrinha para a trabalhar deve ter vivido sempre com dificuldade para alimentar a sua família, o menos pobre está farto de pagar renda e acredita que a Madeira é mesmo um jardim, e o estúpido que, sabe-se lá com que dificuldade conseguiu ir à R.D, entende que aquilo é o fim do mundo.
Todo este quadro deveria dar que pensar pois seria demonstrativo do atraso económico-cultural de um povo sem futuro nem ambição, controlado por um bando de políticos que antes de o serem, também seriam capazes de dar as mesmas respostas, pois o pouco que sabem e conhecem só aconteceu depois de estarem na "profissão".
Mas não há necessidade de pensar ou estudar muito este assunto porque, conhecendo o povo como eu conheço posso concluir que eles são mentirosos, ou seja, o velho da terrinha pensou num grande jardim, com canteiros repletos de flores exóticas, árvores frondosas a oferecerem generosamente os seus coloridos e perfumados frutos , campo de golfe, court de ténis, lago artificial e belas mulheres em roupas reduzidas a trazerem-lhe as bebidas geladas. O da casinha e da ida à Madeira, pensou numa grande moradia na Quinta da Marinha e numa viagem à Madeira sim, mas a bordo do seu iate de 30 m com uma tripulação feminina escolhida entre as concorrentes a miss universo e o que voltava para a Republica Dominicana pensou numa ilha paradisíaca cheia de beldades que o iriam receber e tratar como um rei quando chegasse a bordo do seu jacto privado.
Porque disseram uma coisa e pensaram outra? A resposta é simples: porque têm medo de perder o rendimento de inserção, a reforma ou salário mínimo, pois como bons portugueses, nunca se sabe o que o futuro nos reserva, e além disso as parceiras não iriam achar graça à presença das beldades que como viram estão sempre presentes. E o fisco? Quem é que não pensa logo no que poderia acontecer quando soubessem que tinham ganho tanto dinheiro. Ná! o melhor mesmo é ir semear batatas, comprar uma casita, ir à Madeira ou à Republica Dominicana, continuar a ver as gajas na internet e por o dinheiro debaixo do colchão.
Segunda reflexão: a gripe "A" , as eleições e a comunicação social
Muito se tem lido e dito sobre esta gripe e especulado ainda mais. Os boatos são mais que muitos e bem conhecidos pelo que nem os menciono. A minha reflexão tem a ver com a comunicação social. O jornal da noite da SIC abre com a noticia da "segunda morte em Portugal devido à gripe A". No decorrer do jornal um outro profissional daquela estação diz que "este é o primeiro caso de morte devido à gripe A". Em que é que ficamos? É o primeiro ou o segundo? E o que é que isso importa? E cada vez que morrer alguém com esta gripe a ministra faz um comunicado e apresenta condolências à família?
E os médicos vêm esclarecer a opinião pública sobre o tratamento e a medicação que ministraram? E os que morrem de outra qualquer doença, não terão os mesmos direitos? Porque não criar um canal de televisão para os comunicados, condolências e terapias? Talvez assim a paupérrima comunicação social tivesse de procurar outro tipo de notícias de certo com mais interesse para a comunidade.
Mas como tal não irá acontecer, teremos de ficar a gramar os telejornais com mais de uma hora e a ver as habituais desgraças servidas em bandeja dourada, do marido que matou a mulher por ciúmes, ou do carro que caiu na ravina . Notícias a sério não existem porque os "jornalistas" não as procuram ou se as encontram sabe-se lá porque razões não as publicam/emitem. Então eles não sabem o que todos nós de uma forma geral sabemos? Então porque não investigam? Porque dá trabalho e ganham mal? Ou porque vão mexer com gente graúda que lhes prega com uma acção em tribunal, para a defesa da qual não têm dinheiro? Ou porque em alguns dos casos estão envolvidas empresas/empresários que são a grande fonte de receita publicitária do seu "emprego"? Assim continuamos a ver/ouvir/ler as noticias que a Lusa, agência do estado e dependente do governo que estiver em funções, distribua com base em critérios pouco transparentes.
Esta falta de assuntos é compensada nos períodos eleitorais, com o acompanhamento dos candidatos mais importantes, os frente-a-frente, os comentários, as sondagens, as opiniões etc.. Este ano, tal é a falta de assunto e a necessidade de dizer qualquer coisa que foram ao pormenor de (não lembrava ao diabo) contarem os quilómetros que os candidatos percorreram e os quilos de CO que as respectivas caravanas emitiram. Estou a ver os ecologistas a irem votar no partido que emitiu menos CO ou os adeptos do automobilismo no que fez mais quilómetros. Francamente! À pobreza da campanha junta-se a pobreza da informação. E já anunciam que após o encerramento das urnas vão avançar com as projecções, os comentários, as entrevistas e pasme-se, acompanhar o vencedor com meios nunca vistos, motos, helicóptero eu sei lá o quê. A importância que a comunicação social dá aos políticos é impressionante e penso que única no mundo civilizado, e ajuda a transformar os políticos manhosos que por aí proliferam em estrelas que eles sabem não ser, mas que chegam a pensar que são.
Todos nós sabemos que Portugal é dos países mais atrasados da Europa, e a comunicação social tem dado uma ajuda preciosa para isso. Já era tempo de os telejornais terem 30 minutos de duração e darem as notícias que o são na realidade e que deverão ser do conhecimento geral. As desgraças guardem-nas para os programas da manhã e da tarde que é para isso que pagam à Fátima Lopes, à Júlia Pinheiro e ao Goucha . E quando forem questão mais científicas façam programas sobre o tema em questão. Assim evito de ver operações de barriga aberta quando estou a jantar.
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