quarta-feira, junho 25, 2008

Guardadores de vacas sem direito a sonhos

"É preciso acarinhar quem aposta nesta actividade e mostrar aos jovens que até pode valer a pena. Quanto mais não seja como complemento"- César Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Queirã, JN, a partir daqui.

A afirmação foi proferida durante a 10ª Feira e Concurso Pecuário da Vitela de Lafões que, durante dez dias, se realizou na Giesteira. O objectivo era dar algum ânimo aos criadores, cada vez mais enredados no aumento dos preços de tudo e sem conseguirem encontrar meios para aumentarem o rendimento da actividade. A vitela, apesar de ser um dos nossos produtos de referência, teve uma quebra de produção de cerca de 50%.

O problema não é diferente de muitos outros que afectam o nosso mundo rural. Mas é nosso. A única "reforma agrária" que vingou em Portugal, foi a que resultou dos fundos europeus. Uns conseguiram-nos, outros não. Tudo ficou dependente do "engenho e da arte" de cada um, do seu dinamismo, organização e conhecimento dos "atalhos". Ter os amigos certos, também ajudou. Logo, foram beneficiados os que menos necessitavam de ajuda. Os outros, foram abandonados à sorte e à capacidade de resistência.

Com um conjunto de actividades de reduzida dimensão, muito viradas para a auto- subsistência, Portugal viu grande parte dos seus agricultores e criadores serem condenados ao abandono, muito mais do que à reformulação de procedimentos. Em grande parte do território (quase todo onde predomina o minifúndio), a única "reforma" foi a que resultou do êxodo. Os custos ambientais e sociais de tudo isto, nunca foram contabilizados, por isso, o resultado final tem sido apresentado como positivo.

Hoje, o ministro da Agricultura diz que não faltaram apoios. Só não diz quem os recebeu. Sobretudo, não diz- porque é um homem crente nas razões de Bruxelas e na infalibilidade do mercado- como teria sido importante que as autoridades nacionais e locais tivessem ajudado a um maior equilíbrio na sua distribuição, procurando alterar práticas e privilegiando objectivos de ordenamento do território.

Mas, é muito mais fácil carpir mágoas pelos diplomas universitários que não temos, por um povo que não somos e relegar para um futuro incerto a avaliação dos resultados. Só que o desespero das nossas gentes é sentido hoje, assim como as consequências do desordenamento e dos desequilíbrios na produção alimentar.

Por tudo isto, estamos com o presidente da Junta de Queirã no seu apelo à juventude. Resta saber se ela ainda por aqui anda, de modo a ouvi-lo...

4 comentários:

quink644 disse...

Sim, ainda há uma réstea de sonho, porém, se calhar em termos processuais, será só isso... Hoje está na moda, e parece-me que bem em termos gastronómicos, turísticos e comerciais as zonas DOC, começou no vinho e estendeu-se a muitos outros produtos que incleuem os bovídeos. Ora, a vitela de Lafões, é algo de profundamente enraízado na tradição gastronómica nacional, confesso não perceber nada de vacas nem, propiamente, do assunto, no entanto guardo as recordações dos sabores quae ainda hoje como, da boa vitela de Lafões... Porquê não lhe dar a merecida vénia e os senhores autarcas a promoverem como ex-libris semelhante à raça mirandesa, alentejana, ou o diabo?
Aqui fica a questão para quem saiba. Por mim, apenas posso dizer que uma vitela à Lafões (nas suas muitas apresentações) é um petisco régio...
Um abraço e... bom apetite!
quink644

quink644 disse...

Estou/estava a pensar inserir-vos nalista de blogues amigos do meu blogue pessoal porque acho que o merecem... ESpero que não venham a apanhar, por causa disso, nenhuma porrada, por isso preferia que me dissesses a tua opinião...
De qualquer das formas, antes de o fazer, esperarei por ela...
Um abraço
quink644

Zé Bonito disse...

"ESpero que não venham a apanhar, por causa disso, nenhuma porrada(...)".

Esta não percebemos (lol).
Quanto ao teu blogue, vemos que fazes parte do clube de admiradores da Dona Maria de Lurdes (também escrevemos por aí umas coisas sobre educação). Particularmente irónico o post sobre o "houveram". Ainda por cima em "brasileiro" (pré-acordo ortográfico, bem entendido). Força na crítica!

quink644 disse...

Perdão, por vezes, não se devem misturar as coisas.Uma coisa é a raiz cultural, etnológica, vivencial outra, e muito diferente, as experiências que extravasam esse campo dos nossos sonhos e lembranças. Não sei se quem procura o meu blogue e os blogues para onde escrevo perceberá isso... Convido-te a ires visitá-lo com calma e tempo para ler... Depois falamos... Quanto à Milú, acho que a vou pedir em casamento...
Um abraço,
quink644

Creio que tens o meu mail, senão aqui fica: quink644@yahoo.fr