segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Igreja Matriz

Na sequência do postal anteriormente apresentado pelo Luís Filipe, fica aqui um raro postal da Igreja Matriz, onde são bem visíveis as palmeiras que já ornamentaram o seu jardim.

1920's

Edição de Dias & Irmão
(Made in France)

2007


5 comentários:

a.rodrigues disse...

Infelizmente, começam a ser demasiadas as vezes em que os "serviços nacionais especializados" cometem mais erros do que outros com menos responsabilidades, meios e conhecimentos nas matérias em causa. Veja-se, p.e., o que fez o Instituto Português do Património Edificado (IPPAR), na Igreja Matriz de Vouzela.

1)
Vouzela é uma Vila, linda, aconchegada em fraldas d'entre Serras (as do Caramulo e da Gralheira), ali, nas bordas dos Rios (Vouga e Zela) e (agora) também, da Auto-estrada (a A25). Vouzela é hoje um lugar onde apetece não só estar, mas, sobretudo, ficar: "ficar bem, aprendendo entre coisas com história, no meio de gentes com memória".

Memória de como era o sítio; a floresta, os matos e os campos com vinhas, hortas e gado; os caminhos, ruas e largos; as casas: as dos senhores, mas também as dos outros, que era onde viviam quase todos. Memória dos lugares: das pessoas e de onde estas se juntavam p'ra namorar ou se apartavam p'ra jogar. Memória da terra e da pedra; mais desta que abunda, que da outra que muito cansa ir fazendo. Memória, finalmente, de como era a Igreja Matriz e de como o assim ser lhe dava singularidade, grandeza e encanto.

De um modo geral, todos têm sabido cuidar de tais "memórias" e, por isso, chegaram até nós: os caminhos do rio; os solares e as casas senhoriais; a(s) ponte(s); as aldeias, os saberes e os sabores: a vitela e os pastéis, p.e. E chegaram melhorados, limpos, modernos e úteis, emoldurados em verdes viçosos e vivos pelo uso das gentes.
Assim não é, infelizmente, com a Igreja Matriz: o IPPAR adoçou-lhe o adro, reconfigurou-lhe o acesso, secou-lhe a pedra e, com tudo isso... diminuiu-a, meus caros.

2)
A maioria dos processos de requalificação de espaços públicos traduz-se na sua "abstractização" e na do seu uso. O "desenho" – quando existe –, é esquemático, minimalista e óbvio; os materiais são frios; os acabamentos secos e os cromatismos neutros; as soluções, essas são – recorrentemente –, caras e servem mal, muito mal, ou não servem de todo, o seu uso pelas pessoas.

A Igreja Matriz de Vouzela é uma construção dos séculos XII / XIII; romano-gótica – linda, meus caros. É uma construção em granito e cobertura em telha. Nas empenas o pétreo é pouco trabalhado; os vãos são, muito poucos, pouco largos mas altos, rematados por ogivas ainda curtas. Uma empena frontal solta, encimada pelo negativo de dois sinos, estabelece uma (suposta) ambiguidade que suscita a curiosidade e (obviamente) uma observação (mais) atenta. O "adro" era de terra batida e, porque sobrelevado face à via pública, a ele se acedia por degraus de cobertor largo e nobre.

Que lhe fizeram? Foram ao "adro" e pavimentaram-no de granito, tornando "igual" o que – com razão –, era diferente – aquilo onde a Igreja assentava, o acesso ao Monumento e, finalmente, aquilo de que este é feito –; resultado: banalizaram o objecto e a sua isenção na paisagem. Foram aos degraus, encurtaram-lhes o cobertor e aumentaram-lhes o número: "vulgarizaram" um processo: o de aceder ao Monumento. À volta "plantaram" verdes de relva e brancos de calhau – que não sendo dali e adoçando o que era rijo, lhe subverte o sentido. No coroamento do muro, junto à rua, montaram uma protecção metálica que, fazendo "efeito de escada" e deixando livre um acesso por sobre a relva é, nem mais nem menos do que...ridícula.
Ficou "moderno (?)" e muito, muito mais "abstracto": cumpriu-se o desígnio dum Projectista; e o nosso? E o vosso Vouzelenses?



(Crónica publicada no JN Norte, em 16MAI07)

Arq.Pompílio Souto

a.rodrigues disse...

Achei oportuno enviar este artigo do m/amigo Arq. Pompílio Souto publicado no JN em 16/05/2007.

Luís Filipe disse...

Excelente postal CP!

Zé Bonito disse...

E excelente citação, A.Rodrigues. aliás, já aqui anteriormente referida. Estamos perante um caso que, infelizmente, tem feito "escola" por esse País fora: a arquitectura limitada a decoração de um espaço, no sentido mais fútil do termo "decoração".

Victor Azevedo disse...

Subscrevo o exposto no post bem como os comentários aqui expressos e aproveito, se para isso tiver a autorização e paciência do amigo, para transcrever um texto que publiquei em 26/5/2004 num meu anterior blogue, entretanto e há muito retirado da net por extinção do site hospedeiro (as fotos então ali publicadas não poderão aqui surgir por impossibilidade material):
"quarta-feira, 26 de maio de 2004
COMO É POSSÍVEL ?...

Vouzela e a sua região não são o meu berço natal mas, com interesses, familiares e amigos na região, visito a vila e todo o seu concelho e concelhos vizinhos com muita frequência e já me considero filho daquela linda região de Lafões. Assim, como é natural, acompanho, sinto e vibro com tudo o que por ali se passa como se fosse minha terra natal.
Foi por isso com grande indignação que tomei conhecimento através do Notícias de Vouzela, com uma notícia bem ilustrada com fotos, da grande borrada - borrada é a palavra mais decente que encontro para expressar a indignação que sinto... - produzida por um tal IPPAR, organismo estatal que é suposto ter de velar e conservar o património arquitectónico e histórico de Portugal, borrada que esses sujeitos fizeram no adro da Igreja Matriz de Vouzela.
A igreja, que data do século XIII, considerada monumento nacional, é pertença do Património Nacional e foi objecto de uma necessária recuperação arquitectónica que, não fora a população e os organismos locais, ainda resultaria em maior borrada já que os homens do IPPAR queriam rebocar (!)o granito do monumento. Parece mentira mas é verdade! Aqueles iluminados, queriam tapar o granito com cimento !...
Por dentro do edifício ainda ninguém viu o que lá fizeram - estamos todos impacientes, por razões obvias... - mas, por fora, impedidos que foram de acrescentar o rebôco, os iluminados acabaram com o lindo jardim envolvente do templo e, para além de outras horriveis alterações que operaram - imagine-se que acrescentaram granito polido ali no adro (!)... - Verdadeiramente incrível !... - deixaram todo o espaço práticamente amplo e despido, tendo até colocado gravilha no piso...
Penso que só resta à população, certamente indignada como está com esta borrada produzida, exigir que tudo seja reposto e que se volte a colocar no adro da Matriz o lindo jardim que ali tinhamos.
Sem querer ser mal educado - estou aqui a travar... a travar...os meus impulsos... - afirmo que esses sujeitos do tal IPPAR bem podem limpar as mãos à parede pela cag..., perdão!, pela borrada feita !...
Tomei a liberdade de copiar para aqui duas das fotos publicadas pelo jornal onde se vê como era o adro... e como ficou...
Nem dá para acreditar ! "E levanta-se um padeiro à meia noite...""