É tarde para sermos pessimistas
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Já era esperado. Perante o alastrar da crise económica, os problemas ambientais têm passado para segundo plano, numa tentativa de nos levarem a acreditar que, agora, temos que arrumar outra secção: a economia. A ideia tem sido agitada em manifestos e declarações, como a famosa tirada de Belmiro de Azevedo: "No momento actual é preferível ter um mau emprego a não ter emprego algum". Parece consensual. No entanto, esconde as regras do funcionamento de um jogo viciado, em que poucos decidem quem tem emprego, que tipos de emprego e durante quanto tempo nos devemos contentar com maus empregos. Aproveita-se o desespero do cidadão para evitar que ele pense se vale a pena reparar uma "máquina" que nos empurrou para a situação em que estamos, ou se a solução está antes em construir outra "máquina".
Os problemas do esgotamento dos recursos e da degradação ambiental, têm tudo que ver com a situação que vivemos. O modelo de crescimento que até agora conhecemos, não só os ignorou, como os agravou. Ao mesmo tempo que punha à nossa disposição as mil e uma cangalhadas que enchem as prateleiras de um qualquer supermercado, mostrava-se incapaz de assegurar algumas questões vitais, como a qualidade e a quantidade de água. Como escreveu o prémio Nobel da Economia, Paul Kruger, negar, hoje, as consequências das alterações climáticas, deve ser considerado um acto de traição. Porque a solução não pode estar em optar pela criação do emprego ou pela poupança; pelo crescimento ou pela defesa do ambiente. Todos os problemas estão interligados e não se percebe como se possa resolver um deles, sem os resolver todos.
Nunca fomos adeptos da perspectiva voluntarista da resolução dos problemas ambientais que acredita que a salvação do mundo está na roda pedaleira, nem da lamechas que recorre à facilidade da lágrima para substituir o conhecimento. Por isso, é a primeira vez que propomos um documentário sobre o assunto: "Home-O Mundo é a nossa casa", produzido por Yann Arthus-Bertrand. Escolha o seu melhor sofá, convide a miudagem, faça-se acompanhar de um copo de água fresca (provavelmente engarrafada, por causa das coisas...) e faça o favor de se indignar. "É tarde de mais para sermos pessimistas".
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